Oposição síria cancela reunião com mediador da ONU

Em Genebra

  • Sameer Al-Doumy/AFP

As negociações de paz na Síria foram fortemente freadas nesta terça-feira (2) depois que a oposição exigiu, em Genebra, novas medidas urgentes a favor da população civil, enquanto o regime assegurava que não havia ninguém com quem negociar.

O enviado especial da ONU Staffan de Mistura, que abriu formalmente as discussões indiretas na segunda-feira (1º), reuniu-se durante mais de duas horas com a delegação do governo. No mesmo dia, também se reuniu com os opositores.

O resultado destas primeiras tentativas de diálogo foi um sonoro fracasso.

"Ainda estamos na fase preparatória das negociações indiretas. Estamos esperando pela agenda e para saber com quem vamos negociar", explicou o embaixador sírio ante a ONU, Bashar Al-Jaafari.

A outra parte, disse o diplomata, "não é séria" e não aborda "as questões como políticos profissionais".

O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, saudou, em Abu Dhabi, o início do processo, mas advertiu que os opositores presentes em Genebra não devem ser considerados negociadores porque estão ali "a título pessoal".

A composição da delegação do Alto Comitê de Negociações (ACN), que inclui políticos e representantes de grupos armados, é duramente criticada por Damasco e seus aliados, que consideram "terroristas" alguns de seus interlocutores.

A oposição denuncia o sofrimento inenarrável da população civil. Em cinco anos, a guerra causou mais de 260 mil mortes e aproximadamente 4,2 milhões de refugiados e deslocados.

O dilema da oposição

O processo teve início com vantagem de negociação para o regime. A oposição parecia dividida, entre sua ânsia de não bloquear um processo de paz e suas exigências para que a situação melhore imediatamente no país.

Nesta terça-feira, seus representantes decidiram não participar da reunião no Palácio das Nações da ONU convocada por De Mistura.

"Apresentamos nossas exigências", e "não há nenhuma razão para repetir tudo de novo com De Mistura", explicou a porta-voz do ACN, Farah Atassi.

Outra porta-voz da oposição, Basma Kodmani, denunciou as operações militares "sem precedentes" do exército sírio e as ações da aviação russa contra as cidades de Aleppo e Homs.

"Pensamos que o prazo seja, talvez, curto demais para que De Mistura obtenha algo dos sócios internacionais, da Rússia e do regime. Por isto, resolvemos lhes dar um dia a mais antes de nos reunir", disse Kodmani.

O ACN sustenta três exigências essenciais: que o regime cesse as operações militares nas cidades e zonas controladas por rebeldes, a libertação de presos e o fim dos bombardeios.

Ante o Palácio das Nações, com o chão tomado por fotografias de crianças sírias vítimas de bombardeios, os opositores denunciaram que o regime e seus aliados russos cometeram "novos massacres".

As forças do regime sírio tomaram vários povoados localizados ao norte da cidade de Aleppo (norte do país), em uma tentativa de acabar com uma longa operação rebelde nas localidades xiitas.

Nesta terça-feira, a agência estatal síria Sana disse que as tropas do governo, apoiadas por milícias pró-regime, "estabeleceram a segurança e a estabilidade de Hardatnin".

Previamente, tomaram outros dois povoados na zona, que sofreram, em pouco mais de 24 horas, um total de 270 bombardeios russos, segundo uma contagem do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

Diálogo indireto

A estratégia do enviado especial da ONU é instaurar um diálogo indireto entre ambas as partes, com emissários encarregados de levar mensagens de um lado ao outro. Segundo anunciou, é esperado que as conversações durem cerca de seis meses.

O objetivo é acordar uma autoridade de transição que organize as eleições na metade de 2017.

Na quinta-feira, está prevista uma conferência de doadores em Londres, em que se espera arrecadar fundos para ajudar as 13,5 milhões de pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade na Síria.

No ano passado, a ONU e seus agentes pediram 8,4 bilhões de dólares para os sírios, mas só receberam aproximadamente 3,3 bilhões.

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