Ministro das Finanças da Grécia surpreende e pede demissão após vitória no referendo

Atenas, 6 Jul 2015 (AFP) - O ministro grego das Finanças Yanis Varoufakis pediu demissão nesta segunda-feira, em um aparente sacrifício e concessão do primeiro-ministro Alexis Tsipras aos credores internacionais de Atenas, mesmo após a clara vitória do 'Não' no referendo de domingo.

Mas o inesperado anúncio não parece ter comovido a Alemanha, maior economia da Eurozona e que rejeitou nesta segunda-feira a ideia de negociar um novo pacote de ajuda financeira à Grécia, para evitar a saída do país do bloco.

Em um comunicado publicado em seu blog, Varoufakis afirma que considera ter o dever "ajudar Alexis Tsipras a explorar, como desejar, o capital que o povo grego entregou no referendo".

"Pouco depois do anúncio dos resultados do referendo, fui informado de que alguns membros do Eurogrupo e seus "sócios" desejavam minha 'ausência' das reuniões, um ideia que o primeiro-ministro considerou potencialmente útil para obter um acordo", escreveu Varoufakis.

"Por este motivo, deixo, a partir de hoje, o ministério das Finanças", completou o ex-ministro, que nos últimos meses teve muitas divergências com os credores.

Na mensagem ele também adverte que o resultado do referendo, no qual mais de 60% dos gregos rejeitaram as medidas de austeridade exigidas pelos credores internacionais, implica "um alto preço", assim como "qualquer luta pelos direitos democráticos".

"Portanto é essencial que este grande capital concedido ao nosso governo por este contundente 'Não' na votação seja invertido imediatamente em um "Sim" para chegar a uma solução idônea", que implique uma reestruturação da dívida, menos austeridade, uma redistribuição a favor dos necessitados e reformas reais, acrescentou.

Varoufakis reiterou que apoiar o primeiro-ministro Tsipras, o novo ministro das Finanças e o governo.

Yanis Varoufakis, que desde sua nomeação para o ministério ganhou fama por sua linguagem direta, teve muitos confrontos com o Eurogrupo.

Ele também afirmou que carregará com "orgulho o ódio dos credores".

Nos cinco meses de governo de Alexis Tsipras, Varoufakis foi provavelmente o ministro mais amado e odiado no continente, por seu estilo direto e abrasivo, com críticas ácidas à austeridade. No sábado, ele acusou os credores de "terrorismo".

Apesar da saída de Varoufakis, o governo da Alemanha, um dos mais duros com a Grécia, não mudou de ideia,

"As condições para negociar um novo programa de ajuda à Grécia não existem devido à decisão de ontem dos cidadãos gregos no referendo", declarou nesta segunda-feira o porta-voz da chanceler alemã Angela Merkel, Steffen Seibert.

O governo alemão "toma nota do claro 'Não' expressado e respeita este resultado", disse Seibert.

"O governo federal segue disposto ao diálogo", mas "diante da decisão de ontem dos cidadãos gregos, não há condições para negociações sobre um novo programa de ajuda", acrescentou.

A votação do domingo no referendo grego significa "uma rejeição ao princípio que guiou as ajudas aos países (europeus em dificuldades), o princípio segundo o qual a solidariedade e os esforços são indissociáveis", acrescentou.

Por outro lado, um porta-voz do ministério alemão das Finanças considerou que "não há motivo" para negociar uma reestruturação da enorme dívida pública da Grécia (quase 180% de seu PIB), algo que o governo de Atenas pede.

"Não é um tema para nós", disse este porta-voz, Martin Jager. "Não há razão para nos lançarmos outra vez nesta discussão", disse.

No entanto, a Alemanha afirma que não deseja empurrar a Grécia para fora da zona do euro. "A Grécia é membro da zona do euro, cabe à Grécia e ao seu governo fazer o necessário para permanecer" nela, declarou o porta-voz da chanceler Angela Merkel.

Ao comentar a renúncia de Varoufakis, o porta-voz da chanceler se limitou a dizer que o que conta "são as posições, e não as pessoas".

A chanceler Merkel se reúne na noite desta segunda-feira em Paris com o presidente francês para "analisar juntos as consequências do referendo" e "organizar juntos as próximas etapas", segundo Seibert.

Novas propostasOs ministros das Finanças da zona do euro esperam que as autoridades gregas compareçam na terça-feira a Bruxelas com "novas propostas" de reformas e ajustes fiscais, anunciou o Eurogrupo em um comunicado.

"O Eurogrupo discutirá a situação depois do referendo que aconteceu na Grécia em 5 de julho. Os ministros esperam novas propostas das autoridades gregas", afirma o comunicado.

O encontro do Eurogrupo acontecerá antes de uma nova reunião de cúpula extraordinária dos chefes de Estado e de Governo dos 19 países da zona do euro.

Ao mesmo tempo, o vice-presidente da Comissão Europeia a cargo do euro, Valdis Dombrovskis, declarou que estabilidade da Eurozona "não está em jogo" depois do referendo na Grécia.

A federação de bancos alemães também afirmou que vê pouco perigo de contágio da crise grega no resto da zona euro.

"Sem levar em conta o resultado do referendo, não esperamos um aumento do risco de contágio de outros países da zona euro", assegurou em um comunicado o presidente da federação BdB, Michael Kemmer.

Por fim, o presidente russo Vladimir Putin transmitiu ao primeiro-ministro grego seu apoio ao povo do país, informou o Kremlin.

"Putin expressou seu apoio ao povo grego frente as dificuldades que o país deverá superar", segundo um comunicado da presidência após conversa por telefone entre os dois dirigentes.

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