Câmara dos Deputados diz 'sim' ao impeachment da presidente Dilma

Brasília, 18 Abr 2016 (AFP) - Os deputados votaram neste domingo pela admissibilidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, herdeira política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, aumentando a incerteza política no Brasil, a principal economia latino-americana, já castigada por uma profunda recessão.

O 'sim' ao impeachment obteve um total de 367 votos na Câmara, 25 a mais que os 342 que representavam os dois terços necessários para aprovar o processo. O 'não' obteve 137 votos. Houve sete abstenções e duas faltas nesta longa sessão, que teve cerca de dez horas de duração.

Dezenas de milhares de opositores de Dilma, que acompanhavam a votação em telões nas principais cidades do país, explodiram de alegria quando o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE) declarou o voto que definiu a votação na Câmara.

Coube a ele dar o 342º voto a favor do 'sim' pouco após as 23H00.

"Que honra o destino me reservou, que da minha voz saísse o grito de esperança de milhões de brasileiros", disse Araújo, antes de declarar: "digo sim ao futuro".

Agora, a decisão dos deputados precisa ser ratificada pelo Senado para que o processo de impeachment tenha continuidade.

Se isto ocorrer, o vice-presidente, Michel Temer assumiria o poder, inicialmente por um período de até seis meses, mas poderia completar o mandato se os senadores considerarem Dilma culpada.

A presidente é acusada de manipulação das contas públicas para ocultar o tamanho dos déficits em 2014, ano de sua reeleição, e no começo de 2015, uma manobra conhecida popularmente como 'pedaladas fiscais'.

Ela nega estas acusações e as atribui a uma conspiração orquestrada por Cunha e por seu vice-presidente, Michel Temer, ambos do PMDB, partido que foi da base, mas rompeu com o governo.

Ao encerrar a sessão, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, disse que pediria a ativação do Senado a partir desta segunda-feira.

"O Brasil precisa sair do fundo do poço e temos que resolver esta situação o mais rápido possível. O Senado deve dar celeridade" ao processo, afirmou.

Segundo colaboradores do presidente do Senado, Renan Calheiros, a votação no plenário poderia ocorrer na segunda semana de maio.

O líder do PT na Câmara, José Guimarães, se disse determinado a travar esta batalha.

"Os golpistas venceram aqui na Câmara", mas "esta derrota provisória não significa que a guerra terminou", disse a jornalistas José Guimarães (CE), quando defensores do impeachment tinham vantagem de mais de 200 votos.

"Em um momento como este, temos que ter tranquilidade, humildade, falar com o país", disse Guimarães. "A luta continua nas ruas e no Senado", acrescentou.

Fim do 'lulismo'?Em Brasília, membros do PT e de movimentos sociais que acompanhavam a votação em telões partiam abatidos quando a tendência ao 'sim' se mostrou irreversível.

Do outro lado do muro de um quilômetro, erguido ao longo da Esplanada dos Ministérios, os defensores do impeachment explodiram de alegria, quando se anunciou o 342º voto.

Na Avenida Paulista, onde estava reunida a oposição, os votos a favor do impeachment foram comemorados como se fossem gols, com buzinaços, pulos e agitar de bandeiras.

A votação deste domingo pode representar a porta de saída do 'lulismo', fundado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), figura emblemática do hoje claudicante ciclo de governos de esquerda na América Latina.

"Para combater o projeto de poder e corrupção de Lula e o PT (...), voto sim ao impeachment", disse nos seus dez segundos em que justificou seu voto o deputado gaúcho Luiz Heinze, do PP, partido que até a semana passada era aliado do PT.

Já Henrique Fontana (PT-RS), declarou: "contra a conspiração e a corrupção representada por Eduardo Cunha e Temer, pela democracia e contra o golpe, voto com toda a convicção 'Não' contra este golpe, não ao impeachment".

A crise política brasileira, que se aprofunda com a pior recessão no país desde 1930, é observada com preocupação pelo resto do mundo, faltando menos de quatro meses para a abertura dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

O dia seguinteTanto Temer quanto Dilma propõem um pacto nacional para apaziguar o país e tirá-lo da recessão, mas o caminho se anuncia espinhoso.

"Independentemente do resultado de hoje, a crise vai continuar, e inclusive se agravará porque o lado perdedor vai utilizar todos os instrumentos para boicotar os ganhadores. De qualquer forma, o Brasil amanhecerá pior amanhã", declarou à AFP o analista político André César.

Os mercados apostaram claramente em Temer, enquanto os setores sociais que se beneficiaram das políticas de distribuição da era Lula temem uma reversão de políticas.

"O pacto de Temer será com os movimentos mais conservadores, que já se posicionaram ao seu lado", disse César.

Mas Lula, Dilma e o PT não estão dispostos a dar o braço a torcer tão facilmente.

"Não vamos nos deixar abater por esta guerra momentânea. A guerra será prolongada", alertou Guimarães, que não excluiu recursos legais para impedir o impeachment de Dilma.

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