Burkina Faso sofre com incerteza sobre novo chefe de Estado após renúncia de Compaoré

UAGADUGU, Burkina Faso, 01 Nov 2014 (AFP) - Após a renúncia na sexta-feira do presidente Blaise Compaoré, a incerteza tomou conta de Burkina Faso, onde dois comandantes militares anunciaram que assumiram o cargo de chefe de Estado.

Na madrugada de sábado, o número dois da guarda presidencial, o coronel Isaac Zida, anunciou que assumiu "as responsabilidades de chefe da transição e de chefe de Estado para garantir a continuidade do Estado e uma transição democrática".

A declaração representou uma negativa do anúncio do comandante do Estado-Maior, o general Nabéré Honoré Traoré, que na sexta-feira afirmou ter assumido o cargo de chefe de Estado, um dia depois de ter ordenado a dissolução do governo.

A Constituição prevê que o presidente da Assembleia Nacional assegure a interinidade em caso de "vazio de poder", mas o coronel coronel disse que o texto foi suspenso.

Zida, que agora deve se reunir com Traoré, convidou o conjunto dos partidos políticos e organizações da sociedade civil a definir os "contornos e conteúdos" de uma "transição democrática tranquila".

Compaoré se viu obrigado a renunciar na sexta-feira. Na quinta-feira, o exército assumiu o controle do país, depois de uma insurreição popular contra a vontade do presidente de permanecer no poder, que ele assumiu após um golpe de Estado em 1987.

Calma após a tempestade

A situação era relativamente tranquila na manhã deste sábado na capital Uagadugu e em Bobo Dioulasso, a segunda maior cidade do país, cenário de confrontos violentos nos últimos dias.

No centro de Uagadugu, o tráfego era normal e as lojas estavam abertas. Mas o mercado central e os bancos estavam fechados neste sábado, dia útil no país.

Após uma convocação do Movimento Cidadão, uma organização que liderou a mobilização contra Compaoré, várias pessoas limpavam as ruas da capital, onde ainda era possível observar os efeitos da batalha campal dos últimos dias.

"Estamos confusos como todos, agora esperamos que a situação se acalme", disse à AFP Guénolé Sanou, de 32 anos.

"Eu quero um presidente civil que garanta a paz e respeite a Constituição", completou.

O anúncio de Traoré na sexta-feira provocou revolta nas ruas da capital e, inclusive dentro do Exército, porque o general é considerado muito próximo de Compaoré.

Neste contexto, Zida é bem visto por uma parte da sociedade civil.

A oposição não tem uma opinião fechada.

"Eles têm que se organizar, espero que cheguem a um entendimento", disse à AFP o líder da oposição, Zéphirin Diabré, ao ser questionado sobre a divisão no exército.

No cenário político agitado da última semana, outro nome era citado: milhares de manifestantes pediram ao general da reserva e ex-ministro da Defesa Kwamé Lugué que assumisse o governo.

Burkina Faso teve apenas um presidente nos últimos 27 anos: Blaise Compaoré. Ele participou em três golpes de Estado, o último em 1987, quando chegou ao poder após a morte de Thomas Sankara, um ícone do pan-africanismo.

Sua intenção de revisar a Constituição para voltar a disputar as eleições presidenciais em 2015, abrindo o caminho para três novos mandatos e 15 anos a mais no poder, acabou a paciência da população.

Várias manifestações, que terminaram em distúrbios, saques e até um incêndio no Parlamento, forçaram a saída de Compaoré do país. De acordo com testemunhas ele viajou para a Costa do Marfim.

A queda abrupta de Compaoré representa um alerta para outros presidentes africanos que podem ficar tentados a modificar a Constituição para permanecer no poder.

Quatro países - República Democrática do Congo, Burundi, Congo Brazzaville e Benin - estariam planejando revisões similares.

bur-de/fp

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