Baixas militares russas em tempos de paz serão segredo de Estado

Moscou, 28 Mai 2015 (AFP) - O presidente russo, Vladimir Putin, assinou nesta quinta-feira um decreto que classifica como segredo de Estado as baixas do exército durante operações especiais em tempos de paz, enquanto o Kremlin segue negando qualquer ingerência militar na Ucrânia.

Este decreto, publicado no site do governo, acrescenta à lista de segredos de Estado as "informações relacionadas às baixas de funcionários (...) em tempos de paz durante operações especiais".

As baixas militares durante os períodos de guerra já eram segredo de Estado. A divulgação desta informação é punida na Rússia com penas de até quatro anos de prisão.

Segundo o especialista militar Pavel Felgenhauer, "o motivo pelo qual as baixas não devem ser publicadas é o Donbass", a região do leste da Ucrânia onde os separatistas pró-russos e o exército ucraniano se enfrentam há mais de um ano.

Kiev e os ocidentais acusam a Rússia de apoiar militarmente os rebeldes pró-russos e de mobilizar tropas no leste da Ucrânia, afirmações desmentidas por Moscou, que reconhece apenas a presença de soldados voluntários no país vizinho.

Nos últimos dias, um fotógrafo da AFP observou veículos militares russos carregados em um trem de carga na região de Rostov, no sul do país, a 20 quilômetros da fronteira ucraniana.

O fotógrafo também viu veículos militares russos em um campo de treinamento a 50 quilômetros da fronteira.

Em março de 2014, a Rússia anexou a região da Crimeia na Ucrânia depois que um governo pró-ocidental chegou ao poder em Kiev. Desde então, as forças pró-russas lançaram uma rebelião no leste da Ucrânia.

O conflito deixou mais de 6.200 mortos e obrigou um milhão de pessoas a fugir da zona no ano passado, segundo a ONU.

Para Felgenhauer, o decreto que Putin assinou nesta quinta-feira procura "deter ou aterrorizar" os que desejarem revelar informações sobre as supostas baixas do exército russo na Ucrânia.

"Nunca vi nenhuma definição jurídica do conceito de operação especial", explicou o especialista militar. "Isso significa que tudo pode ser designado como tal", ressaltou.

Por sua vez, o opositor Alexei Navalny, um advogado nacionalista e inimigo de Putin, declarou com ironia: "Vamos deixar os soldados morrerem e vamos deixar seus entes queridos seguirem calados. Os que não estiverem de acordo serão presos por espionagem".

Para a jornalista opositora Ksenia Sobchak, este decreto é "uma violação impensável da liberdade de expressão" e "cria uma situação na qual qualquer investigação jornalística se torna ilegal".

A imprensa russa e internacional, assim como militantes opositores ao Kremlin, informaram sobre vários enterros secretos de militares russos que teriam falecido na Ucrânia.

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