Ucrânia, mergulhada no conflito armado, enfrenta agora crise política

Em Kiev

As autoridades pró-ocidentais da Ucrânia, que enfrentam uma insurreição separatista pró-russa no leste, tentavam nesta sexta-feira (25) resolver uma inesperada crise política provocada pela renúncia do primeiro-ministro Arseni Yatseniuk.

Esta renúncia, que deve ser aprovada pelo Parlamento para se tornar efetiva, provocou uma divisão dentro da equipe que dirige a Ucrânia, um país que atravessa o período mais dramático de sua história desde que se tornou independente da União Soviética, em 1991.

Crise na Ucrânia
Crise na Ucrânia

O primeiro-ministro apresentou sua renúncia após a dissolução da coalizão governista do Parlamento, o que abre caminho para eleições legislativas antecipadas, algo que o presidente ucraniano Petro Poroshenko desejava, mas que foi taxado por Yatseniuk como um crime que terá consequências dramáticas para a Ucrânia.

Poroshenko pediu que o Parlamento não aprove a renúncia de Yatseniuk e de seu governo e solicitou um voto de confiança.

"A dissolução da coalizão não é uma razão para que o governo renuncie (...) Espero que as emoções se acalmem, que a cabeça fria e o senso de responsabilidade prevaleçam e que o governo siga trabalhando", disse.

Segunda frente

A renúncia do primeiro-ministro, seja aprovada ou não, mancha a imagem das autoridades ucranianas, que precisam enfrentar uma insurreição armada no leste do país, uma situação econômica desastrosa e as consequências da queda de um avião comercial malaio na zona rebelde.

O partido Batkivschina de Yulia Tymoshenko, do qual Yatseniuk é membro, denunciou nesta sexta-feira perante o Parlamento "a abertura de uma segunda frente" dentro do país, num momento em que as tropas ucranianas tentam frear há três meses uma insurreição separatista pró-russa.

As hostilidades deixaram cerca de mil mortos no leste do país, entre eles 398 passageiros de um avião da Malaysia Airlines derrubado por um míssil em uma zona controlada pelos insurgentes.

"Entre a paz e o caos, a Ucrânia escolhe infelizmente o caos político", afirmou Batkivschina.

Ganna Guerman, deputada do Partido das Regiões (pró-russo), do ex-presidente Viktor Yanukovytch, considerou nesta sexta-feira que a situação começava a se parecer com os intermináveis conflitos políticos da equipe pró-ocidental após a Revolução Laranja de 2004.

À espera de um voto no Parlamento, o governo nomeou o vice-primeiro-ministro encarregado das regiões Volodymyr Groismann como primeiro-ministro interino.

100 mil deslocados e 130 mil refugiados

Enquanto as autoridades tentam resolver esta imprevista crise política, os combates entre as tropas de Kiev e os insurgentes se intensificam, e aumentam as acusações de envolvimento direto das forças russas no conflito.

Em terra, as tropas ucranianas retomaram Lyssychansk, uma cidade de 105 mil habitantes no leste do país, das mãos dos rebeldes. Além disso, os combates prosseguiam em Donetsk e Lugansk, duas capitais regionais, redutos dos rebeldes.

Quatorze pessoas morreram em combates nas últimas 24 horas em Donetsk e duas pessoas faleceram em Lugansk, segundo as autoridades locais. O Exército ucraniano também anunciou ter perdido 13 militares.

Cerca de 100 mil pessoas foram deslocadas no país e 130 mil fugiram à Rússia, segundo o Acnur (Alto Comissariado da ONU para os Refugiados).

A cronologia da crise na Ucrânia
  • Divulgação/Instagram/esquire.com
    Como a crise começou?
    Em novembro de 2013, o então presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, se recusou a assinar um acordo com a UE e fez pacto com a Rússia por um pacote de ajuda de US$ 15 bilhões de Moscou e pela redução do preço do gás russo. Milhares de pessoas foram às ruas para protestar e derrubaram o presidente. Moradores da fronteira alinhados com Putin então se rebelaram com o que chamam de golpe de Estado
  • Mykola Lazarenko/Serviço de Imprensa de Poroshenko/AFP
    Meses de crise e novo pleito
    Eleições extraordinárias na Ucrânia foram convocadas após a queda de Viktor Yanukovich, em fevereiro, e em meio ao conflito entre forças ucranianas e separatistas pró-Rússia, que já matou mais de 350 pessoas desde abril. Em maio, o milionário Petro Poroshenko, o "rei do chocolate", venceu em 1º turno. Ele apoia as ações militares contra o movimento separatista pró-Rússia e aderiu à UE
  • Alexander Khudoteply/AFP
    Movimento separatista
    Desde abril, separatistas ocupam prédios públicos em Lugansk, Donetsk e Slaviansk, no leste do país, fronteira com a Rússia, onde vivem cerca de 7 milhões de pessoas, quase 15% da população da Ucrânia, que falam russo e se alinham ao governo Putin. As áreas se autoproclamaram "repúblicas populares independentes" em maio.
  • Sergei Chirikob/EFA/EPA
    Troca de acusações
    O choque da Rússia com o Ocidente ressuscitou linguagem e práticas da Guerra Fria. A Ucrânia acusa a Rússia de patrocinar e dar armas aos rebeldes. Já Moscou diz que Kiev faz "operação punitiva" contra os separatistas, com atos criminosos. As relações entre os países estão abaladas desde que a Rússia reconheceu o levante --apoiado pelo Ocidente-- contra Yanukovich e, em seguida, anexou a Crimeia.
  • Jewel Samad/AFP
    Quem fica de cada lado
    A posição de países sobre a crise varia de acordo com a relação comercial que cada um tem com a Rússia. Os EUA impõem sanções e ameaçam. A UE depende do gás russo, mas ofereceu dinheiro à Ucrânia. A proximidade faz a Alemanha parecer comedida, enquanto a França é mais agressiva. O Reino Unido tenta falar alto, mas não tomaria medidas concretas contra a Rússia. A China permanece em silêncio.
  • Dmitry Lovetsky/AP
    Avião abatido
    O Boeing-777 de Malaysia Airlines caiu na região leste de Donetsk, palco dos combates separatistas. Após a queda, autoridades dos governos russo e ucraniano, além do representante da República Autoproclamada de Donetsk, negaram ter abatido o avião. Mas, especialistas dizem que mísseis terra-ar, guiados por calor e fornecidos pela Rússia aos rebeldes, seriam capazes de abater um avião comercial

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