Governo colombiano e Farc retomam diálogo em clima tenso após explosões em Bogotá

Havana, 3 Jul 2015 (AFP) - O governo colombiano e a guerrilha comunista das Farc retomaram nesta sexta-feira as negociações em Havana em meio a tensões sobre o processo de paz, devido à escalada do conflito armado na Colômbia.

As duas partes voltaram à mesa de negociações após um recesso de seis dias, com a expectativa de selar um acordo parcial sobre indenização às vítimas que dê fôlego ao processo de paz, que enfrenta tensões e críticas pelo recrudescimento das hostilidades após vários meses de relativa calma.

"O clima (...) está carregado de nuvens pesadas, que têm escurecido o caminho que falta avançar para chegar sem mais contratempos à meta já traçada (da paz). Lamentamos", disse à imprensa o comandante Pastor Alape, um dos emissários da guerrilha nas negociações.

Alape culpou o anterior ministro da Defesa da Colômbia e atual embaixador em Washington, Juan Carlos Pinzón, pela escalada do conflito armado e insistiu em um cessar-fogo bilateral.

"Pôde mais o caráter encrenqueiro de quem, como ministro da Defesa, considerou que o êxito da trégua (unilateral das Farc) era a sua derrota", disse o líder guerrilheiro.

"Não fomos os responsáveis pelo fim do cessar-fogo unilateral (...). Durante mais de cinco meses, o mantivemos com disciplina, gesto que levou à redução de, pelo menos, 90% das ações de guerra", acrescentou.

Pinzón, que se caracterizava pelas duras críticas à guerrilha, foi nomeado embaixador em Washington em maio passado pelo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, após quatro anos como ministro.

A delegação do governo, chefiada por Humberto de la Calle, não deu declarações à imprensa ao chegar ao Palácio de Convenções de Havana, sede dos diálogos de paz desde seu início, em novembro de 2012.

Santos promete usar a lei e as armasAs hostilidades se intensificaram nas últimas semanas da gestão de Pinzón como ministro, depois de uma emboscada da guerrilha, que deixou 11 soldados mortos, em meados de abril. Um mês depois, os militares lançaram vários ataques nos quais morreram 27 rebeldes, o que levou as Farc a suspender sua trégua unilateral.

O conflito avançou progressivamente e as Farc retomaram os ataques contra a infraestrutura petroleira, suspensos durante sua trégua, provocando prejuízos econômicos e danos ambientais.

O presidente Santos sempre se recusou a acordar uma trégua bilateral enquanto não for alcançado um acordo final de paz.

Durante a cúpula da Aliança do Pacífico, que terminou nesta sexta-feira, no Peru, Santos disse na véspera que combaterá o "terrorismo" com a lei e as armas, depois que duas explosões deixaram dez feridos em Bogotá.

Nesta sexta, Santos afirmou que até agora as investigações apontam para o Exército da Libertação Nacional (ELN), segunda guerrilha ativa no país, como responsável pelas explosões.

Sem fazer alusão às explosões em Bogotá, Alape afirmou que "muitos fatos são atribuídos às Farc, embora não sejam" praticados pela guerrilha comunista.

As duas partes mantiveram as negociações, apesar do recrudescimento das hostilidades.

Esta 38º rodada de diálogos de paz, celebrados desde novembro de 2012, se estendeu mais do que o normal.

O governo e a Farc entraram em acordo sobre três dos seis pontos da agenda de paz e também acordaram um programa de retirada de minas e a criação de uma Comissão da Verdade.

No entanto, ainda devem abordar o tema da justiça para os crimes cometidos ao longo do conflito armado de meio século, sobre o qual têm profundas diferenças.

Segundo cifras oficiais, o conflito deixou até agora 220 mil mortos e seis milhões de deslocados.

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