Incêndio em centro de acolhida na Argélia mata 18 imigrantes africanos

Em Argel

Dezoito migrantes africanos morreram na Argélia durante incêndio em um centro de acolhida, um incidente incomum neste país convertido em destino privilegiado dos subsaarianos desde que a vizinha Líbia mergulhou no caos.

Duas crianças e três mulheres estão entre os falecidos neste centro aberto em 2014 para abrigar os milhares de imigrantes que chegam há alguns anos, principalmente do Mali e do Níger, países que fazem fronteira com a Argélia.

"O incêndio foi declarado às 3h (0h, no horário de Brasília), matando 18 pessoas e ferindo outras 50 em Ouargla (800 km a sudeste da capital)", declarou o coronel Faruk Ashur, dos serviços de proteção civil.

Até o momento não foi identificada a nacionalidade das vítimas.

"A explosão e o incêndio aconteceram devido a um curto-circuito (no sistema de) calefação", declarou à AFP Saida Benhabiles, presidente do Crescente Vermelho Argelino (CRA), indicando que 27 feridos continuam hospitalizados.

Havia mais de 650 pessoas no lugar, um galpão equipado e posto à disposição aos migrantes pelas autoridades locais, explicou o coronel.

"Ao invés de deixá-los de fora, pusemos à sua disposição um centro aberto. Não fechamos as portas para as pessoas, como fazem em outros lugares", destacou a presidente do CRA.

"Respeitamos a cultura destas pessoas, um dia são duas mil, no dia seguinte, 200. Deslocam-se o tempo todo", acrescentou.

A polícia e a prefeitura abriram uma série de investigações sobre o ocorrido.

O ministério das Relações Exteriores estabeleceu uma unidade de crise. "Este coordena sua ação em conjunto com instituições nacionais para acompanhar a evolução da situação e a identificação das vítimas", destaca em um comunicado em que presta seus pêsames aos familiares dos falecidos.

Racismo

Há algum tempo, migrantes se instalavam na grande cidade de Tamanrasset, próxima do Mali e do Níger, ou cruzavam a Argélia com o objetivo de chegar à Europa, mas agora é cada vez maior o número de pessoas que permanecem no norte do país.

Nas ruas, é possível ver muitas mulheres com seus filhos pedindo esmola.

A Argélia se tornou um destino para os migrantes subsaarianos diante do caos que reina na Líbia. Várias ONGs denunciam o aumento do racismo, inclusive em artigos de imprensa, após esta influência migratória.

Os meios de comunicação asseguram que muitas refugiadas foram violentadas. O último caso relevado pelas ONGs em Oran (oeste) é de uma camaronesa estuprada em setembro por oito homens.

Inicialmente, ela foi impedida de apresentar uma queixa, uma vez que sua estadia no país era irregular, mas pôde fazê-lo graças à mobilização de associações e cidadãos.

"A instrução está em andamento", afirma Fatma Bukenik, do coletivo Solidariedade com os Subsaarianos e Refugiados em Oran. Segundo ela, dois dos supostos agressores foram detidos.

Esta ativista lamenta que Marie Simonne, como se chama a mulher, tenha aparecido em um vídeo transmitido por um canal local e na internet. "Desde então, sofre assédio em seu bairro", afirmou Bufenik.

A influência de migrantes levou o governo argelino a concluir um acordo com Niamey para o regresso de cidadãos nigerianos. Desde o ano passado, 4 mil deles foram repatriados, afirma Benhabiles.

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