Médicos usam 'medicina de guerra' nas vítimas de atentados de Bruxelas
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Michael Villa/ AFP
Corpos mutilados, membros dilacerados e ferros cravados na carne: os médicos que desde terça-feira (22) tratam as vítimas dos ataques em Bruxelas enfrentam uma verdadeira "medicina de guerra".
"São ferimentos de guerra, membros arrancados, fraturas, traumatismo craniano, queimaduras", explica Jacques Creteur, chefe do setor de cuidados intensivos do hospital Erasme de Bruxelas, onde são tratados 16 vítimas dos ataques de terça-feira no aeroporto e metrô da capital belga.
"O mais difícil é que todos eles são vítimas inocentes", diz.
Três pacientes lutavam nesta quarta-feira entre a vida e a morte neste hospital, um dos muitos que cuida das vítimas. O último balanço oficial é de 31 mortos e mais de 300 feridos, muitos deles gravemente.
"Tivemos pacientes que chegaram com membros mutilados, impactos de detritos ou estilhaços de vidro que voaram de uma bomba ou de objetos que explodiram", explica Creteur.
A consequência destas lesões é que, para salvar as vítimas, é preciso praticar uma medicina mais comum a um campo de batalha do que a uma cidade europeia como Bruxelas.
"Em muitos pacientes tivemos que aplicar o que chamamos de 'controle de danos', que pode significar uma primeira operação para parar uma hemorragia, ou, no caso de um membro completamente destruído, uma operação para colocá-lo simplesmente no lugar, nada mais", explica o médico.
Nos pacientes mais graves, tentar curar muitas lesões em uma única operação é muito arriscado, porque a perda de sangue ou complicações podem colocar suas vidas em perigo.
Os médicos preferem estabilizar os pacientes neste primeiro momento de tratamento. "Trata-se de cirurgia de guerra, nas forças armadas os médicos são especialistas em controle de danos", diz Creteur.
Para complicar ainda mais a situação, o efeito sobre o corpo humano de uma explosão dessa magnitude pode ter consequências que não são detectadas no início. Este é o caso da onda de choque, o que pode afetar o cérebro, pulmões ou intestinos.
Corrida contra o relógio
Encontrar as lesões é uma corrida contra o relógio para os médicos, que recorrem a exames de corpo inteiro para detectar danos antes que seja tarde demais.
Ao mesmo tempo, para as vítimas mais graves, sobreviver é apenas o primeiro passo, porque as consequências podem ser sentidas por toda a vida, dizem os médicos.
Em muitos casos, vão precisar de anos fazendo reabilitação. Adicionado a isso, há o risco de depressão e estresse pós-traumático depois de viver um ataque, o que por vezes impede as vítimas de estar em um lugar com muitas pessoas ou entrar em um trem, por exemplo.
No hospital Erasme, os médicos já receberam casos graves --como acidentes de carro, explosões de gás-- mas nunca envolvendo tantas vítimas ao mesmo tempo, com todo o impacto emocional que isso implica.
Christian Melot, o chefe do setor de emergência do Erasme, explica um dos casos que mais o marcou: o de um homem jovem com ferimentos graves que chegou ao hospital.
Naquele dia, sua mãe lhe telefonou para dizer que havia ocorrido um ataque no aeroporto e que não pegasse o metrô. "E ele disse 'mas isso aconteceu em Zaventem, não tem nada a ver com o metrô'. Então ele pegou o metrô e foi ferido na explosão na estação de Maalbeek", relatou Melot.
"Um conjunto de circunstâncias realmente incrível, mas infelizmente foi o que aconteceu", lamentou.