Europa finalmente se mobiliza; centenas de refugiados na fronteira húngara

Budapeste, 30 Ago 2015 (AFP) - Vários líderes europeus defenderam neste domingo o direito de asilo dos refugiados, num momento em que centenas de migrantes continuam a atravessar a fronteira húngara, um dos pontos de entrada da União Europeia, apesar da conclusão de uma cerca de arame farpado para contê-los.

O primeiro-ministro francês e os chefes da diplomacia italiana e francesa se pronunciaram a favor de uma rápida intervenção em favor da concessão de asilo aos refugiados, enquanto Berlim, Londres e Paris convocaram uma reunião ministerial nas próximas duas semanas "para avançar concretamente" ante a crise migratória.

Em uma declaração conjunta, os ministros francês, alemão e britânico do Interior - Bernard Cazeneuve, Thomas de Maizière e Theresa May - ressaltaram "a urgência de criar, o mais tardar antes do final do ano, na Grécia e na Itália" centros de triagem para separar as pessoas em situação de refugiado e os migrantes econômicos ilegais.

Os três ministros também defenderam o estabelecimento, "muito rapidamente", de uma "lista de países de origem segura", a fim de "completar o Sistema de Asilo Europeu Comum, proteger os refugiados e assegurar a eficácia do retorno de imigrantes ilegais para os seus países de origem."

A Itália fará da obtenção "do direito europeu de asilo" sua batalha dos próximos meses, assegurou neste domingo o primeiro-ministro Matteo Renzi.

"A Europa deve parar de se comover e começar a se mover. Devemos escolher, finalmente, (...) ter uma política europeia de imigração, com um direito europeu de asilo", insistiu em entrevista ao Corriere della Sera.

Os imigrantes que "fogem da guerra, da perseguição, tortura, opressão, devem ser acolhidos", insistiu o primeiro-ministro francês, Manuel Valls.

"Cada pedido de asilo deve ser considerado rapidamente", acrescentou Valls, em um discurso em La Rochelle (oeste). "Os imigrantes devem ser tratados com dignidade, protegidos, bem cuidados".

O chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, considerou por sua vez neste domingo "escandalosa" a atitude de alguns países do leste europeu ante a crise de refugiados.

"Quando eu vejo alguns países europeus que não aceitam as quotas (distribuição de exilados), considero isso escandaloso", disse aos veículos Europe 1, i-TV e Le Monde, acrescentando que estes países estão "no leste da Europa".

Na mesma linha, o papa Francisco denunciou neste domingo a morte de 71 imigrantes - provavelmente sírios - encontrados na quinta-feira em um caminhão abandonado numa estrada entre Budapeste e Viena, exigindo "uma cooperação eficaz" contra "crimes que ofendem a humanidade ".

O ministros do Interior da UE celebrarão uma reunião de emergência em Bruxelas para tratar do tema em 14 de setembro.

"Com o objetivo de avaliar a situação no terreno, as ações políticas em curso e discutir novas iniciativas que reforcem a resposta europeia, o ministro da Imigração e Asilo de Luxemburgo, Jean Asselborn, decidiu organizar um conselho JAI (Conselho de Justiça e Assuntos do Interior) extraordinário", informou em um comunicado.

Trapos presos ao arame farpadoEnquanto isso, centenas de imigrantes continuavam neste domingo a atravessar a fronteira sérvio-húngara, apesar da conclusão de uma cerca de arame farpado pela Hungria de 175 km ao longo fronteira.

No sul da Sérvia, em meio ao ar empoeirado de um centro de acolhida de migrantes em Presevo, Samar, uma síria de 40 anos, mãe de dois adolescentes, esperava sentada em um pedaço de papelão que seu marido terminasse os trâmites para se registrar junto às autoridades sérvias.

"O pior desta viagem é a humilhação", declarou à AFP. "Estamos em um labirinto, de uma fila de espera para a outra e agora aqui na Sérvia, a polícia grita conosco como se fôssemos animais", disse, entre lágrimas, esta refugiada de Damasco.

No início da manhã, um grupo de cerca de 200 pessoas atravessou a fronteira, constatou um jornalista da AFP.

A polícia indicou que 3.080 pessoas haviam cruzado a fronteira no sábado.

Hoje, poucos eram os imigrantes a entrar na Hungria passando por debaixo da cerca de arame farpado, onde era possível ver muitos pedaços de roupa.

A grande maioria se dirigia à linha férrea onde nenhuma barreira foi erguida, e onde os trens passam a baixa velocidade.

As autoridades húngaras instalaram para os imigrantes tendas, banheiros químicos e cestos de lixo. Na chegada, eles são levados para campos de registro de refugiados.

Membros das forças especiais da polícia também eram vistos revistando os campos com cães.

Além disso, em Budapeste, um quinto suspeito, um búlgaro, foi preso pela polícia húngara na madrugada deste domingo como parte da investigação sobre o caminhão que continha 71 corpos de imigrantes, informou a polícia neste domingo.

Quatro homens - três búlgaros e um afegão - haviam sido presos na sexta-feira e a justiça os acusa de ser os "pequenos executores" de uma quadrilha de tráfico de pessoas.

Também neste domingo, o Crescente Vermelho líbio informou que pelo menos sete corpos jaziam na praia de Khoms, 120 km ao leste de Trípoli, após mais um naufrágio em frente à costa líbia.

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos