Papa conclui viagem à Terra Santa com apelo ao diálogo interreligioso

Em Jerusalém

O papa Francisco pediu nesta segunda-feira (26) em Jerusalém o diálogo entre judeus, cristãos e muçulmanos, em seu último dia de visita à Terra Santa, uma peregrinação permeada por tensões políticas.

Com uma agenda intensa e com grande carga simbólica, o pontífice visitou a Esplanada das Mesquitas, terceiro local sagrado do islamismo, e o Muro das Lamentações, um dos mais sagrados da religião judaica.

Recebendo o sumo pontífice, o presidente israelense Shimon Peres aceitou seu convite lançado no domingo para uma prece comum pela paz com o presidente palestino Mahmoud Abbas no Vaticano.


Pouco antes, diante do grande grande mufti de Jerusalém, que o recebeu na mesquita, Francisco convidou cristãos, muçulmanos e judeus a serem "agentes da paz e da justiça".

O papa se dirigiu às pessoas e comunidades "que se reconhecem em Abraão", ou seja, as três religiões monoteístas.

"Minha peregrinação não seria completa se não incluísse também o encontro com as pessoas e as comunidades que vivem nesta terra e por isto fico feliz de poder estar com vocês, amigos muçulmanos", disse o papa ao líder religioso islâmico, Mohamed Hussein.

"Respeitemos e amemos uns aos outros como irmãos e irmãs", concluiu o papa no terceiro e último dia de sua visita a Terra Santa.

Depois ele caminhou por um quilômetro e rezou em silêncio por vários minutos diante do Muro das Lamentações, um dos locais sagrados para a religião judaica.

O papa colocou as mãos sobre o Muro e deixou uma mensagem entre as pedras, como é tradição entre os judeus.

Francisco foi recebido no local pelo grande rabino.

Homenagem às vítimas do Holocausto


Como os antecessores, João Paulo 2º (2000) e Bento 16 (2009), Francisco colocou um envelope entre as pedras do Muro, vestígio do Segundo Templo de Jerusalém.

O envelope continha o Pai Nosso em espanhol, revelou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.

A agenda de Francisco incluiu uma visita ao cemitério nacional de Israel, onde depositou uma coroa de flores no túmulo do fundador do sionismo, Theodor Herzl, uma homenagem que nenhum papa havia feito até agora e que irritou os palestinos.

Arte UOL
Visita do papa à Terra Santa


Fora do programa, o pontífice também visitou o monumento em homenagem às vítimas civis de atentados em Israel.

Um gesto realizado a pedido do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e que equilibra outro gesto que surpreendeu no domingo: tocar com as mãos o 'muro da vergonha', que separa Israel dos territórios palestinos.

Em todos os rituais, Francisco teve a companhia de dois amigos e compatriotas argentinos, o rabino Abraham Skorka e o professor muçulmano Omar Abboud.

O papa visitou em seguida o Memorial de Yad Vashem, que recorda os seis milhões de vítimas do Holocausto cometido pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

"Senhor, nosso Deus, salve-nos desta monstruosidade", disse, antes de beijar as mãos de seis sobreviventes do horror nazistas.

Com o ritmo de uma oração, cercado pelas enormes pedras do imponente monumento, o pontífice condenou a "incomensurável" tragédia do holocausto.

O chefe da Igreja Católica também defendeu ante as autoridades israelense um livre acesso dos Locais Sagrados, ao mencionar um dos temas de divergência entre o Vaticano e Israel.

Apesar das formalidades e cortesias com o pontífice, as autoridades israelenses aprovaram nesta segunda-feira a polêmica construção de 50 novas residências em um assentamento próximo a Belém.

Uma resposta indireta à denúncia de domingo do líder palestino Mahmud Abbas ao papa sobre a operação para "mudar a identidade e o caráter" de Jerusalém Oriental.

A Cidade Antiga de Jerusalém, que contém monumentos sagrados para as três grandes religiões, fica na parte que a ONU não reconhece dentro dos limites de Israel.

A visita papal terminou com uma missa no Cenáculo, onde segundo a tradição cristã aconteceu a Última Ceia de Jesus com os apóstolos, lugar que abriga também o túmulo do rei David, considerado sagrado pelos judeus.

Durante esta missa privada, Francisco manteve seu habitual discurso carregado de emoção na presença dos líderes das dioceses e ordens religiosas da Terra Santa, aproveitando o momento para apresentar a ideia da família.

A Igreja deve ser uma "nova família", desejou, insistindo na "fraternidade" e "amizade".


"O Cenáculo nos faz lembrar a partilha, a fraternidade, a harmonia, a paz entre nós. Muito amor, muita felicidade jorram do Cenáculo! Apenas caridade sai daqui, como um rio desde a sua nascente", disse o pontífice.

"Todos os santos saíram daqui. O grande rio da santidade da Igreja sempre tem sua origem aqui, de novo e de novo, do Coração de Cristo, sa Eucaristia, de Seu Espírito Santo".

Francisco, que pronunciou 14 discursos e homilias em três dias, evitou de modo geral improvisar, o que é seu costume.

O primeiro papa latino-americano, conhecido pelos gestos e propostas inovadoras, retornou a Roma com a promessa do presidente israelense Shimon Peres e do líder palestino Mahmud Abbas de uma reunião - provavelmente em 6 de junho - para orar pela paz no Oriente Médio sob a Cúpula de São Pedro.

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