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Homem que tentou matar Ronald Reagan ganhará a liberdade após três décadas

AFP/arquivo
Imagem: AFP/arquivo

Em Washington

27/07/2016 14h55

O homem que tentou assassinar o presidente americano Ronald Reagan em 1981 será colocado em liberdade após passar mais de trinta anos em um hospital psiquiátrico, mas a justiça impôs condições muito estritas a ele.

"John W. Hinckley Jr. está autorizado a residir em tempo completo em Williamsburg, Virgínia, como parte de uma libertação em convalescênça, que começará no dia 5 de agosto de 2016", ordenou nesta quarta-feira (27) o juiz Paul Friedman de um tribunal federal de Washington, segundo documentos judiciais obtidos pela AFP.

O juiz considerou que ele já não representa mais uma ameaça para si e para os outros. Estará autorizado e viver com sua mãe de 90 anos em uma "comunidade fechada", um bairro residencial de acesso restrito ao público, na Virgínia.

Hinckley, agora com 61 anos, tentou assassinar Reagan na saída do hotel Hilton, em Washington, no dia 30 de março de 1981 e feriu outras três pessoas, entre elas James Brady, então porta-voz da Casa Branca.

Ronald Reagan não foi atingido diretamente pelos disparos, mas um deles ricocheteou na limusine presidencial blindada e pegou de raspão em seu peito. A bala passou muito perto do coração. O agressor disse durante seu processo de dois meses que, com seu ataque, queria impressionar a atriz Jodie Foster, que havia visto no filme "Táxi Driver".

Hinckley está internado no hospital psiquiátrico St. Elizabeth's, na capital federal, há mais de trinta anos.

Em abril de 2015 sua psiquiatra, Deborah Giorgi-Guarnieri, assegurou durante uma audiência judicial que seu paciente estava em condições "de sair (...) e que não representa um perigo" para a sociedade.

Durante seu julgamento em 1982 ele não foi declarado culpado, por ser penalmente irresponsável, e foi internado no hospital St. Elizabeth. No ano passado obteve, com condições, o direito de sair 17 dias por mês para visitar sua mãe em Williamsburg, a 240 km ao sul da capital federal.

14 páginas com condições

Em sua decisão de catorze páginas, o juiz Friedman estabelece uma longa lista de 34 condições extremamente detalhadas para sua liberação.

Hinckley terá que residir o tempo todo na casa de sua mãe durante o primeiro ano, depois do qual poderá - com prévia autorização de sua equipe médica - mudar-se para uma casa diferente.

Também deverá comunicar qualquer deslocamento (com itinerários, horários e eventuais contratempos), submeter-se a controles médicos regulares na clínica ou por telefone, além de manter um diário de suas atividades cotidianas. Terá também a possibilidade de trabalhar, pelo menos três dias na semana, voluntariamente ou recebendo um salário.

O sexagenário não terá, no entanto, direito de falar com a imprensa nem de se apresentar em público ou na internet, salvo com autorização da equipe médica. Não poderá, também, consumir álcool, drogas ou possuir armas.

Também está absolutamente proibido de fazer contato direto ou indireto com Jodie Foster ou pessoas próximas, com descendentes de Ronald Reagan ou com pessoas afetadas pelo episódio e explicitamente citadas pelo juiz Hinckley. Também não poderá se aproximar do atual presidente nem de ex-presidentes ou membros do Congresso, entre outros.

O juiz Friedman precisou que essas condições poderiam ser flexibilizadas nos 12 a 18 meses seguintes de sua saída, em função de seu comportamento.

A família de Reagan sempre se opôs a sua liberação. Em 2015 sua filha, Patti Reagan Davis, escreveu em seu site: "Espero que os médicos tenham razão quando dizem que John Hinckley não é um perigo para terceiros, mas algo me diz que estão equivocados". Para Patti Reagan isso pareceu particularmente preocupante por, durante o internação de Hinckley, ele ter escrito aos assassinos Ted Bundy e Charles Manson.