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Fidel Castro reaparece em público em seu aniversário de 90 anos

Em aniversário, Fidel ganha charuto de 90 metros

AFP

Em Havana

13/08/2016 20h39

Em seu aniversário de 90 anos, o ex-presidente Fidel Castro reapareceu depois de se referir em um artigo aos Estados Unidos, seu adversário histórico, enquanto Cuba lhe presta uma homenagem neste sábado imersa em mudanças dificilmente imagináveis durante o meio século em que ele governou.

Vestido com uma jaqueta esportiva branca, Fidel foi visto sentado com Maduro e ao lado de Raúl, em um evento organizado pela companhia de teatro infantil "La Colmenita", no teatro Karl Marx, em Havana.

Ao fim do evento, Fidel, que não era visto em público desde que em abril evocou sua morte em um discurso público ("A todos chegará a sua vez"), conversou com alguns dos participantes, segundo imagens transmitidas ao vivo pela televisão local.

Antes disso, Fidel havia escrito o artigo "O Aniversário", divulgado pela imprensa estatal, no qual agradece os cumprimentos, relembra sua infância e a revolução que liderou há 57 anos.

Ao mesmo tempo voltou a suas obsessões: o risco nuclear, a superpopulação mundial, a preservação da paz e os Estados Unidos.

O governo de seu irmão Raúl, que restabeleceu relações com Washington em 2015 e realiza uma cautelosa abertura econômica, não anunciou nenhum grande ato oficial pelo aniversário de Fidel, mas o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, está na ilha para saudá-lo.

O nonagenário líder está afastado do poder há dez anos, devido a uma enfermidade que o obrigou a delegar suas funções a Raúl Castro, cinco anos mais novo.

Fidel, que segundo a inteligência cubana enfrentou 634 complôs de assassinato, afirmou que "quase ria com os planos maquiavélicos dos presidentes dos Estados Unidos" e criticou a falta de "estatura" do discurso do presidente Barack Obama na viagem ao Japão em maio.

"Faltaram-lhe palavras para pedir perdão pela matança de centenas de milhares de pessoas em Hiroshima, apesar de conhecer os efeitos da bomba" nuclear, declarou. Obama esteve nesta cidade dois meses depois de visitar Havana.

Enquanto isso, shows e exposições fotográficas, literárias e gráficas, além de inúmeros cartazes com sua imagem comemoram na ilha as nove décadas de um dos homens mais influentes e controversos do mundo no último século.

Miriam Quintana, uma aposentada de 73 anos, recebeu como um presente o texto de Fidel. "Estou muito contente (...), depois de tudo o que passou com sua doença, que tenha a capacidade de reflexão, de pensar e de falar".

Governantes como o presidente russo, Vladimir Putin, o chinês Xi Jinping e o boliviano Evo Morales destacaram na data seu legado. "Na Rússia você goza de um grande respeito como homem de Estado de destaque que dedicou toda a sua vida a serviço do povo de Cuba", escreveu Putin em um telegrama.

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Nem todos comemoram

Fidel Castro instaurou um regime socialista de partido único criticado por violações de direitos humanos, mas que deu saúde e educação gratuitas a milhares de cubanos.

Nos últimos anos, a velhice e as sequelas deixadas por uma severa doença intestinal acabaram com ele.

Mas nem todos o veneram em sua velhice.

"Não sei se poderei desejar um bom aniversário a ele", assinalou à AFP a dissidente Marta Beatriz Roque, de 71 anos, que foi presa duas vezes durante o governo do ex-presidente. Atualmente, Roque está em liberdade condicional.

Para ela, o legado do nonagenário líder é o "caos, a falta de solução" para os problemas econômicos, e o "controle da vida de todas as pessoas no país".

Influência indireta

Mesmo sem estar à frente da ilha de 11,3 milhões de habitantes, Fidel exerce "uma influência indireta através de algumas figuras do regime, que estão incomodadas com as reformas que Raúl fez", disse à AFP Kevin Casas-Zamora, consultor internacional e doutor em Ciências Políticas da Universidade de Oxford.

Apenas sua presença física - agrega - atua como "um muro nas reformas econômicas e políticas mais agressivas".

Fidel já não é o mesmo devido à idade, mas Cuba tampouco é o país que ele governou desde o triunfo da revolução, em 1959.

Sem abrir mão do socialismo, Raúl Castro flexibiliza o sistema soviético dando maior abertura ao trabalho privado e aos investimentos estrangeiros, e terminou com as restrições de viagens e de compra e venda de casas e automóveis.

Mas, sobretudo, restabeleceu as relações diplomáticas com os Estados Unidos, apesar de o embargo econômico imposto em 1962 continuar vigente. O ex-presidente nunca se opôs à aproximação, mas não cedeu em suas críticas.

"Para a maioria dos latino-americanos, Fidel Castro representa a heroica resistência à hegemonia e controle dos Estados Unidos", comenta Peter Hakim, analista do centro de pensamento Diálogo Interamericano, com sede em Washington.

Entretanto, acrescenta, "não acredito que se mantenha como herói por muito mais tempo (...) e suspeito que será visto como um homem que foi capaz de impor sua vontade aos cubanos". "O mundo moderno deixou Fidel e Cuba em segundo plano", opina.