Sexta-feira Santa, dia de crucificações nas Filipinas

Em Nova York

San Juan, Filipinas, 25 Mar 2016 (AFP) - É uma tradição arraigada em certas localidades da muito católica Filipinas por ocasião da Sexta-feira Santa: fiéis pregados em cruzes para emular as últimas horas de Cristo, um ritual sangrento que desagrada a Igreja de Roma.

Ao longo de todo o dia, dezenas de crucificações ocorreram em algumas regiões do arquipélago diante de milhares de curiosos que vieram assistir o espetáculo dos penitentes que se autoflagelam até sangrar.

Ao amanhecer, vários homens fantasiados de soldados romanos conduziram em procissão Willy Salvador, um pescador de 59 anos, pelas ruas de San Juan, localidade ao norte de Manila, enquanto o protagonista fazia gestos de dor em silêncio.

"Sei que não vai acreditar em mim, mas Deus me ajudou a me recuperar de uma depressão", contou à AFP Salvador, que todos os anos, desde 2006, representa Jesus Cristo em San Juan. "É minha forma de agradecer por ter me curado".

Estas procissões, que representam um dos momentos mais destacados da Paixão de Cristo, são a forma mais extrema de piedade praticada em certos povoados das Filipinas, um país onde 80% da população é católica.

TelõesOs penitentes passam vários minutos suspensos na cruz, com pregos atravessando as mãos e os pés, embora o peso fique nos braços, que também são presos à madeira.

Depois de Salvador, foi a vez de Alex Daranang, vendedor ambulante que decidiu passar a véspera de seu 60º aniversário na cruz.

"As feridas cicatrizam rápido", explica este avô desdentado que cumpre o ritual pela vigésima vez.

Milhares de pessoas - entre elas dezenas de turistas ocidentais - chegaram, como acontece todo ano, para presenciar estes rituais, transformados em uma grande atração turística.

"Tem algo de simbólico. Minha fé foi reforçada", explicava Benjie Pazcoguin. "Voltarei no ano que vem".

Enquanto isso, no povoado vizinho de San Pedro, os vendedores ambulantes tentavam colocar nos visitantes suvenires, chapéus, comida e bebidas frias. E para quem chegou tarde, telões mostravam ao vivo o espetáculo sangrento.

Sangue e vômitoSob um sol inclemente, centenas de homens caminhavam descalços, com o rosto coberto por um pano, flagelando-se nas costas com pedaços de bambu presos com cordas.

Em uníssono, todos pararam e se jogaram no chão. O sangue brotou. Um penitente vomitou.

"A Igreja desaconselha este tipo de ação porque Jesus Cristo viveu este momentos por nós e não há motivo para repeti-los", declarou à AFP o padre Douglas Badong, pároco de Quiapo.

Mas para muitos, como Claro Tolentino, encarregado da cidade de San Juan, as crucificações são parte integrante da cultura e das tradições das Filipinas, arquipélago convertido ao catolicismo durante a conquista espanhola do século XVI.

"Todo mundo deve respeitar a cultura e as crenças da nossa população", afirmou Tolentino.

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