Justiça chilena acusa militares por morte de fotógrafo na ditadura

Em Santiago

  • Andres Poblete/Agencia Uno/AP

    Julio Castañer, apontado como o que ateou fogo ao jovem, é chutado e insultado por manifestantes no aeroporto nesta sexta-feira após ter sido acusados

    Julio Castañer, apontado como o que ateou fogo ao jovem, é chutado e insultado por manifestantes no aeroporto nesta sexta-feira após ter sido acusados

Sete militares chilenos foram acusados pela Justiça, nesta sexta-feira (24), como autores e cúmplices do homicídio do fotógrafo Rodrigo Rojas de Negri, que morreu em 1986 depois de ser queimado vivo por uma patrulha militar.

"Determinou-se a acusação das pessoas que estavam detidas. Particularmente, seis como autores, e um, como cúmplice", informou o juiz Mario Carroza à imprensa.

"Os seis autores são os oficiais e suboficiais que comandavam a patrulha (militar), e o motorista do caminhão foi acusado como cúmplice", detalhou o juiz.

Os acusados como autores são os oficiais reformados Julio Castañer, apontado como o que ateou fogo ao jovem, e Iván Figueroa, além dos suboficiais também reformados Luis Zúñiga, Francisco Vásquez, Nélson Medina e Jorge Astengo. Já Sergio Hernández foi acusado como cúmplice.

A decisão foi tomada quase três décadas depois do que é considerado um dos crimes mais horripilantes da ditadura de Augusto Pinochet, que deixou mais de 3.000 vítimas, entre mortos e desaparecidos.

O caso

O fotógrafo Rodrigo Rojas de Negri, de 19 anos, e a estudante de engenharia Carmen Gloria Quintana, também de 19, participavam de uma manifestação contra o regime de Pinochet, em 2 de julho de 1986, quando foram pegos por uma patrulha militar.

Depois de detidos, os agentes encharcaram os dois com gasolina e atearam-lhes fogo. A dupla foi abandonada, gravemente ferida, no subúrbio de Santiago. A jovem teve queimaduras graves, em 62% do corpo, mas sobreviveu. Ela recebeu tratamento no Canadá, onde vive hoje.

Rodrigo Rojas havia acabado de voltar para o Chile, depois de viver nos Estados Unidos com sua mãe, exilada pela ditadura. O rapaz faleceu depois de quatro dias de agonia.

"Nunca perco a fé em que se faça justiça (...) mas as feridas não ficaram no passado", desabafou a mãe de Rodrigo, Verónica de Negri, torturada e exilada pela ditadura.

Anos de impunidade

Os seis militares acusados foram detidos na quarta-feira (22) por ordem do juiz Mario Carroza, depois que o sétimo militar rompeu o "pacto de silêncio" e confessou a verdade sobre o que aconteceu há 29 anos.

O caso ficou conhecido internacionalmente, devido à crueldade dos militares, e os dois jovens se transformaram em um símbolo dos direitos humanos e da luta contra a ditadura.

A Justiça encerrou o caso nos anos 1990 com apenas um militar condenado por negligência, o oficial Pedro Fernández, chefe da patrulha, em 1993, corroborando a versão de que os dois se queimaram, após a explosão de uma bomba incendiária de fabricação artesanal. Fernández foi condenado a 600 dias de prisão pela morte do fotógrafo.

Em 2000, um tribunal impôs ao militar uma indenização de US$ 500 mil em favor de Carmen Quintana.

"Há informação, há antecedentes e dados que permitem poder processá-los por homicídio qualificado no caso de Rojas de Negri e, de Carmen Gloria Quintana, por tentativa de homicídio qualificado", explicou o juiz Carroza, nesta sexta.

"Estamos satisfeitos com a resolução", declarou o secretário do Programa de Direitos Humanos do governo, Francisco Ugás.

Um dos advogados dos querelantes no caso, Héctor Salazar, disse que, agora, o objetivo é apontar as responsabilidades do alto comando do Exército por suas manobras para "abafar" a história e por contribuir para a impunidade.

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos