Potências prolongam negociações nucleares com o Irã



Lausanne, Suíça, 1 Abr 2015 (AFP) - As negociações para evitar que o Irã produza a bomba nuclear entraram em uma nova fase decisiva nesta quarta-feira, com alguns avanços, mas com vários obstáculos para alcançar um acordo.

Depois do fim do prazo, fixado para a meia-noite de terça-feira, para estabelecer os princípios do que os negociadores esperam que seja um acordo histórico, a maratona de reuniões em Lausanne (Suíça) foi interrompida por algumas horas durante a noite.

O chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif, pediu nesta quarta às grandes potências que "aproveitem o momento" para concluir um acordo sobre o programa nuclear de seu país, ressaltando que esta ocasião pode não se repetir.

"Chegou o momento de nossos parceiros nessas negociações aproveitarem o momento e a oportunidade (de um acordo) que pode não se repetir", declarou Zarif à imprensa, num momento em que as discussões se arrastam há uma semana em Lausanne.

Nas últimas horas, vários diplomatas ocidentais também exortaram o Irã a "tomar decisões".

Apesar da impaciência que começa a reinar, o secretário de Estado americano, John Kerry, garantiu que ficará em Lausanne pelo menos até a manhã de quinta-feira para continuar as negociações.

Por sua vez, o chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, disse, ao retornar à cidade suíça, que as negociações "estão nos últimos metros, antes da linha de chegada, que são os mais difíceis".

"O que está em jogo é muito importante porque se trata da luta contra a proliferação nuclear e, de uma certa forma, da reintegração do Irã na comunidade internacional", reforçou Fabius.

Ele afirmou que a França apoia um acordo "robusto e verificável".

Fabius tinha deixado Lausanne ao amanhecer desta quarta-feira para participar do Conselho de Ministros, em Paris, e havia advertido que só retornaria se fosse "útil".



Pontos de atrito

As discussões estão emperradas em três pontos-chave: a duração do acordo, o fim das sanções da ONU e o mecanismo de garantia e controle.

No ponto que diz respeito à duração do acordo, as grandes potências desejam um quadro estrito de controle das atividade nucleares iranianas por ao menos 15 anos, mas o Irã não quer se comprometer além de 10 anos.

Na questão da retirada das sanções da ONU, os iranianos querem o fim de todas as penalidades econômicas e diplomáticas, consideradas humilhantes, assim que o acordo for assinado, mas as grandes potências desejam uma retirada gradual dessas medidas ligadas à proliferação nuclear e adotadas a partir de 2006 pelo Conselho de Segurança da ONU.

Em caso de retirada de algumas dessas sanções, certos países do 5+1 querem um outro mecanismo que permitiria reimpor rapidamente as punições em caso de descumprimento por Teerã de seus compromissos.



Cacofonia

Neste contexto, uma cerca cacofonia parece reinar.

O chefe dos negociadores sobre o programa nuclear do Irã, Abbas Araghchi, afirmou que ainda existem problemas.

Em uma entrevista ao canal estatal iraniano, Araghchi explicou o que trava as negociações.

"Até que tenhamos soluções para todos os problemas não podemos chegar a um acordo completo", afirmou, antes de mencionar que os principais pontos bloqueados são os relativos às sanções e à pesquisa e desenvolvimento nuclear.

Araghchi destacou que durante a tarde um comunicado conjunto deve ser divulgado para explicar os avanços dos últimos dias.

"Conseguimos avanços importantes nos últimos dias, mas lentamente", disse o ministro britânico das Relações Exteriores, Philip Hammond, que afirmou "cruzar os dedos" por um sucesso nas negociações, que segundo ele registraram avanços "notórios".

O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, afirmou à imprensa russa que as grandes potências chegaram a um "acordo de princípio sobre todos os aspectos-chave do acordo final".

Mas o chanceler da China, Wang Yim, afirmou em um comunicado que "todas as partes devem estar preparadas para ceder um pouco para poder alcançar um acordo.

O grupo 5+1 (Estados Unidos, China, França, Grã-Bretanha, Rússia e Alemanha) tenta alcançar um acordo que sirva de base para um futuro pacto que inclua todos os detalhes técnicos, que seria assinado até 30 de junho, para impedir que o Irã produza armamento nuclear.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pediu à comunidade internacional deve obter um acordo melhor com o Irã.

"Agora é quando a comunidade internacional deve insistir em obter um acordo melhor", declarou Netanyahu, antes de advertir que as concessões feitas ao Irã em Lausanne podem resultar em um "acordo ruim que colocaria em perigo Israel, o Oriente Médio e a paz no mundo".

Ao final da reunião em Lausanne, na véspera, o presidente Barack Obama reuniu-se em Washington com seus assessores do Conselho de Segurança Nacional para analisar o resultado das negociações.

"O presidente foi posto a par do avanço das negociações pelos secretários (de Estado, John) Kerry e (da Energia, Ernie) Moniz, assim como por outros membros da equipe de negociações de Lausanne", disse a porta-voz do Conselho, Bernadette Meehan, acrescentando que Obama agradeceu aos negociadores por seus esforços.

bur-jkb/fp/cn/mr/mvv

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos