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Primeira encíclica escrita por dois papas pede a fiéis para "não serem arrogantes"

O papa emérito Bento 16 (à esq.) é recebido pelo papa Francisco para a inauguração de uma estátua - L"Osservatore Romano/AP
O papa emérito Bento 16 (à esq.) é recebido pelo papa Francisco para a inauguração de uma estátua Imagem: L'Osservatore Romano/AP

Na Cidade do Vaticano

05/07/2013 11h06

A primeira encíclica da história escrita "a quatro mãos" por dois papas, Francisco e Bento 16, com o título "Lumen fidei" ("A luz da fé"), foi apresentada nesta sexta-feira (5) pelo Vaticano.

Iniciada por Bento 16, este texto de 85 páginas foi retomado, completado e assinado por Francisco.

Francisco afirma que a fé é "o bem comum" e reitera a oposição do Vaticano ao casamento gay. Ele também argumenta que a fé continua a ser relevante, frente ao sentimento generalizado, principalmente nas sociedades ocidentais, de que é uma coisa do passado, uma "ilusão". O papa defende o contrário, que a fé ilumina "o presente".

Neste texto, o papa faz um apelo aos fiéis para que "não sejam arrogantes", mas "abertos ao diálogo", incluindo com aqueles que não creem. "A fé não é intransigente, ela cresce em um ambiente de convivência de respeito ao outro".

A carta papal, dirigida tanto aos bispos e religiosos de todo o mundo como aos laicos, dedica o quarto capítulo à relação entre a fé e o bem comum.

Esta é a primeira encíclica da história do catolicismo escrita por dois pontífices, já que Bento 16 iniciou a redação antes de renunciar ao pontificado em fevereiro.

Ao texto original elaborado pelo papa emérito, Francisco acrescentou "algumas contribuições", declarou o Vaticano.

"Ele havia completado praticamente uma primeira redação desta Carta encíclica sobre a fé. Eu agradeço a ele de coração e, na fraternidade de Cristo, assumo seu precioso trabalho, acrescentando ao texto algumas contribuições", afirma Francisco na introdução.

Os dois pontífices se encontraram na manhã desta sexta, nos jardins do Vaticano durante a inauguração de uma nova estátua de bronze do arcanjo São Miguel.

Jorge Bergoglio (Francisco) abraçou com afeição Joseph Ratzinger (Bento 16), que o convidou pessoalmente a esta cerimônia, uma maneira de homenagear o dia da publicação da encíclica.

Nenhuma divergência doutrinária separa os dois papas que coabitam no pequeno Estado.

A encíclica, considerada o documento mais importante que um papa escreve durante o pontificado, foi traduzida para vários idiomas, entre eles espanhol, italiano, francês, inglês, alemão e português, e é uma ampla reflexão sobre a fé no mundo moderno.

Nela o Vaticano reitera que o casamento é a "união estável entre um homem e uma mulher".

Esta união "nasce do amor (...), do reconhecimento e aceitação deste bem que é a diferença sexual pela qual os cônjuges podem se unir em uma só carne e são capazes de gerar uma nova vida", escreve o papa em uma nova rejeição categórica ao casamento gay.

A encíclica também rejeita o fundamento da laicidade, afirmando que "a fé não é algo privado, um conceito individual ou uma opção", mas "um bem para todos, um bem comum". "A tendência de confinar a fé à vida privada é rejeitada pacificamente, mas de maneira definitiva", revelou o cardeal Marc Ouellet na apresentação.

No texto também são tratados temas como a "solidariedade", "a justiça, o direito, a paz", "a fraternidade universal" e a fé que "não nos deixa esquecer os sofrimentos do mundo".

"A fé [...] torna forte os laços entre os homens e se põe a serviço concreto da justiça, do direito e da paz" e "não é alheio ao compromisso concreto do homem contemporâneo", escreveu o papa.

"Este texto tem muito do papa Bento e tudo do papa Francisco", resumiu o arcebispo Rino Fisichella, presidente do conselho pontifício para a Promoção da Nova Evangelização.