Cardeal Parolin, o artesão da bem-sucedida diplomacia do papa Francisco

CIDADE DO VATICANO, 19 dez 2014 (AFP) - Por trás do sucesso diplomático do papa Francisco para a normalização das relações entre os Estados Unidos e Cuba está o trabalho discreto do secretário de Estado do Vaticano, o cardeal italiano Pietro Parolin, um especialista em América Latina e em China.

O cardeal, de 59 anos, relativamente jovem para o delicado cargo que ocupa é, na verdade, um veterano com quase 30 anos de experiência diplomática, após se formar em uma das redes mais prestigiosas e eficazes do planeta.

Parolin também conta com toda a confiança do pontífice latino-americano, que o convidou a fazer parte do chamado C9, os nove cardeais que o assessoram para a reforma da Igreja.

Mão direita do Papa, que passou quatro anos como núncio na Venezuela, onde tentou tecer uma aproximação entre o falecido presidente Hugo Chávez e a igreja conservadora local, Parolin é a pessoa flexível de que Francisco necessita.

Formado em Direito Canônico, diplomata do Vaticano desde 1986, com longos serviços na Nigéria e no México e sete anos de experiência em Roma como vice-ministro das Relações com os Estados, ele contou com a colaboração do número três, o monsenhor Angelo Becciu, ex-núncio em Cuba, que preparou a visita de Bento XVI à ilha em 2012.

Os dois diplomatas, que falam fluentemente espanhol, inglês e francês, conhecem bem a problemática da América Latina, um elemento-chave para o êxito da mediação entre Washington e Havana.



Um sopro de ar fresco A nomeação de Parolin, em outubro de 2013, foi um sopro de ar fresco para o Vaticano.

O prelado italiano, um homem afável e simples, substituiu o poderoso cardeal Tarcisio Bertone, muito criticado pela pouca experiência e interesse na diplomacia e por seus problemas com a política e com as finanças italianas.

A "secretaria do Papa", como o próprio Parolin qualifica seu trabalho, conseguiu manter em sigilo total e "sem vazamentos" as negociações entre Cuba e EUA - admite o vaticanista Andrea Tornielli, do "Vatican Insider".

Como um reconhecimento público à sua gestão foram consideradas as palavras do papa nesta quinta-feira, quando elogiou o trabalho dos diplomatas.

"O trabalho de embaixador é um trabalho de pequenos gestos, de pequenas coisas, mas que termina por alcançar a paz, aproximar os corações dos povos, semear fraternidade", disse Francisco.



China, um sonho O cardeal Parolin também é o líder religioso que gerencia o estratégico tema da normalização das relações entre o Vaticano e a China, um dos sonhos do Papa jesuíta.

Que um jesuíta queira inaugurar uma nova era nas relações entre a Igreja e a China não deveria surpreender. A Companhia de Jesus chegou à Corte Imperial em 1582, levada pelo missionário jesuíta Matteo Ricci, que morreu em 1610 em Pequim, onde está enterrado.

Sobre os conflitos mais quentes, de Síria, Iraque até a Ucrânia, o secretário de Estado se informa muito, mas intervém pouco. Uma prudência que gera críticas de parte de alguns setores da Igreja.

"O que acontece no Iraque não tem nada a ver com um choque de religiões entre o Islã e o cristianismo", advertiu recentemente.

"Nosso desafio é conseguir que as diversidades políticas, culturais e religiosas não sejam motivo de luta, mas de enriquecimento mútuo", explicou.



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