Rajoy enfrenta desafio para formar governo na Espanha

Em Brasília

Madri, 21 dez 2015 (AFP) - O chefe de Governo da Espanha, o conservador Mariano Rajoy, enfrenta a partir desta segunda-feira uma missão que parece impossível: tentar formar um governo depois da vitória nas eleições legislativas, mas sem maioria em Parlamento fragmentado, com a esquerda disposta a fechar as possibilidades.

Poucas horas depois do anúncio dos resultados, os principais partidos estabeleceram rapidamente suas posições o socialista PSOE e o partido antiausteridade Podemos votarão contra um governo conservador, enquanto centrista 'Ciudadanos' optará pela abstenção.

"Confusão geral" e "Governo no ar" eram algumas das manchetes da imprensa espanhola, enquanto a Bolsa de Madri operava em queda.

A habitual estabilidade do sistema político espanhol, baseada desde 1982 na alternância de poder entre o Partido Popular (PP), de Rajoy, e o Partido Socialista (PSOE), ficou muito abalada com a entrada em cena de dois novos partidos, o antiausteridade Podemos e o centrista 'Ciudadanos'.

O já anunciado fim do bipartidarismo deixa um panorama incerto para a política espanhola. Em 13 de janeiro deve ser formado o novo Congresso e nenhum bloco (nem esquerda nem direita) alcança a maioria absoluta: Ciudadanos e PP somariam 163 deputados e PSOE-Podemos, 159.

"Vou tentar formar o governo e acredito que a Espanha precisa de um governo estável", afirmou no domingo à noite Rajoy, depois de perder a cômoda maioria que desfrutava desde 2011. Mas com apenas 123 deputados em um Parlamento de 350 cadeiras e com o segundo e terceiro maiores partidos contra o PP, a aritmética parlamentar é mais do que difícil.

Uma vez constituído o Congresso, o rei Felipe VI iniciará as consultas com os partidos para designar um candidato a formar governo.

Este deve ser investido por maioria absoluta em primeiro turno ou, se não for possível, por maioria simples depois. A oposição do PSOE (90 deputados) e do Podemos (69), mais a abstenção do Ciudadanos (40) impediriam o triunvo de Rajoy nos dois casos.

Caso ao fim de dois meses ninguém consiga formar o governo, novas eleições serão convocadas.

A esquerda diz 'não'"Corresponde às autoridades espanholas ver como a Espanha conseguirá dotar-se de um governo estável, que possa desempenhar seu papel na Europa", afirmou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Mas apenas o líder do Ciudadanos, Albert Rivera, se mostrou disposto a ceder para permitir a governabilidade do país, a quarta maior economia da Eurozona.

"O que precisamos é uma abstenção do PSOE, uma abstenção do Ciudadanos e um governo em minoria que deverá ter jogo de cintura suficiente para aceitar reformas", disse.

Mas os socialistas não concordam com a posição.

O PSOE vai votar 'Não' ao PP e a Rajoy", afirmou o porta-voz socialista, César Luena.

"Nem de maneira ativa, nem de maneira passiva, o Podemos vai permitir que o governo do Partido Popular, não com os votos a favor, nem com abstenções", disse o líder do Podemos, Pablo Iglesias, que surpreendeu ao conquistar 69 cadeiras no Parlamento.

Os dois partidos poderiam se aliar para formar uma coalizão de esquerda, com pequenos partidos nacionalistas. Mas a opção parece quase inviável porque deveria incluir os separatistas catalães, que exigem um referendo de autodeterminação, algo rejeitado pelo PSOE.

"Será necessário conversar muito, dialogar mais, chegar a entendimentos e acordos", reconheceu Rajoy no domingp.

Legislatura curtaAsfixiados pela crise econômica e escandalizados com os vários casos de corrupção que envolveram conservadores e socialistas, os eleitores da Espanha puniram no domingo os partidos tradicionais.

O PP obteve seu pior resultado desde 1989 e perdeu 3,6 milhões de votos, enquanto o PSOE registrou queda de 1,5 milhão de votos, ficando em seu patamar mínimo histórico.

"A governabilidade fica muito afetada", destaca a cientista política Berta Barbet, professora da Universidade de Barcelona e editora do site de análise Politikon.

"Os equilíbrios serão muito complicados", disse.

"Se vislumbra uma legislatura curta, montada sobre pactos frágeis", opina Fernando Vallespín, professor de Ciências Política da Universidade Autônoma de Madri.

Ele não descarta uma abstenção socialista, mas com um preço muito elevado: a renúncia de Rajoy. "Isto é quase obrigatório. E se o PP não estiver disposto a isto, teremos eleições antecipadas", afirma.

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