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Forte aumento de atos racistas na França, um 'desafio' para a sociedade

20/01/2015 17h52

Paris, 20 Jan 2016 (AFP) - Os atos racistas, antissemitas e islamofóbicos tiveram um forte aumento de 22% em 2015 na França, com um crescimento mais acentuado após os ataques de janeiro e novembro no país, principalmente contra os muçulmanos, aponta um relatório oficial.

No total, foram registradas no ano passado no país 2.032 queixas relativas a atos e ameaças racistas, antissemitas e antimuçulmanas, segundo dados divulgados pela Delegação Interministerial de Luta contra o Racismo e o Antissemitismo (Dilcra).

Os atos antimuçulmanos (429, incluindo 124 ações e 305 ameaças) mais do que triplicaram. Quanto aos atos antissemitas, que haviam atingido um pico em 2014 em repercussão ao conflito entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza, caíram ligeiramente (- 5,3%), mas permanecem a um nível elevado (207 atos, 599 ameaças).

Este nível recorde de violência é "um desafio para toda a sociedade francesa", considerou o diretor da Dilcra, Gilles Clavreul.

Ele estima que o fato é em grande parte devido "à violência em resposta aos ataques jihadistas de janeiro e novembro" na França, uma vez que os atos e ameaças cometidos durante esses dois meses representam 58% do total registrado em todo o ano de 2015.

"Esse fato é preocupante, uma vez que é exatamente o que os terroristas buscam: criar fraturas no seio da nossa sociedade. Qualquer coisa que possa ferir e causar divisões entra em seu esquema ideológico", acrescentou.

O aumento foi ainda mais acentuado após os ataques em janeiro contra o jornal satírico Charlie Hebdo e a um mercado judeu, o que, segundo o relatório, pode ser explicado pela "desinibição de um violência que se via vingativa, punitiva".

A dimensão mais "universal" dos ataques mortais de novembro, que fizeram quase 130 mortos em uma casa de shows, cafés e um estádio de futebol, pode ter "aberto os olhos da comunidade nacional, com o desejo de não cair na armadilha" da divisão, acredita Dilcra.

Por sua vez, os atos racistas sem caráter religioso aumentaram 18%, atingindo 797 denúncias.

Não foram fornecidos detalhes sobre as vítimas, por causa da proibição de estatísticas étnicas na França.

O relatório enfatiza que os números publicados são "imperfeitos", uma vez que muitas vítimas temem denunciar.

Clavreul também observou "uma dispersão dos atos em áreas rurais ou em cidades de médio porte, onde não havia o registro de incidentes semelhantes", estabelecendo um "paralelo com o crescimento da Frente Nacional (partido de extrema-direita) nestas áreas".