Partidários do presidente egípcio denunciam golpe de Estado militar

CAIRO, 03 Jul 2013 (AFP) - Os partidários do presidente Mohamed Mursi acusaram nesta quarta-feira o Exército de tramar um golpe de Estado, após a expiração do ultimato do Exército ao chefe de Estado e depois de Mursi e outros dirigentes islamitas terem sido proibidos de deixar o Egito.

O ultimato lançado pelas Forças Armadas do Egito ao presidente Mohamed Mursi para que "satisfaça as reivindicações do povo" expirou nesta quarta-feira às 14h30 GMT (11h30 de Brasília).

Em todo o país, manifestações em massa organizadas por opositores e partidários de Mursi continuam, o que aumenta o medo de novos confrontos entre anti e pró-Mursi, que já causaram 47 mortos e deixaram centenas de feridos desde 26 de junho.

O Exército mobilizou seus blindados para acompanhar os protestos a favor de Mursi no Cairo, segundo um correspondente da AFP.

Esta é a disputa mais séria entre o Exército e o presidente desde sua chegada ao poder em junho de 2012, no momento em que o país está profundamente dividido.

Enquanto isso, a imprensa egípcia indicou que o líder opositor Mohamed ElBaradei, o patriarca copta Tawadros II e o grão-imã Ahmed al-Tayeb de Al-Azhar, principal autoridade sunita do Egito, anunciarão um "mapa do caminho" que prevê uma "curta" transição antes da realização de eleições.

Segundo os meios, este projeto prevê a nomeação de um conselho presidencial de três pessoas, dirigido pelo presidente da Alta Corte Constitucional, e a suspensão da Constituição por um prazo máximo de um ano.

Os militares egípcios assumiram o Executivo em um polêmico governo interino que manteve as rédeas do país entre a queda do presidente Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011, e a chegada de Mursi, primeiro presidente civil e islâmico do Egito ao poder.

A oposição acusa o presidente de querer instaurar um regime autoritário em favor da Irmandade Muçulmana, movimento ao qual pertence.

"Pelo bem do Egito e pela exatidão histórica, vamos chamar o que está acontecendo por seu verdadeiro nome: golpe de Estado militar", afirmou o conselheiro de Mursi para a segurança nacional, Essam al-Haddad, em um post no Facebook.

"Enquanto escrevo estas linhas, tenho a consciência de que poderão ser as últimas linhas que publicarei nesta página", acrescentou Haddad.

Pouco antes deste anúncio, uma fonte da segurança afirmou que Mohamed Mursi e outros dirigentes islamitas estão proibidos de deixar o Egito.

Funcionários aeroportuários confirmaram à AFP que haviam recebido ordens de impedir que estes dirigentes, incluindo Mursi, o líder da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie, e o número dois do movimento, Jairat al-Shater, saiam do país.

O Exército ainda não se pronunciou desde a expiração do ultimato. Mas, segundo o jornal Al-Ahram, os militares poderão nomear um conselho presidencial dirigido pelo presidente da Suprema Corte Constitucional e suspender a Constituição.



====Reforços do Exército====



No momento em que expirava o ultimato, o presidente egípcio convocou a formação de um "governo de coalizão e consenso" a fim de organizar as próximas eleições legislativas.

Terça-feira à noite, ele havia rejeitado do ultimato e afirmado que não se curvaria a nenhuma imposição, ressaltando a sua legitimidade adquirida por meio de uma eleição democrática.

No início do dia, o chefe do Exército egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, se reuniu com o representante da oposição, Mohamed ElBaradei, o patriarca copta Tawadros II e o imã da grande instituição teológica sunita de Al-Azhar, Ahmed al-Tayeb, e militantes do movimento jovem anti-Mursi. Mas os representantes de partidos islamitas não responderam ao convite.

Enquanto o Ministério do Interior egípcio advertiu que responderá firmemente a qualquer tipo de violência, em um comunicado emitido duas horas antes da expiração do ultimato imposto pelo Exército ao presidente, o Exército reforçou a segurança nos arredores dos prédios oficiais e pediu aos funcionários administrativos da televisão estatal que deixassem seus escritórios.

Os Estados Unidos consideraram nesta quarta que o discurso do presidente egípcio não deu "sinais significativos" para resolver a crise em seu país, uma situação que deixa os Estados Unidos "muito preocupados".

"Sentimos que houve uma carência de sinais significativos por parte do presidente Mursi", disse a porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki. "Continuamos muito preocupados com o que vemos no Egito", acrescentou.

Por outro lado, Washington acredita que Mursi "deveria fazer mais" para atender às preocupações do povo egípcio, disse Psaki à imprensa, lembrando que os atos são mais fortes do que as palavras.

Psaki disse que a proposta de Mursi de um governo de união "já tinha sido formulada no passado", e que muitos no Egito consideraram essas declarações insuficientes.

Milhares de pessoas se reuniram em frente ao ministério, agitando bandeiras e cantando "Egito, Egito!" ou "Saia!" ao presidente Mursi.

"Espero apenas uma coisa, que Mursi saia", afirmou Abdel Khalek Abdo, um agricultor de 56 anos vindo do delta do Nilo.



===O fim====



As grandes avenidas da capital, normalmente engarrafadas, estão praticamente vazias, já que muitos egípcios optaram por ficar em casa por medo da violência.

"Estou preocupado, o futuro de meu país será decidido nos próximos minutos", lamentou um motorista de táxi.

Na emblemática Praça Tahrir, dezenas de milhares de manifestantes que exigem a renúncia do presidente se aglomeram desde o início da tarde.

"Repetiu pelo menos mil vezes a palavra legitimidade, como se nós não existíssemos. A legitimidade depende do povo, que hoje protesta em todos os lados contra ele", disse Ruaya, uma manifestante de 19 anos que usava o véu islâmico.

Manifestações contra Mursi também eram registradas em cidades como Alexandria (norte) e Port Said, no Canal de Suez.

Na praça Rabaa al-Adaouiya, no Cairo, e em Nasr City, as manifestações dos partidários do presidente também não perderam força.

Desde o início dos protestos, no domingo, foram registrados quase 100 casos de agressões sexuais na Praça Tahrir e seus arredores, denunciou a organização Human Rights Watch (HRW).

Muitos jornais estamparam em sua manchete em letras garrafais: "O fim".

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