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Tratamento preventivo contra Aids reduz em 86% risco de infecção, diz estudo

Truvada é apontado como revolução no tratamento contra a Aids - AP Photo/Jeff Chiu
Truvada é apontado como revolução no tratamento contra a Aids Imagem: AP Photo/Jeff Chiu

Em Paris

01/12/2015 16h23

Os resultados de um estudo francês que mostra que um tratamento preventivo contra a Aids feito antes e após as relações sexuais permitia reduzir em 86% o risco de infecção foram publicados nesta terça-feira (1°) pela revista médica americana New England Journal of Medicine.

Os resultados do ensaio Ipergay, conduzido com 414 homossexuais franceses e canadenses, já haviam sido apresentados publicamente em fevereiro na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI), realizada em Seattle, nos Estados Unidos. Mas eles ainda não tinham sido publicados em uma revista médica de referência, como é a regra na comunidade científica.

A publicação coincide com o Dia Mundial Contra a Aids e vem apenas uma semana após o sinal verde dado pela França para o uso do Truvada - uma combinação de antirretrovirais do laboratório norte-americano Gilead já utilizado pelos pacientes - como uma ferramenta para a prevenção.

A ministra da Saúde francesa, Marisol Touraine, anunciou em 23 de novembro que o tratamento preventivo será 100% subsidiado desde o início do próximo ano para as pessoas hiv-negativas com risco elevado de contaminação. Sua decisão foi baseada principalmente nos resultados do teste feito com o Ipergay.

Ao contrário dos estudos feitos nos Estados Unidos e do Reino Unido sobre terapia preventiva administrada continuamente (um comprimido por dia), o estudo coordenado pela Agência Nacional de Pesquisas sobre Aids (ANRS) baseou-se num tratamento avulso, com dois comprimidos de Truvada tomados antes da relação de risco, um terceiro no dia seguinte e um quarto no dia seguinte dois dias mais tarde.

Meio adicional de prevenção

Metade do grupo estudado recebeu Truvada e a outra metade um placebo. Dezesseis infecções ocorreram durante os nove meses de follow-up dos participantes, incluindo 14 no grupo placebo e dois no grupo Truvada, mas os autores observam que ambos interromperam o tratamento várias semanas antes da infecção.

Para Jean-Michel Molina, um dos autores do teste, "os resultados do estudo mostram por um lado que o risco de infecção pelo HIV é muito elevado na França e no Canadá nas populações de risco e, por outro, que o tratamento preventivo permite uma redução importante do risco, justificando sua implantação como um meio adicional de prevenção contra o HIV".

O teste com o Ipergay deve, segundo a ANRS, ser realizado em 2016, para trazer novos dados sobre "a eficácia a longo prazo" do tratamento preventivo, mas também sobre "sua observação e seu impacto nos comportamentos sexuais".

Segundo os primeiros resultados do Ipergay, os participantes não correram mais riscos que antes e poucos abandonaram o tratamento, diferentemente do que ocorreu num estudo norte-americano conduzido em 2010 sobre um tratamento contínuo.