Topo

Como WhatsApp foi de inimigo a queridinho das operadoras

O italiano Pietro Labriola, CEO da TIM Brasil - Patrick Rocha/Pinguim Pictures/Divulgação
O italiano Pietro Labriola, CEO da TIM Brasil Imagem: Patrick Rocha/Pinguim Pictures/Divulgação

Rodrigo Trindade

Do UOL, no Rio de Janeiro*

05/06/2019 12h02

Resumo da notícia

  • CEO da TIM Brasil admitiu que app foi encarado como concorrente, mas que hoje é ferramenta de marketing
  • App e redes sociais criaram a demanda por planos com foco em pacotes de dados
  • Executivo ainda explicou por que operadora está testando todos os fornecedores de 5G do mundo

Ele chegou do nada e arruinou uma das principais fontes de dinheiro de toda uma indústria. Esse foi o impacto do WhatsApp para as operadoras de telecomunicação, que lucravam bastante com as trocas de SMS, aquelas mensagens vendidas em pacotes ou cobradas individualmente quando você acionava um amigo pelo celular.

O impacto da chegada do app de bate-papo foi arrasador não só no Brasil, como no mundo todo. Anos depois dessa revolução, Pietro Labriola, executivo-chefe da TIM Brasil, refletiu na terça-feira (4), durante evento da operadora no Rio de Janeiro, como o conflito com o serviço de comunicação do Facebook foi marcante para as empresas de telecomunicações. Mas os tempos de disputa parecem ter acabado: hoje em dia, as operadoras oferecem uso ilimitado do app mais popular do Brasil. O executivo deu as declarações após apresentar um novo plano familiar de celular que conta justamente com WhatsApp ilimitado.

Operadoras em todos os lugares do mundo tentaram parar a inovação, o uso do WhatsApp. A verdade é que todas as operadoras perderam essa briga quando não conseguiram lançar uma modalidade user friendly, o MMS
Pietro Labriola, executivo-chefe da TIM Brasil

Eu zapo, tu zapas: como a vida mudou em 10 anos de WhatsApp

Leia mais
Labriola recordou como era tosco o MMS, uma espécie de SMS que enviava vídeos e imagens. Você tentava mandar o arquivo e, muitas vezes, ele não saía sequer do seu aparelho. Chegar ao celular de destino, então, era outro parto. Olhando para trás, o executivo da TIM diz que o relacionamento entre empresas como o WhatsApp e as operadoras era uma verdadeira competição. Isso, no entanto, se transformou em oportunidade para a oferta de planos de dados: "[A virada para os dados] Não teria acontecido sem os aplicativos".

Observando como as pessoas usam a internet -- mais mexem em redes sociais e no WhatsApp do que em outras funções do celular --, as operadoras começaram a oferecer planos de uso ilimitado de certos apps. Tal medida deu maior autonomia principalmente a quem contratava planos pré-pagos, pois essas pessoas passaram a se comunicar (e a se informar) como nunca antes.

Só que o uso gratuito vale apenas para o aplicativo com os quais as operadoras possuem um acordo comercial. Ou seja, navegar pela internet ou abrir links compartilhados nas redes sociais consome os preciosos dados de uma franquia muitas vezes limitada dos planos pré-pagos. Isso é apontado por especialistas como um motivo para a disseminação de fake news nestas plataformas. Os textos, vídeos e áudios que chegam pelo WhatsApp não podem ser nem questionados, já que o acesso a sites de notícias não funciona sob as mesmas regras de gratuidade.

Questionada sobre essa contradição, a TIM afirma que a disseminação de fake news não é uma de suas responsabilidades. "Hoje, o cliente gasta muito mais tempo nos aplicativos do que na navegação, ou em sites. Nós não podemos entrar na discussão de fake news porque somos o tubo [transmissor]", explicou Labriola.

Já Mario Girasole, vice-presidente de assuntos regulatórios e institucionais da operadora, completou: "Essa questão de fake news, que é enorme, não são as operadoras que podem fazer [o combate]. Agora, se chega uma ordem de autoridades judiciais para que alguns sites sejam inacessíveis, nós temos os instrumentos para fazer isso. Mas somos meios para atingir esse tipo de higienização. Não somos nós que podemos atuar nesse sentido, porque não temos nem essa finalidade nem esse propósito."

Presidente da Anatel diz: ou conexão de ponta para poucos ou serviço meia-boca para todos

Leia mais

Experimentos com 5G

Labriola também explicou como a TIM acompanha o conflito comercial entre Estados Unidos e China, que respinga na Huawei, empresa chinesa de telecomunicações que é uma das mais avançadas no mundo em tecnologias relacionadas ao 5G. Para fugir das eventuais consequências negativas desse embate, a empresa brasileira testa em território brasileiro tanto os equipamentos da Huawei quanto de outras companhias do ramo.

O que acontece é que nós lançamos um teste com todos os fornecedores. Isso nos permite, aguardando qual vai ser a solução desse problema, de fazer nosso papel de testar a tecnologia, seja com Huawei, Nokia ou Eriksson, para estar preparado para quando o 5G chegar
Pietro Labriola, executivo-chefe da TIM Brasil

Ele ainda fez um alerta sobre infraestrutura que aflige todo o setor das operadoras de telefonia. O executivo explicou que são necessárias mais antenas para disponibilizar um serviço de melhor qualidade na frequência 4G, que ainda não é o ideal no país. "Se hoje já temos um problema com as antenas, este vai ser amplificado com o 5G", concluiu.

*o jornalista viajou a convite da TIM