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Nelson Mandela completa quatro dias no hospital para tratar infecção pulmonar

Em Johannesburgo

11/06/2013 18h56

O ex-presidente sul-africano Nelson Mandela permanecia internado nesta terça-feira (11), pelo quarto dia, na unidade de terapia intensiva para tratar uma infecção pulmonar.

Mandela, 94, foi internado no sábado em um hospital de Pretória. Seu estado de saúde é grave, mas estável, segundo fontes do governo.

A notícia da internação foi recebida com orações e uma crescente aceitação entre os sul-africanos de que o herói da luta contra o Apartheid pode estar em seus últimos dias de vida.

Ainda há poucas informações sobre seu estado de saúde, mas é conhecido o histórico de problemas pulmonares de Mandela desde que foi diagnosticado com uma tuberculose em 1988.

"Está recebendo tratamento intensivo", declarou na segunda-feira Mac Maharaj, porta-voz do atual presidente, Jacob Zuma, que ficou preso ao lado de Mandela no período do governo segregacionista.

"Permanece no hospital, e seu estado não mudou", destacou a presidência, acrescentando que "os médicos estão fazendo todo o possível para curar Madiba".

"Estável significa que não está nem melhor nem pior, quer dizer que seu estado não mudou", insistiu o porta-voz.

"Lamento muito não poder dar mais detalhes", acrescentou Maharaj.

Alegando sigilo médico, ele não quis confirmar se Nelson Mandela já consegue respirar sem a ajuda de aparelhos.

Na segunda-feira à noite, Zuma se reuniu pessoalmente com a equipe médica que está cuidando de Mandela em uma clínica particular de Pretória. Os médicos lhe deram "um informe detalhado", completou a presidência.

"Sabem o que estão fazendo e estão fazendo um trabalho muito bom", declarou Zuma, em pronunciamento na televisão nesta terça. "É muito sério, mas está estabilizado. Todos rezamos para que se recupere rapidamente", acrescentou.

Apesar do desanimador boletim médico, Zuma não cancelou as atividades previstas em sua agenda. De acordo com sua assessoria, ele está na Cidade do Cabo, nesta terça, onde prepara o discurso de apresentação do orçamento que fará no Congresso nesta quarta-feira.

Esta é a quarta hospitalização de "Madiba" nos últimos sete meses, um homem que é considerado um símbolo mundial da paz e do perdão, assim como o pai da nação.

A ex-esposa de Mandela, Winnie Madikizela-Mandela, voltou a visitar o ex-presidente nesta terça, pelo segundo dia consecutivo. Suas três filhas também foram ao hospital. Sua mulher atual, Graça Machel, está ao seu lado desde que foi internado, de acordo com a imprensa sul-africana.

A segurança foi reforçada ao redor do Mediclinic Heart Hospital em Pretória. A polícia cercou o perímetro próximo da entrada e está registrando os veículos e pedestres que circulam pela área.

"A polícia está ali para proteger os membros da família que o visitam", disse à AFP a delegada de Sunnyside, confirmando pela primeira vez, de maneira indireta, que Mandela está sendo tratado nesse estabelecimento.

No final de abril, o presidente Zuma e os principais líderes do partido no poder (Congresso Nacional Africano, CNA) foram fotografados com um Mandela que parecia extremamente frágil em sua casa, em Johannesburgo.

O CNA, que disputará eleições em 2014, perdeu grande parte do prestígio transmitido por Mandela, devido às inúmeras acusações de corrupção, pelo aumento da pobreza e pelas deficiências dos serviços públicos.

O partido e o governo desmentiram que os familiares de Mandela tenham proibido sua visita ao hospital. O porta-voz Maharaj afirmou que Zuma irá ver o líder quando for o momento adequado.

"O presidente tem intenção de visitá-lo. Sua postura é deixar, primeiro, que a equipe médica tenha todo o espaço necessário para atendê-lo e, depois, deixar que seus entes queridos mais próximos possam ter acesso a ele", explicou.

Mandela voltou a ser internado após receber alta por um longo tratamento de pneumonia. Não é visto em público desde a final da Copa do Mundo na África do Sul, em julho de 2010. Há muito anos, deixou de ter atividades políticas.

A prolongada ausência de Mandela da vida pública forçou o país que o idolatra a refletir sobre o que significará a democracia multirracial obtida com tantas lutas sem o homem que a forjou.

"Acho que haverá preocupação fora da África do Sul, porque Mandela é considerado como a 'liga' que mantém a África do Sul unida", disse à AFP o analista Daniel Silke, acrescentando, porém, que "isso é algo que já acabou faz tempo".