Médicos Sem Fronteiras deixa Kunduz depois de bombardeio a hospital

Cabul, 4 Out 2015 (AFP) - A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) anunciou neste domingo a retirada de todo seu pessoal de Kunduz, um dia depois que um bombardeio, supostamente americano, matou 22 pessoas no hospital que a ONG gerenciava na cidade afegã.

O fechamento deste centro terá graves consequências para a população civil, encurralada pelos combates entre o exército afegão e os rebeldes talibãs para assumir o controle da cidade.

"O hospital da MSF já não pode continuar funcionando. Os pacientes em estado crítico foram transferidos para outros estabelecimentos. Nenhum funcionário da MSF está mais no hospital", informou Kate Stegeman, porta-voz da organização no Afeganistão.

"Neste momento, não sei dizer se o centro de traumatologia de Kunduz voltará a abrir", enfatizou.

Neste domingo, o diretor-geral da MSF, Christopher Stokes, pediu "uma investigação exaustiva e transparente" de um organismo internacional independente.

Segundo o diretor de operações da organização, Bart Janssens, os bombardeios continuaram "durante mais de 45 minutos" depois de que a MSF informou aos exércitos afegão e americano que seu estabelecimento havia sido alcançado pelas primeiras bombas.

Janssens explicou também que havia transmitido as coordenadas GPS de seu hospital a "todas as partes" envolvidas no conflito. "Os impactos estavam muito localizados, todos no mesmo edifício. O avião foi e voltou para provocar uma nova série de impactos, exatamente no mesmo edifício", afirmou.

No momento do bombardeio, mais de 100 pacientes e 80 membros da equipe, afegãos e estrangeiros, estavam no hospital.

Efeitos colateraisO presidente americano Barack Obama apresentou suas "profundas condolências" após o ataque do sábado no qual morreram 12 funcionários da MSF e 10 pacientes, entre eles três crianças; mas afirmou que irá esperar os resultados da investigação "antes de fazer um julgamento definitivo sobre as circunstâncias desta tragédia".

A Otan, que conta com 13.000 soldados no Afeganistão, incluindo 10.000 americanos, classificou o incidente como "efeitos colaterais", que pode ter sido provocado por um bombardeio da aviação americana, que tinha como alvo insurgentes talibãs.

O exército afegão lançou na última terça-feira uma ofensiva contra os talibãs que haviam conquistado Kunduz (nordeste) na segunda-feira.

O alto comissário para os Direitos Humanos das Nações Unidas, Zeid Ra'ad Al Hussein, pediu uma investigação completa e transparente dos fatos, e assinalou que, diante de uma corte de Justiça, "o bombardeio a um hospital pode ser considerado crime de guerra".

A MSF também mostrou sua cólera diante do ocorrido e exigiu que sejam esclarecidas rapidamente as circunstâncias do ataque. Sua presidente, Meinie Nicolai, condenou que a expressão "efeitos colaterais" seja utilizada para se referir a essa tragédia.

O ataque deixou o prédio em chamas e dezenas de pessoas gravemente feridas. Fotografias publicadas pela MSF mostram funcionários da ONG em estado de choque.

Segundo a MSF, o bombardeio prosseguiu por mais de 30 minutos depois que a ONG avisou aos exércitos americano e afegão que estava sendo atingida por projéteis.

O centro de traumatologia da MSF em Kunduz era a única instalação médica na região que pode tratar lesões graves.

Segundo um funcionário americano, a investigação estudará o papel de um avião AC-130, um aparato derivado do avião de transporte C-130, equipado com vários canhões para realizar operações de apoio às forças terrestres.

A operação tinha como objetivo seguramente "terroristas armados que atacaram o hospital de MSF e o utilizaram como base para atacar as forças afegãs e os civis", declarou o ministério afegão de Defesa.

Nenhum disparoOs ataques aéreos da Otan suscitaram controvérsia pelos "danos colaterais" que provocaram, mas tornaram-se uma ajuda chave para o exército afegão em sua contraofensiva em Kunduz.

Os talibãs conseguiram tomar a cidade em apenas algumas horas na segunda-feira, conseguindo sua maior vitória desde a queda de seu regime em 2001.

As forças de segurança mostraram uma vez mais as dificuldades que têm para combater os combatentes islamitas.

Neste domingo, após três dias de combates, a calma parecia ter voltado à cidade "livre de talibãs', segundo Sayed Sarwar Husaini, porta-voz da polícia local.

"Desde de a noite de sábado, não ouvimos nenhum disparo, nenhuma explosão", declarou Shir Alam, um comerciante de Kunduz.

Kunduz está mergulhada numa crise humanitária, com milhares de civis encurralados pelo fogo cruzados das duas forças, as tropas do governo e os rebeldes talibãs.

No momento, não se conhece com exatidão o número de vítimas dos combates travados naquela localidade, mas autoridades disseram ontem que ao menos 60 pessoas morreram e 400 ficaram feridas.

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