Rússia anuncia trégua de 48 horas na cidade síria de Aleppo
O ministério russo da Defesa anunciou na madrugada desta quinta-feira (16) um cessar-fogo de 48 horas para "estabilizar a situação" na cidade síria de Aleppo, que já está em vigor.
"Por iniciativa da Rússia, um 'regime de silêncio' entrou em vigor em Aleppo, durante 48 horas, a partir de 00h01 de 16 de junho (18h01 de quarta-feira de Brasília) com o objetivo de reduzir o nível de violência e de estabilizar a situação", informou o ministério em Moscou.
O comunicado não indica com quem a Rússia negociou a trégua.
Na nota, o ministério da Defesa acusa a Frente Al-Nosra, braço sírio da Al-Qaeda, de ter atacado vários bairros em Aleppo com lança-foguetes e de ter realizado uma ofensiva com tanques contra o sudoeste da cidade.
Horas antes do anúncio, o chefe da diplomacia americana, John Kerry, havia advertido o presidente sírio, Bashar al-Assad, e a Rússia sobre a necessidade de se respeitar o fim das hostilidades.
"É evidente que o cessar das hostilidades é frágil e está ameaçado, e que é crucial instaurar uma verdadeira trégua. Somos conscientes, não temos ilusões", disse o secretário de Estado americano em Oslo, em referência ao cessar-fogo instaurado em fevereiro, com mediação de Moscou e Washington, mas que é desrespeitado desde abril.
"A Rússia tem que entender que nossa paciência não é infinita. De fato, (nossa paciência) é muito limitada a respeito de saber se Assad prestará ou não contas", destacou Kerry, que se reuniu em Oslo com o colega iraniano Mohamad Javad Zarif..
Washington "também está disposto a pedir contas aos (grupos armados) membros da oposição (...) que continuam os combates violando o cessar-fogo", disse.
Além da trégua, Rússia e Estados Unidos respaldam um processo de paz, atualmente paralisado, para acabar com um conflito que provocou mais de 280 mil mortes e deixou milhões de deslocados em cinco anos.
No campo de batalha
No campo de batalha, ao menos 70 combatentes dos dois lados morreram em 24 horas em confrontos entre as forças do regime e rebeldes aliados com extremistas ao sul da cidade síria de Aleppo, na província de mesmo nome, informou a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).
As forças pró-regime, apoiadas por bombardeios da aviação síria e russa, conseguiram reconquistar nesta quarta-feira Zeitan e Jalasa, duas localidades ao sudoeste de Aleppo que haviam sido tomadas pelos insurgentes algumas horas antes, de acordo com o OSDH.
Jalasa fica em uma colina, com visibilidade sobre uma ampla região do sul da província de Aleppo, principalmente a estrada utilizada pelas forças do regime para abastecimento.
Ao norte de Aleppo, o regime bombardeou a principal estrada de abastecimento dos rebeldes e a região de Al-Maleh, segundo o OSDH.
"A corrida contra o tempo para cercar Aleppo está em marcha", disse o diretor da ONG, Rami Abdel Rahman.
A cidade de Aleppo está dividida em duas: a zona oeste, sob poder do regime, e a zona leste, controlada pelos rebeldes.
No plano humanitário, 55 organizações sírias da oposição afirmam em um documento que a ação da ONU na Síria "viola os princípios humanitários e pode avivar o conflito".
Em um relatório muito crítico, acusam a ONU de "perder de vista os valores humanitários vitais da imparcialidade, independência e neutralidade".
Segundo o relatório, em abril de 2016, 88% das entregas de alimentos ocorreram em regiões controladas pelo regime e 12% em setores fora de seu controle.
"Missão suicida"
Centenas de milhares de civis se encontram sitiados em cidades cercadas, em sua maioria por forças governamentais, sem acesso a comida e ajuda médica.
"Não ajudamos os sírios de acordo com o local em que se encontram, e sim de acordo com suas necessidades", reagiu o coordenador humanitário da ONU na Síria, Yaacoub El Hillo.
"Seria uma missão suicida para os voluntários entrar em um comboio de ajuda sem autorização", insistiu.
Em cinco anos de guerra, a Síria se transformou em um território totalmente dividido, onde combatem forças do regime, grupos rebeldes, extremistas e curdos, sem contar o envolvimento de forças estrangeiras, como os países ocidentais da coalizão internacional antijihadista.
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