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O verdadeiro "Jurassic Park" existe e fica na Bolívia

17/08/2016 20h53

O parque jurássico apresentado no filme de Steven Spielberg pode estar na Bolívia. A descoberta da suposta pegada de um dinossauro terópode Abelissauro, um dos maiores do planeta, em solo boliviano poderia converter o país na meca da paleontologia.

Anunciada no final de julho, a descoberta em Maragua da pegada de cerca de 1,20 metros de diâmetro deste carnívoro característico do Cretáceo Superior é "simplesmente impressionante", disse à AFP o paleontólogo Omar Medina.

Este predador de 15 metros de altura viveu há 80 milhões de anos no que hoje é o departamento de Chuquisaca, que na época era uma zona costeira de clima quente. Nessa região, onde se encontram vestígios de algas marinhas, também "existiam os maiores répteis voadores que já existiram", segundo Medina.

17.ago.2016 - O paleontólogo Sebastian Apesteguia encosta e analisa a pegada de dinossauro encontrada na cratera de Maragua, na Bolívia. A pegada seria de um dinossauro terópode Abelissauro, um predador de 15 metros de altura - David Mercado/ Reuters - David Mercado/ Reuters
Paleontólogo analisa pegada de dinossauro encontrada na cratera de Maragua, na Bolívia
Imagem: David Mercado/ Reuters
 Chuquisaca, departamento da Bolívia cuja capital é Sucre, abriga uma infinidade de evidências que em outubro serão estudadas por uma equipe de cientistas bolivianos, argentinos e uruguaios. Discutirão, por exemplo, "a importância do fóssil de carapaça do gliptondonte, por ser talvez o último que existiu".

O fóssil de gliptodonte, uma espécie de tatu gigante caracterizado no filme "A era do gelo", foi descoberto em março deste ano em Yamparáez, também em Chuquisaca. Viveu no Quaternário e foi extinto há cerca de 10.000 anos, e hoje é um referente da paleontologia mundial.

Outra jazida importante foi descoberta no Vale Icla, na mesma região, "com dinossauros de 120 milhões de anos, que estão sendo testemunhados pela presença de pegadas de estegossauros, que se pensava que não existiam na América do Sul".

Também em Chuquisaca "está a maior jazida de invertebrados do mundo, onde é necessário fazer pesquisas", disse Medina.

Devido à proximidade de Sucre, o turismo se concentra no Parque Cretácico Cal Orcko, um dos depósitos icnológicos (estudo de rastros fósseis) mais importantes do mundo, com mais de 10.000 pegadas de quase 300 espécies de dinossauros.

A era do gelo

17.ago.2016 - Mãe tira foto de seus filhos ao visitar o Jurassic Park da vida real, também conhecido como parque Cretaceous, em Cal Orcko, na Bolívia. O parque cheio de dinossauros de brinquedo fica próximo ao local onde arqueólogos descobriram uma pegada de cerca de 1,20 metros de diâmetro que pertenceu à um dinossauro que viveu há 80 milhões de anos - David Mercado/ Reuters - David Mercado/ Reuters
Crianças visitam o Jurassic Park da vida real, também conhecido como parque Cretaceous, na Bolívia
Imagem: David Mercado/ Reuters
 A descoberta em Padilla, outro município do departamento, de uma enorme jazida da "era do gelo", do Pleistoceno (época geológica que começou há dois milhões de anos e terminou aproximadamente no ano 10.000 a.C.), não é menos importante.

"Se diz que é a maior jazida do Pleistoceno que existe na América do Sul, com mais de 60 espécies animais, onde há um verdadeiro cemitério de elefantes", disse o especialista à AFP.

A descoberta da pegada do sanguinário Abelissauro é realmente importante porque "permite que nos posicionemos como uma meca paleontológica".

"Cada descoberta é muito importante porque cada fóssil que se descobre não é mais um fóssil, é como um ícone do mundo", acrescentou Medina.

O lugar onde a pegada foi encontrada por Grover Marquina, um guia turístico especializado em temas paleontológicos, fica a 64 km de Sucre. A pegada "está junto ao rio, em uma ladeira, onde, em época de chuvas, chega a água e faz um desgaste de erosão muito grave".

"Conhecia as pegadas dos carnívoros, mas nunca tinha visto uma deste tamanho", disse Marquina à AFP. "Esta é uma das maiores que foram encontradas, de 1,15 metros", disse, acrescentando que "mais abaixo há rastros de una manada de saurópodes".

Chegar ao lugar não é fácil, comentou Marquina. Não há trilhas, de modo que é necessário "abrir caminho" e criar uma infraestrutura turística, visto que "não há serviços básicos para chegar aqui e mostrar esta riqueza paleontológica" ao mundo.