Maduro amplia fechamento da fronteira e aprofunda crise Venezuela-Colômbia

Carcacas, Venezuela, 29 Ago 2015 (AFP) - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, anunciou nesta sexta-feira o fechamento de um segundo trecho da fronteira com a Colômbia no estado de Táchira, um dia depois de os dois governos chamarem para consultas seus embaixadores após o fechamento de um primeiro trecho.

"Decidi fechar a fronteira da zona de número 2 do estado de Táchira para limpar o paramilitarismo, a criminalidade, o contrabando, os sequestros, o narcotráfico", disse Maduro, em um ato público multitudinário em Caracas.

Em um discurso acalorado, Maduro explicou que o fechamento, que afeta os municípios de Ayacucho, Lobatera, Panamericano e García de Hevia, entrará em vigor a partir das cinco da manhã de sábado e que mobilizará "3.000 homens para procurar paramilitares até debaixo das pedras".

Trata-se do segundo setor fronteiriço deste estado que o presidente decide fechar, depois do anúncio de fechamento, na semana passada, de uma primeira zona composta por seis municípios, de decretar o estado de exceção e de deportar mais de mil colombianos que viviam no território venezuelano, sob o argumento de que a fronteira está tomada pelos paramilitares colombianos.

Além dos deportados, estima-se que entre 5 mil e 6 mil colombianos fugiram da Venezuela por temer sua expulsão sem poder levar seus pertences.

Maduro adotou estas medidas dias depois de um ataque a tiros de indivíduos não identificados que deixou três militares e um civil venezuelanos feridos, quando realizavam uma operação de combate ao contrabando.

As chanceleres Delcy Rodríguez (Venezuela) e María Angela Holguín (Colômbia) se reuniram na quarta-feira passada em Cartagena, no Caribe colombiano, mas os governos de Caracas e Bogotá elevaram o tom da crise na quinta ao chamar a consultas seus respectivos embaixadores.

Maduro, no entanto, também pediu nesta sexta a seu colega colombiano, Juan Manuel Santos, que se reúnam para buscar soluções ao conflito entre os dois países.

"Estou disposto a me encontrar com o presidente Santos para discutir estes temas quando ele quiser e como quiser (...). Chegou a hora de conversarmos cara a cara para resolver este assunto", disse Maduro para uma multidão reunida diante do Palácio de Miraflores.

O presidente venezuelano sustenta no lucrativo contrabando na zona fronteiriça estão envolvidos paramilitares que, aliados com a direita local, buscam desestabilizar seu governo.

Colômbia e Venezuela dividem uma porosa fronteira de 2.219 km, onde as autoridades dos dois países denunciam a presença de grupos guerrilheiros, paramilitares, narcotraficantes e contrabandistas de combustíveis e outros produtos fortemente subsidiados pelo governo venezuelano.

- OEA e Unasul entram em cena -Diante da crise, diplomatas da Organização dos Estados Americanos (OEA) realizarão na próxima segunda-feira uma reunião extraordinária para analisar a situação dos colombianos deportados pela Venezuela, o que gerou o atrito bilateral.

O Conselho Permanente da OEA "celebrará uma sessão extraordinária", a pedido da representação da Colômbia, para responder à "situação humanitária que vivem os cidadãos colombianos" na Venezuela, "gerada pela forma com que estes cidadãos colombianos estão sendo deportados e obrigados a partir" do país, informou o organismo.

A sessão será realizada na tarde de segunda, na sede do organismo regional em Washington.

A ministra das Relações Exteriores da Colômbia, María Ángela Holguín, havia proposto na véspera uma reunião dos chanceleres da OEA para tratar da expulsão dos colombianos que viviam na fronteira.

Holguín informou nesta sexta-feira que pedirá o envio de uma missão da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) à fronteira para verificar o drama humanitário de deportados e refugiados.

A Unasul fará uma reunião extraordinária de chanceleres para analisar a crise na próxima quinta-feira, em Quito, sede do organismo regional.

Também nesta sexta, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão autônomo da OEA, expressou "sua profunda preocupação ante as deportações arbitrárias e coletivas de migrantes colombianos em situação migratória irregular, que vêm sendo realizadas pelas autoridades venezuelanas".

A Comissão, com sede em Washington, exigiu que à Venezuela "detenha de forma imediata qualquer expulsão coletiva, arbitrária e/ou sumária" e garanta o "devido processo" aos deportados.

As expulsões coletivas são manifestamente contrárias ao direito internacional", destacou.

Os governos de Brasil e Argentina informaram que observam com "preocupação" a crise entre Colômbia e Venezuela e mostraram sua disposição de colaborar para resolver a situação através dos mecanismos regionais.

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