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Brexit pode levar a referendo na Escócia em dois anos, diz nacionalista

16/06/2016 16h11

Londres, 16 Jun 2016 (AFP) - Se o Reino Unido optar por deixar a União Europeia (UE), no referendo de 23 de junho, a Escócia terá outro referendo de independência antes do período de dois anos - antecipa o político nacionalista escocês Alex Salmond, de 61, em entrevista à AFP.

Ex-chefe do governo regional e do Partido Nacional Escocês até renunciar após a derrota na consulta sobre independência de 2014 (55% contra 45%), Salmond defende a UE e faz campanha contra a saída do Reino Unido do bloco europeu.

As pesquisas mostram que os britânicos estão bastante divididos - praticamente em partes iguais -, embora, nos últimos dias, os partidários da "Brexit" tenham começado a abrir vantagem.

Salmond prevê que "será uma batalha aguerrida", disse ele à AFP, em seu gabinete no Parlamento britânico, criticando o tom "negativo" da campanha pró-UE que está sendo feita pelo premiê David Cameron.

Segundo ele, "a estratégia" de Cameron "consiste em apresentar argumentos negativos, argumentos que inspirem medo". Entre eles, a insinuação de que sair da UE será ruim para a segurança nacional, ou que pode empobrecer os britânicos.

"O problema com esses argumentos é que são mentira. Sim, é claro, sair da UE causaria dificuldades econômicas, problemas, tribulações, mas não seria um desastre. Nem significaria o fim do comércio internacional", completou.

"A campanha correta para gerar entusiasmo pela Europa deve afirmar: 'isso é o que acreditamos que a Europa deveria fazer', 'essa é a Europa que podemos construir', 'essa é a Europa a que aspiramos'", ensinou.

Salmond avisou que, no final, na Escócia, pode haver um resultado esmagador a favor da permanência, e que o conjunto do país (em referência ao Reino Unido) optará pela saída. Isso "arrastaria" a região do norte para fora da UE contra sua vontade.

"Nicola Sturgeon disse que, se nos tirarem da UE contra nossa vontade, haverá uma mudança material de circunstâncias, que poderá levar a outro referendo", explicou Salmond.

"De modo que, se essa circunstância se concretizar, haverá outro referendo, e isso aconteceria no prazo de dois anos", previu.

"Se você diz à Escócia 'olha, podemos ser independentes, dentro do firmamento europeu, ou podemos definhar no Atlântico Norte com um governo conservador em Londres', acho que os escoceses vão escolher a independência", considerou.

Qualquer que seja o resultado, porém, Salmond não vê um bom futuro político para Cameron.

"Acredito que cairá, aconteça o que acontecer no referendo", vaticinou.

"Mesmo que ganhe a permanência, acho que está acabado. E a razão é... disse que não ia disputar as próximas eleições. Então, qual seria a razão para ficar?", questionou, lembrando que o Partido Conservador de Cameron rachou, em função do referendo.

"Haverá muito ressentimento acumulado pela natureza da campanha, pelas pessoas que foram intimidadas, chantageadas e ameaçadas", especulou.

"Você organiza um referendo, se quiser uma mudança, se quiser conseguir algo", disse Salmond.

"Não convoca um referendo, se não quiser uma mudança", insistiu.

"Foi uma aposta muito alta para ganhar muito pouco", avaliou.

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