Morre Patricio Aylwin, primeiro presidente eleito após a ditadura Pinochet

Santiago, 19 Abr 2016 (AFP) - O democrata cristão Patricio Aylwin, primeiro presidente eleito no Chile após a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), morreu nesta terça-feira aos 97 anos, informou a família.

Aylwin, eleito presidente para suceder Pinochet a partir de 11 de março de 1990, morreu ao lado dos parentes, em casa, após algumas semanas em estado grave.

"O Chile perdeu um grande democrata", afirmou a presidente chilena Michelle Bachelet ao tomar conhecimento da morte do líder político, ativo até há poucas semanas.

O governo decretou três dias de luto oficial em homenagem ao ex-presidente, que governou o país nos primeiros quatro anos da transição política chilena, ao mesmo tempo que um funeral de Estado é preparado.

Bachelet anunciou que pretende apresentar pêsames pessoalmente à família.

Eleito presidente para restaurar a democracia no Chile após a violenta ditadura de Pinochet, Patricio Aylwin entra para a história como o negociador que, com moderação, comandou a transição no Chile.

Primeiro chefe de Estado eleito por voto popular após o fim do regime liderado por Pinochet, que deixou mais de 3.000 mortos, o líder da Democracia Cristã (DC) pediu perdão ao país pelas vítimas da ditadura um ano depois de restaurada a democracia, em 11 de março de 1990.

Com a voz emocionada, ao entregar as conclusões da Comissão Nacional da Verdade e Reconciliação, presidida pelo advogado e ex-parlamentar Raúl Rettig, apresentou uma mensagem solene ao país.

"Me atrevo, na minha qualidade de presidente da República, a assumir a representação da nação inteira para, em seu nome, pedir perdão aos familiares das vítimas", disse Aylwin.

Nos quatro anos do seu governo, Pinochet permaneceu no comando do exército, fazendo valer ainda o seu poder e influência. No fim de 1990, Aylwin teve que enfrentar o denominado "exercício de enlace" ordenado por Pinochet e que incluiu uma movimentação de tropas durante oito horas para pressionar pelo fim de uma investigação judicial por fraude ao fisco que incluía seu filho.

Apesar da pressão, Aylwin tentou manter com o ex-ditador uma relação próxima, enquanto com as vítimas instaurou uma política que chamou de "justiça na medida do possível".

"Percebi que tendo uma relação próxima cole ele corria menos riscos que com um militar que não conhecia. Com ele cheguei a ter uma boa relação humana, mas não de amizade nem de confiança", disse.

Na área econômica, ele adotou a estratégia de abertura comercial que levou o país a um grande avanço, ao mesmo tempo que trabalhou para democratizar as instituições e reinserir o Chile internacionalmente como país democrático.

Um passado com sombrasA atuação da DC durante o governo do socialista Salvador Allende (1970-1973) ainda é objeto de revisão.

Apesar do partido ter oferecido apoio no Congresso para que pudesse assumir como presidente (ao não obter maioria absoluta nas urnas), vários de seus dirigentes dirigentes deram suporte ao golpe de Estado que levou Pinochet no poder.

Na ditadura, Aylwin negociou com Pinochet a adoção em 1980 de reformas a uma nova Constituição que incluíam um calendário para a restauração da democracia a partir de um plebiscito em 1988, que o ditador perdeu para uma coalizão de partidos de esquerda que incluía a Democracia Cristã e que levou à vitória da opção 'Não' à continuidade do regime, com 56% dos votos.

Após a surpreendente derrota, como estava previsto na Constituição, Pinochet teve que convocar eleições um ano mais tarde. Aylwin foi designado candidato único pela coalizão de esquerda que havia triunfado no plebiscito e venceu nas urnas o aspirante do regime militar e da direita, o economista e ex-ministro de Pinochet Hernán Büchi.

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