Igreja da ilha de Giglio tem relicário para lembrar a tragédia

Em Giglio

 

Mantas térmicas, coletes salva-vidas, cordas: o pároco da ilha de Giglio preparou um relicário na porta da pequena igreja do porto para que ninguém esqueça o "desastre mortal" do Costa Concordia.

"Eu decidi colocar tudo em uma caixa como lembrança desta noite, de maneira que a população local e os visitantes nunca esqueçam do desastre mortal que atingiu a ilha de Giglio", explicou à l'AFP o padre Lorenzo Pasquotti.

Hoje, "alguns vêm para rezar, outros para prestar homenagem ao relicário perto do altar, onde estão os plásticos laranjas utilizados para aquecer os sobreviventes, os salva-vidas, as cordas e os capacetes", disse.

Na noite da catástrofe, sexta-feira passada, a igreja serviu de abrigo para centenas de passageiros molhados, cansados e traumatizados.

"Eu tinha fechado a igreja um pouco tarde quando um dos meus paroquianos me pediu para voltar com urgência ao porto. Não tinha acontecido nenhuma explosão, nada de terremoto, mas o espetáculo era devastador", recorda o padre que imediatamente abriu a igreja.

"Milhares de passageiros chegaram em botes salva-vidas ao porto e centenas deles foram diretamente para a igreja. Nós recebemos pelo menos 420 pessoas exaustas e em estado de choque", prosseguiu.

"Eles entravam todos ao mesmo tempo para o interior da igreja, protegendo-se do vento, alguns enrolados em sacos plásticos, outros com seus coletes salva-vidas. Alguns começaram a rezar, muitos se apertavam uns contra os outros para se esquentarem", contou Lorenzo, 62 anos, padre desta paróquia há três meses.

Acolhendo primeiro as famílias com crianças e passageiros idosos, que chegaram nos primeiros botes, o padre trouxe cobertores, túnicas e bebidas quentes. Levou para sua própria casa muitos sobreviventes que enviaram e-mails para suas famílias.

"Alguns estavam completamente sozinhos, outros se agruparam de acordo com sua língua. As perguntas eram terríveis e eu não tinha resposta: 'Onde está minha mulher?, Você viu um homem loiro vestido de verde? Todo mundo sobreviveu?'", disse.

Até o momento, 11 corpos foram encontrados e mais de 20 pessoas ainda estão desaparecidas.

"Tinha um padre católico do Costa Concordia e um outro que era passageiro, eu pedi que eles me ajudassem para distribuir toalhinhas bordadas com a imagem da Virgem Maria para que as pessoas se sentassem em algo quente", acrescentou o padre.

"Os últimos que desceram eram tripulantes que, sem dúvida, trabalhavam em cima das pontes principais porque vestiam shorts e camisas. Demos para eles as roupas das crianças do coral", continuou o religioso.

A população local, jovens e idosos sem distinção de idade, foi para o porto para ajudar, trazendo garrafas de água ou bebidas quentes, cozinhando ou abrindo as casas para abrigar os sobreviventes.

"Era o caos no porto. Em certo momento eu conversei com uma jovem russa que fugiu do navio com sapatos de veludo vermelho e salto alto", contou o padre. "Ela me contou que era dançarina, estava muito elegante no meio de tanta confusão..." 

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