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Atuação do FBI é questionada após chacina em Orlando

Em Orlando

13/06/2016 10h29

Como um homem conhecido do FBI por sua radicalização foi capaz de comprar armas e matar 49 pessoas em uma boite de Orlando? A pergunta surge com insistência, um dia após o massacre.

A investigação do FBI identificou, já no domingo, Omar Seddique Mateen, um homem de 29 anos e nascido em Nova York, como o autor do ataque na boite gay Pulse, nesta cidade da Flórida mais conhecida por seus parques de diversões.

Poucos minutos antes de iniciar o ataque, o pior tiroteio na história dos Estados Unidos, ele telefonou aos serviços de emergência para jurar "lealdade" ao grupo Estado Islâmico (EI), indicou no domingo o chefe do FBI em Orlando, Ronald Hopper.

Um dos feridos, Angel Colon Jr., descreveu a seu pai um agressor confiante, que agiu de forma metódica.

"Ele passava por cada pessoa caída no chão e atirava para ter certeza de que ela estava morta", disse ao sair do hospital Orlando Regional Medical Center, Angel Colon, após visitar seu filho.

O massacre lembra o cometido na casa de espetáculos parisiense Bataclan, em 13 de novembro, com uma tomada de reféns que foi seguida de um massacre.

Na madrugada de domingo para esta segunda-feira, as autoridades atualizaram a lista das vítimas mortas e identificadas, apenas 10, enquanto que o atentado fez ao menos 49 mortos, mais o atirador, e 53 feridos.

As reações de indignação e declarações se multiplicam no mundo inteiro. O papa Francisco evocou "uma nova manifestação de uma loucura mortal e de um ódio insensato".

Interrogado três vezes pelo FBI em Orlando, as primeiras manifestações ocorreram no domingo, principalmente em uma igreja na presença do governador Rick Scott, mas outra, maiores são esperadas nesta segunda-feira.

A associação de defende dos direitos da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) Equality Florida anunciou uma manifestação nesta segunda à noite no lago Eola, um dos muitos lagos que salpicam a área.

Cerca de 1.500 pessoas confirmaram presença na página do Facebook da associação.

OneBlood, agência de coleta de sangue, informou que não precisa mais de doações, depois que milhares de pessoas se apresentaram espontaneamente no domingo para doar.

À medida que as primeiras horas de urgência se dissipam, todos os olhares começam a se voltar para a investigação.

Os investigadores devem agora tentar determinar se Omar Seddique Mateen agiu sozinho ou sob ordens e compreender o seu percurso até cometer o massacre.

No domingo, Ronald Hopper disse que o suspeito havia sido interrogado três vezes pelo FBI em dois inquéritos.

O primeiro interrogatório aconteceu em 2013 sobre palavras radicais que ele teria proferido em seu local de trabalho.

Ele trabalhava desde 2007 e até a data do ataque na empresa G4S, segundo confirmou no domingo a companhia britânica, uma das maiores de segurança do mundo.

Após interrogar seus colegas, monitorar e verificar seus passos, o FBI não foi capaz de provar que Omar Mateen tinha realmente feito as declarações e encerrou o caso.

Um ano depois, um novo interrogatório, desta vez sobre suas ligações com Moner Mohammad Abusalha, um americano da Flórida que se juntou ao grupo Estado Islâmico antes de morrer em um atentado com caminhão-bomba em maio de 2014.

O FBI considerou na época que o contato entre os dois homens era "mínimo" e que "não havia uma relação significativa ou uma ameaça", de acordo com Ronald Hopper.

"Não havia nada que permitisse manter a investigação aberta", insistiu.

Deixado em liberdade, sem antecedentes criminais, Omar Mateen tinha duas licenças para a compra de armas, com as quais adquiriu, alguns dias antes do ataque, uma pistola e uma arma longa.

O candidato presidencial republicano à Casa Branca Donald Trump disse que o ataque validava a sua proposta de proibir os muçulmanos de entrar em território americano.

"Desde 11 de setembro, centenas de migrantes e seus filhos se viram envolvidos no terrorismo nos Estados Unidos", disse ele em um comunicado.

Mas o debate parecia se orientar na direção de um tema mais recorrente, o controle de armas nos Estados Unidos.

Para o presidente Barack Obama, o ataque de domingo é "um lembrete da facilidade com a qual alguém pode obter uma arma que lhe permite atirar em pessoas em uma escola, lugar de culto, cinema ou boate".

Ele estava se referindo ao tiroteio de Newton (26 mortes em 2012), de Charleston (9 mortes em 2015) e Aurora (12 mortes em 2012).