Museu suíço aceita coleção Gurlitt, que contém obras roubadas de judeus pelos nazistas

Em Berlim

  • Christof Stache/AFP

    Reprodução de uma pintura do francês Henri Matisse entitulada "Mulher Sentada" é mostrada em Augsburgo, no sul da Alemanha, quando se descobriram mais de 1.400 obras de arte no apartamento de Cornelius Gurlitt em Munique

    Reprodução de uma pintura do francês Henri Matisse entitulada "Mulher Sentada" é mostrada em Augsburgo, no sul da Alemanha, quando se descobriram mais de 1.400 obras de arte no apartamento de Cornelius Gurlitt em Munique

Um museu da cidade suíça de Berna informou nesta segunda-feira que aceitará a coleção de arte do alemão Cornelius Gurlitt, um tesouro de mais de 1.000 obras, algumas delas roubadas dos judeus pelos nazistas, que serão devolvidas a seus legítimos herdeiros.

As obras roubadas ou de origem duvidosa da coleção serão conservadas a princípio na Alemanha e as que não foram espoliadas dos judeus serão transferidas para Berna.

Christoph Schaeublin, presidente da Fundação do Museu de Belas Artes de Berna, informou em Berlim que trabalhará com as autoridades alemãs para que "todas as obras roubadas da coleção sejam devolvidas aos proprietários".

"O Conselho da Fundação do Museu de Berna decidiu em uma reunião celebrada em 22 de novembro aceitar a herança de Cornelius Gurlitt, como desejava em seu testamento", afirmou Schaeublin.

O acordo, assinado entre Alemanha, a região da Baviera e o Museu de Berna, é "uma boa solução", uma etapa importante" no trabalho que a Alemanha realiza sobre seu passado nazista, declarou a secretária alemã de Cultura, Monika Grutters.

A Alemanha está "disposta a restituir imediatamente" três obras de arte saqueadas de judeus, incluindo um quadro de Matisse, roubado do marchand Paul Rosenberg, avô da jornalista francesa Anne Sinclair, ex-mulher do ex-diretor do FMI Dominique Strauss-Khan.

Na herança de Gurlitt estão obras de Picasso, Monet e Chagall, que foram descobertas por acaso em 2012 no apartamento do alemão em Munique.

O valor da herança é calculado em dezenas de milhões de euros, segundo a imprensa alemã.

Uma prima de Cornelius Gurlitt, Uta Werner, 86 anos, reclamou na justiça a herança.

Gurlitt, que morreu em maio aos 81 anos, era filho de um marchand que recebeu de Hitler a missão de saquear as obras de museus e colecionadores judeus, muitos deles mortos nas câmaras de gás.

Durante uma inspeção fiscal de rotina, as autoridades localizaram o tesouro de 1.280 obras no abarrotado apartamento de Gurlitt.

Mais de 300 obras também foram encontradas em uma casa em ruínas de Gurlitt em Salzburgo (oeste da Áustria).

Apesar de Gurlitt nunca ter sido acusado pela justiça, as autoridades alemãs confiscaram todas as obras de Munique e as transportaram para um local secreto.

Mesmo com o acordo entre as três partes, o destino da herança de Gurlitt ainda pode ser objeto de debate.

O presidente do Congresso Judaico Mundial, Ronald Lauder, declarou recentemente à revista alemã Der Spiegel que o museu suíço não deveria aceitar a herança.

"Abrirá uma caixa de Pandora e provocará uma avalanche de demandas", advertiu Lauder.

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