Kerry defende no Egito acordo sobre programa nuclear iraniano

Cairo, 3 Ago 2015 (AFP) - O secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou neste domingo no Cairo que o acordo sobre o programa nuclear iraniano vai tornar o Oriente Médio mais seguro.

Do Egito Kerry chegou nesta noite em Doha, onde, na segunda-feira, se encontrará com os colegas do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG: Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Omã e Catar) para tentar dissipar os temores a respeito do acordo sobre o programa nuclear iraniano.

"Não resta dúvida nenhuma de que se for aplicado completamente o acordo Viena, o Egito e todos os países desta região estarão mais seguros do que nunca", afirmou Kerry durante uma entrevista coletiva com o chefe da diplomacia egípcia, Sameh Shukri.

As monarquias do Golfo desconfiam das ambições regionais do Irã xiita. No entanto, a Arábia Saudita, grande rival do Irã na região, expressou oficialmente seu apoio ao acordo.

"Estados Unidos e Egito reconhecem que o Irã está implicado em atividades desestabilizadoras na região, e por isto é tão importante assegurar que o programa nuclear iraniano continua sendo plenamente pacífico", declarou Kerry.

- Novo clima -O presidente iraniano Hassan Rohani declarou em entrevista televisionada neste domingo que o acordo sobre o programa nuclear de seu país alcançado com as grandes potências criará "um novo clima" para solucionar crises regionais como as do Iêmen e a da Síria.

"Vamos insistir em nossos princípios na região, mas seguramente o acordo nuclear criará um novo clima para uma solução política mais rápida das crises regionais", afirmou Rohani, ressaltando que "nunca teve dúvidas" sobre o êxito das negociações.

No Cairo, o secretário de Estado, que também se reuniu com o presidente egípcio Abdel Fatah al Sissi, afirmou que o Egito precisa encontrar um "equilíbrio" entre sua luta contra uma insurreição jihadista sem precedentes e o respeito aos direitos humanos.

Washington continua denunciando a terrível repressão empreendida pelo regime do presidente Abdel Fatah al Sissi contra os partidários de seu antecessor, o islamita Mohamed Mursi, derrubado em 2013.

Entretanto, os dois países, que mantinham relações tumultuadas desde a revolta egípcia de 2011, se reconciliaram nos últimos meses, sobretudo desde que os Estados Unidos retomaram em março a assistência militar de 1,3 bilhão de dólares por ano.

"Estados Unidos e Egito estão voltando a encontrar uma base mais sólida para suas relações", assegurou Kerry.

"Houve tensões sobre alguns temas. Os Estados Unidos expressaram sua preocupação (...) em matéria de proteção aos direitos humanos", afirmou.

Um tribunal egípcio adiou deste domingo para 29 de agosto o veredicto do novo julgamento de três jornalistas da emissora Al-Jazeera, que foram condenados a sentenças de 7 a 10 anos de prisão, o que provocou muitos protestos internacionais.

Detidos em dezembro de 2013, o australiano Peter Greste, o canadense Mohamed Fahmy e o egípcio Baher Mohamed são acusados de "divulgar informações falsas" para apoiar a Irmandade Muçulmana, organização do ex-presidente islamita Mohamed Mursi.

- 'Ameaça muito grave' -Durante seu encontro com Sissi, Kerry ressaltou "a importância da liberdade de imprensa", segundo um diplomata americano.

Além disso, reiterou "o compromisso dos Estados Unidos em apoiar os egípcios em seus esforços para lutar contra o terrorismo e frear o avanço do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) na região e no Egito", segundo a mesma fonte.

Cairo e Washington estão muito preocupados pela insurreição na península egípcia do Sinai, o que Kerry classificou como uma "ameaça muito grave" para o Egito.

O norte dessa região é o bastião do grupo jihadista Ansar Beit al Maqdes, que passou a se chamar "Província do Sinai", em sinal da lealdade ao "califado" autoproclamado pelo EI em regiões do Iraque e Síria.

Os atentados contra as forças de segurança se multiplicaram desde que o exército derrotou Mursi em 2013. Centenas de policiais e soldados morreram nesses ataques, segundo as forças de segurança, que afirmam ter matado mais de mil jihadistas no Sinai.

Na sexta-feira, Washington anunciou a entrega ao Egito de oito dos 12 aviões de combate F-16 prometidos em março.

"Aumentamos de forma significativa a cooperação militar, como se pode comprovar com a entrega dos F-16 e de outros equipamentos e bens essenciais para a luta contra o terrorismo", disse Kerry.

Segundo fontes americanas, em Doha, o secretário de Estado também participará de um encontro tripartite com os chanceleres russo e saudita, Serguei Lavrov e Adel al Jubeir, respectivamente, para conversar sobre as guerras na Síria e no Iêmen.

Kerry, que viajará até 8 de agosto, não passará por Israel, um dos maiores aliados de Washington na região e um dos mais críticos opositores ao acordo sobre o programa nuclear iraniano.

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