Indefinição e polarização marcam fim da campanha que define futuro britânico e da UE
A campanha do referendo britânico sobre a União Europeia (UE) vive nesta quarta-feira (22) suas últimas horas com os partidários do Brexit apresentando uma pequena vantagem nas pesquisas.
Duas novas consultas sobre o referendo que definirá a permanência do Reino Unido na UE foram divulgadas nesta quarta-feira.
Elaborada com 3.011 britânicos consultados pela Internet, a pesquisa do Instituto Opinium aponta 45% das intenções de voto para o Brexit, 44% aos pró-UE, 9% de indecisos e 2% que não quiserem responder.
A segunda pesquisa, realizada pela TNS, mostra 43% dos votos para o campo do Brexit, 41% aos pró-UE e 16% de indecisos.
"Em uma corrida tão apertada como esta, o nível de participação dos diferentes grupos demográficos será decisivo na hora de determinar o resultado", afirmou Luke Taylor, da TNS, assegurando que uma alta participação dos jovens daria mais chances aos pró-UE.
O primeiro-ministro britânico, o conservador David Cameron, cuja aposta pessoal ao convocar o referendo e defender a UE pode custar seu cargo em caso de derrota, recordou em seu último comício, em Birmingham (centro), que "se você pula do avião, não pode voltar a entrar pela cabine".
"Ponham o futuro de seus filhos à frente de tudo", pediu Cameron, com as mangas da camisa arregaçadas.
Os colégios eleitorais vão abrir às 7h locais (3h no horário de Brasília) e fecharão às 22h (18h no Brasil). Os resultados serão divulgados somente tarde da noite, ou já nas primeiras horas da manhã de sexta-feira. O nível de participação dará uma pista do resultado.
O professor de Política da universidade inglesa de Essex Paul Whiteley disse à AFP que a participação "será razoavelmente alta", em comparação com a das eleições gerais (66%), mas abaixo do referendo escocês (85%).
"Isso significa uma vantagem para os partidários da permanência", acrescentou.
As inscrições para votar bateram recordes. Nas últimas horas de campanha, houve novas adesões de celebridades à causa pró-europeia, como as da banda de rock irlandesa U2, o ator britânico Daniel Craig, intérprete de James Bond, e outro irlandês, o também ator Liam Neeson.
"Não vão embora, sentiremos sua falta", escreveu o U2. "A Europa sem o Reino Unido nos parece inimaginável", insistiu a banda.
Boris Johnson pede que se acredite no país
No campo oposto, do lado pró-Brexit, o ex-prefeito de Londres Boris Johnson iniciou a quarta-feira em um mercado da capital inglesa, em um último dia de campanha intenso para convencer os indecisos.
"Estamos nas últimas 24 horas. É um momento crucial. Muitas pessoas estão tomando sua decisão, e espero que acreditem em seu país, que acreditem no que fazemos", disse ele no mercado de peixes de Billingsgate.
Desde o nascimento do projeto europeu, nos anos 1950 - ainda sob os escombros da Segunda Guerra, quando metade do continente seguia em ditaduras -, até agora, com 28 países democráticos, nunca antes um país abandonou a União Europeia.
O Reino Unido se somou ao bloco em 1973, mas já em 1975 celebrou um primeiro referendo para calar os eurocéticos, com vitória para a permanência. Nesta quinta-feira (23), enfrentará outro, que dificilmente encerrará o debate.
Segundo ouviu-se durante a campanha, a saída poderia derrubar Bolsas, fomentar a mesma ideia em outros países, acabar com a carreira política de David Cameron, atiçar as demandas dos separatistas escoceses e dos republicanos norte-irlandeses e deixar no limbo milhões de imigrantes europeus no Reino Unido e de britânicos na UE.
Para quem a deseja, no entanto, a ruptura com Bruxelas permitiria ao Reino Unido se renovar, resgatar seu âmbito natural - o mundo anglo-saxão -, deter a imigração e, usando seu mantra, "recuperar o controle do país".
Nada mais a oferecer aos britânicosEm qualquer caso, avisou o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, não haverá mais concessões ao Reino Unido após o referendo.
"Os políticos e eleitores britânicos têm de saber que não haverá nenhum tipo de negociação", disse Juncker, acrescentando que Cameron "obteve o máximo que poderia receber, demos o máximo que podíamos dar".
Os dirigentes de mais da metade das 100 principais empresas britânicas pediram no jornal The Times o voto a favor da União Europeia, alegando que a saída provocaria "um choque econômico", especialmente doloroso para as pequenas empresas.
O ex-primeiro-ministro conservador John Major, pró-UE, acusou os líderes do Brexit de "enterradores" da prosperidade britânica e defendeu a imigração, muito vilipendiada durante a campanha.
Mais de 100 personalidades dos dois lados se reunirão à noite em um estúdio do Channel 4 para discutir o referendo.
Entre os participantes estará o líder do UKIP (Partido para a Independência do Reino Unido), Nigel Farage, cuja oposição feroz à imigração foi relacionada ao assassinato da deputada Jo Cox, em 16 de junho.
A morte da deputada trabalhista freou o avanço do Brexit nas pesquisas. Na terça-feira (21), em entrevista à BBC, seu marido Darren Cox afirmou que ela foi assassinada "por suas posições políticas".
Nesta quarta, Jo Cox completaria 42 anos e seus amigos e simpatizantes homenagearam-na com uma barca cheia de rosas vermelhas no Tâmisa, em frente ao Parlamento.
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