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Sociedade 5.0: vamos conviver de boa com robôs, só precisamos abrir a mente

O próximo passo é usar toda a tecnologia disruptiva para garantir bem-estar social - Getty Images
O próximo passo é usar toda a tecnologia disruptiva para garantir bem-estar social Imagem: Getty Images

Fernanda Durante

Colaboração para Tilt, em São Paulo

19/08/2019 04h00

Robôs assistentes, carros que andam sozinhos e eletrodomésticos espertos já não são coisa de um futuro distante. Apesar dos temores, a tecnologia trabalha cada vez mais a favor da humanidade, e isso até ganhou um nome: Sociedade 5.0 --ou Sociedade Super Inteligente. Nela, a humanidade é o centro dos avanços tecnológicos e econômicos, mas as máquinas estão ao nosso lado para nos dar aquela mãozinha.

Em outras palavras, a Sociedade 5.0 utiliza as conquistas da Revolução 4.0 para aumentar a qualidade de vida, a vitalidade, o conforto das pessoas e a preservação do ambiente. O avanço tecnológico deixa de acontecer apenas para desenvolver outras ferramentas mais eficientes (e lucrativas) e passa a mirar nosso bem-estar.

Assim como na Revolução Industrial, a Revolução 4.0 provocou mudanças abruptas na sociedade pela incorporação de novas tecnologias. Os processos tornam-se conectados, adaptáveis e eficientes com a ajuda de técnicas disruptivas:

  • robótica
  • inteligência artificial
  • internet das coisas
  • realidade aumentada
  • big data (análise de volumes massivos de dados)
  • nanotecnologia
  • impressão 3D
  • biologia sintética

O próximo passo é alcançar um estágio de harmonia entre o homem e a máquina para solucionar problemas sociais e globais, aprimorando sistemas que ajudem na mobilidade urbana, saúde, agricultura, educação e outras áreas da nossa vida.

Já aprendemos na Sociedade da Informação [4.0] que somente a tecnologia, comunicação ou informação não são capazes de resolver todos os problemas. Para alcançarmos a Sociedade Super Inteligente, é preciso ter um equilíbrio e entender que as máquinas são apenas ferramentas que tornarão nossas vidas melhores
Juliano Heinzelmann Reinert, professor de engenharia de produção e automação industrial

robo japao - Kim Kyung-Hoon/ Reuters - Kim Kyung-Hoon/ Reuters
Idosa segura robô Paro no asilo Suisyoen, no Japão, país que investe na tecnologia para trazer bem-estar
Imagem: Kim Kyung-Hoon/ Reuters

Japão na dianteira

O conceito de Sociedade 5.0 surgiu no Japão, em 2016. Não à toa: o país já vive de perto uma interação mais avançada entre robôs e humanos e vê nas máquinas um papel secundário de suporte para obter maior eficiência e diminuição de erros.

Na Hannover Messe de 2017, maior feira de tecnologia industrial do mundo, na Alemanha, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, levantou pela primeira vez o debate. "Estamos vivendo o início do quinto capítulo. Conseguimos encontrar soluções que eram inimagináveis até pouco tempo atrás. Esta é uma era onde tudo está conectado e todas as tecnologias estão se convergindo, é o início da Sociedade 5.0", disse.

Desde então, o Japão encabeça o movimento e investe em projetos para tornar-se o primeiro do mundo a alcançar essa sociedade centrada no humano, mas integrada profundamente às tecnologias de ponta. Especialmente quando o assunto são os idosos.

Não é difícil encontrar pelas ruas japonesas exemplos dessa mudança. O robô humanoide Aiko Chihara, por exemplo, é a recepcionista das lojas de departamento Mitsukoshi, em Tóquio, que informa aos clientes as principais ofertas do dia e os eventos que ocorrem no estabelecimento.

Mais famoso ainda é o humanoide Pepper, o robô criado pelo fundo japonês Softbank e usado por empresas nas áreas de varejo, hotelaria e entretenimento de países da Ásia, Europa e América do Norte. Disponível para venda nos EUA, o robô custa cerca de R$ 6.796 e é capaz de responder perguntas feitas pelos humanos.

Também temos os carros autônomos, que são mais atuais que nunca e recebem altos investimentos de montadoras como Tesla, BMW, Volvo e empresas de tecnologia como Google e Apple. O esperado é que eles circulem pelas ruas em 2020.

Com os carros que dirigem sozinhos, podemos evitar as falhas humanas, que são responsáveis pela maioria esmagadora dos acidentes de trânsito. Segundo estudo da Intel, entre os anos de 2035 e 2045 mais de 585 mil vidas poderão ser salvas graças aos veículos inteligentes, que contarão com visão 360º e inteligência artificial para interpretar relevos, placas, calçadas, semáforos e rotas.

Outro campo que tem tudo para ser dominado pelas máquinas inteligentes é o da saúde, com monitoramento em tempo integral e detecção precoce de doenças por meio de sensores.

Já existem pesquisas sendo feitas para que, no futuro, nossos órgãos sejam produzidos artificialmente. Cientistas estudam a bioimpressão 3D de pele humana, caminham para obter uma miniatura de coração feita com tecido humano impresso e avançam com a pele eletrônica que se cura sozinha. Os minicérebros, criados por brasileiros, se unem a organoides de intestino, rins, testículos, pâncreas, pulmão e olhos para dar pistas dos caminhos que devem ser tomados pelas pesquisas.

Mas a sociedade super inteligente também passa pela agricultura de alta produtividade, pela automatização inteligente de processos e tomadas de decisão (para jornalistas e advogados, por exemplo) ou até no rápido atendimento a desastres naturais com drones e apps e na construção de casas com impressora 3D, sem a necessidade de operários ou especialistas.

Pesquisadores trabalham ainda em várias frentes para criar alimentos em laboratório, numa tentativa de minimizar drasticamente os danos causados pela crescente população ao meio ambiente.

pepper - Kim Kyung-Hoon/ Reuters - Kim Kyung-Hoon/ Reuters
Humanoide Pepper, da SoftBank, que é capaz de ler emoções e interagir com humanos
Imagem: Kim Kyung-Hoon/ Reuters

Humanos em simbiose com as máquinas

Segundo o Fórum Econômico Mundial, até 2020, a automação deve eliminar sete milhões de empregos industriais nos 15 países mais desenvolvidos. Então, uma das grandes preocupações trazidas pela Sociedade 5.0 é a mudança de algumas funções de trabalho.

No entanto, os entusiastas do novo modelo social entendem que as funções passarão a ser realizadas de forma simbiótica, ou seja, o homem faz suas atividades em parceria com a máquina e os sistemas, evitando assim os erros e aumentando a eficiência. Por exemplo: a máquina analisa milhares de dados e retorna a informação para ajudar na decisão do ser humano.

O relatório indica que um em cada quatro empregos conhecidos hoje deverá ser substituído por softwares e robôs até 2025. Mas que 65% das crianças que hoje entram nas escolas irão trabalhar em funções que atualmente não existem.

Situações como essa poderão ocorrer em qualquer profissão e, com isso, entrou em pauta um termo chamado "profissionais do futuro". Ele traz novas áreas do mercado de trabalho e exige dos seres humanos habilidades que as máquinas não podem exercer como: comunicação, gestão, estratégia, adaptabilidade, criatividade, inovação, programação, entre outras.

"É preciso entender que o mundo é uma evolução constante. Quando tivemos uma mudança da máquina de escrever para o computador, muitas pessoas foram resistentes no começo, mas tiveram que se adaptar, porque sabemos que o computador é mais eficiente", defende Reinert.

"Estou convencido de uma coisa - que no futuro, o talento, mais do que o capital, vai representar o fator crítico de sucesso da produção", diz o professor alemão Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, no livro "A Quarta Revolução Industrial", de 2016.

Brasil se destaca na agricultura

A Sociedade 5.0 não caminha com tanta agilidade no Brasil, como acontece na Alemanha e no Japão. Ainda é preciso mais investimento e uma aplicação das ferramentas certas para chegarmos onde queremos. Mas existe um setor que já está utilizando a tecnologia a seu favor e tendo ótimos resultados com isso: o da agricultura.

Sensores, aplicativos, robótica e Internet das Coisas (IoT) têm facilitado a vida no campo e permitido que o Brasil ganhe mais reconhecimento na área. Como resultado, tivemos um aumento no saldo comercial do agronegócio, que atingiu US$ 81,86 bilhões. Além disso, estamos no topo do ranking de exportadores de soja.

Os tratores agrícolas distribuídos pela empresa alemã Fendt, controlados remotamente por telemetria, são um exemplo de inovação na lavoura. Eles permitem a conexão de dois veículos por sinais de GNSS (Sistema de Navegação Global por Satélite), e isso faz com que eles se sigam a uma distância segura. Se antes, era necessário um motorista para cada máquina, hoje, apenas um consegue conduzir duas ao mesmo tempo.

A agricultura de precisão tem como um de seus pilares a Internet das Coisas (IoT). Por meio da conexão de diversos aparelhos, o trabalhador do campo consegue ter acesso a uma rede de informações que inclui localização geográfica, previsões meteorológicas, dados do solo e das máquinas em atividade. Esses dados permitem que ele tome decisões mais precisas, rápidas e que impactam diretamente no seu resultado.

"O Brasil é um país promissor e com muito potencial. Já estamos evoluindo por aqui, mas há também a necessidade da mudança da mentalidade das pessoas. Elas precisam entender que a tecnologia e a educação são muito importantes para o desenvolvimento da nossa sociedade", acredita Reinert.

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