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Ciência do envelhecimento busca fonte da juventude eterna

29/03/2015 22h34

Washington, 29 Mar 2016 (AFP) - A gerontologia está mobilizada contra os estragos causados pela idade e investiga uma maneira de prevenir as doenças degenerativas ligadas ao envelhecimento, para aumentar a quantidade de anos em boa forma, assim como a qualidade de vida.

"Os avanços mais recentes permitem entender melhor os processos moleculares do envelhecimento, o que abre caminho para intervenções que buscam atrasá-lo", explica o professor de Medicina Luigi Fontana, da Universidade Washington, em Saint-Louis (Missouri).

O envelhecimento nos países desenvolvidos significa que os seguros de saúde e de aposentadoria estão ameaçados de quebra e precisam - com urgência - prolongar a saúde e a independência dos adultos da terceira idade, disse Fontana à AFP.

Suas pesquisas se concentram no efeito da redução de ingestão calórica contra a velhice. Em animais de laboratório, essa diminuição permite prolongar a vida e preservar a saúde.

"O envelhecimento é o acúmulo do dano das células, devido a transtornos do metabolismo", resume o pesquisador.

"Segundo nossas predisposições genéticas, acumulamos mais ou menos dano nas células", completou.

A expectativa de vida se prolongou significativamente no último século, graças, sobretudo, aos avanços na higiene e à descoberta de vacinas e antibióticos.

Ao viver mais, porém, desenvolvemos doenças que são resultado da deterioração celular, como o câncer e as degenerações musculares e neurológicas. E esse quadro pode se agravar, se a alimentação não for saudável e se a prática de exercícios não fizer parte da rotina, destaca Fontana.

"Com nossos estudos sobre animais sabemos que essas alterações podem ser prevenidas, ou desaceleradas", comenta.

"Podemos manipular os genes e criar ratos transgênicos que vivem 60% mais tempo, e até o dobro no caso de um pequeno verme chamado C. elegans, e com saúde muito melhor", continuou Fontana.

Ele detalhou que, ao reduzir as calorias que são ingeridas, produzem-se nestes genes efeitos similares sem necessidade de serem manipulados diretamente. Esses genes também estão presentes nos humanos.

O cientista prepara um teste clínico que colocará os voluntários em jejum durante duas semanas.

"Estamos tentando demonstrar que jejuar durante duas semanas a cada cinco anos ativa os processos genéticos que permitem limpar o organismo", porque as células se dedicam a queimar os resíduos acumulados para produzir energia, explica.

Preservando os telômerosOutros pesquisadores trabalham sobre moléculas "restauradoras" do metabolismo, que teriam os mesmos efeitos sem passar pelo jejum.

E outra linha de investigação se concentra nos telômeros, ou seja, os extremos dos cromossomas. Eles se reduzem a cada divisão celular e têm um importante papel na idade biológica.

A Prêmio Nobel de Medicina Carol Greider estuda os telômeros em um laboratório na Faculdade de Medicina Johns Hopkins, em Maryland.

"Muitas patologias da idade estão vinculadas à divisão celular e, neste fenômeno, a redução dos telômeros desempenha um papel importante", explica a cientista à AFP.

Quando os telômeros se reduzem a zero, as células já não podem se dividir e morrem.

"É possível modificar este processo para preservar os telômeros e evitar, ou retardar, as doenças causadas pelo envelhecimento", resume Greider.

A redução dos telômeros é compensada por uma enzima, a telomerase, que os preserva, mas que, quando se produz em excesso, favorece o surgimento do câncer.

Canela contra a idadeJá a professora de Farmacologia Mahtab Jafari, da Universidade da Califórnia, em Irvine, estuda os efeitos para a longevidade que têm a canela e a Rhodiola rosea, uma planta ártica que já era conhecida pelos "vikings".

A especialista conseguiu prolongar em 25% a vida de moscas drosófilas, graças à Rhodiola, e 30%, à canela.

Jafari planeja realizar testes clínicos com octogenários para constatar se essas plantas "atenuam, ou revertem, sua degeneração".

Para Greider, ao evitar essas doenças degenerativas, poderíamos viver com boa saúde todo o tempo da vida biológica - segundo ela, entre os 110 e os 120 anos.

A cientista se mostra cética, porém, em relação à possibilidade de viver por mais tempo manipulando os genes diretamente, porque o envelhecimento é resultado de muitos mecanismos biológicos complexos.