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Patrulhas 'antiburquíni' na Riviera francesa acendem polêmica

Reportagem do jornal britânico The Guardian traz imagem do momento em que mulher é obrigada a tirar burquíni em praia de Nice, França - Reprodução/ The Guardian
Reportagem do jornal britânico The Guardian traz imagem do momento em que mulher é obrigada a tirar burquíni em praia de Nice, França Imagem: Reprodução/ The Guardian

Em Nice (França)

24/08/2016 19h41

Fotos de uma mulher com véu na cabeça levantando sua túnica para policiais reavivaram fortemente, nesta quarta-feira (24), a polêmica sobre a proibição do burquíni em algumas praias francesas, o que fez o governo advertir contra qualquer tipo de "estigmatização".

A preocupação aumenta na França diante dos recentes decretos sancionados em determinadas cidades litorâneas do Mediterrâneo francês, a elegante Riviera, em nome da luta contra o proselitismo fundamentalista.

As imagens desse controle policial em uma praia de Nice causaram indignação nas redes sociais hoje e relançaram a polêmica sobre a proibição do burquíni em várias praias.

Hoje, o Conselho Francês do Culto Muçulmano (CFCM) teve uma reunião "urgente" com o ministro do Interior Bernard Cazeneuve, diante da crescente polêmica. A instituição advertiu contra a "estigmatização" e a "antagonização" da sociedade.

"Diante da situação difícil e crítica em que vive a França, após os trágicos atentados que afetaram profundamente o país, o CFCM pede sensatez e responsabilidade de todos. Precisamos de atos de apaziguamento e de tolerância", defendeu o presidente do Conselho, Anouar Kbibech.

O traje de banho de corpo inteiro usado por muçulmanas abriu um acalorado debate não apenas na França, mas também no exterior.

Nesta quarta, Washington disse não apoiar as proibições adotadas nos resorts franceses, mas advertiu os muçulmanos americanos para que obedeçam as leis locais.

"Os cidadãos americanos são aconselhados a obedecer as leis locais, a despeito de qual países eles visitem", disse a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Elizabeth Trudeau, à imprensa.

Na terça à noite, o jornal britânico Daily Mail publicou em sua página on-line uma série de fotos - sem informação sobre data, ou lugar -, nas quais se vê policiais abordando uma mulher que descansava em uma praia do Passeio dos Ingleses, em Nice. Nesse local, foi cometido um atentado em 14 de julho, que deixou 86 mortos.

A mulher se retirou, sob o olhar dos policiais, sem que ficasse claro se deixou o local por ordem dos agentes, ou por sua própria iniciativa.

'Humilhação', 'fascismo'

Contactado pela AFP, o prefeito de Nice não deu detalhes sobre as circunstâncias desse controle policial, mas confirmou que pelos 15 mulheres foram multadas desde o início da semana nas praias da cidade, por causa da roupa que vestem.

Uma mãe de família que foi multada em 16 de agosto passado, porque estava de véu, pantalona e túnica em uma praia de Cannes, anunciou ontem que recorrerá.

As imagens do controle policial em Nice causaram uma reação em cadeia nesta quarta, com denúncias de "humilhação" e "caça aos véus".

"Querem tirar sua roupa. Que tirem seus uniformes, Polícia da Vergonha!", denunciou o presidente do Coletivo contra a Islamofobia na França (CCIF), Marwan Muhammad.

"Pergunta do dia: quantos policiais armados são necessários para obrigar uma mulher a tirar sua roupa em público?", tuitou, indignado, o diretor de Comunicação para a Europa da Human Rights Watch (HRW), Andrew Stroehlein.

"É um novo fascismo, uma nova França... Horrível", escreveu no Twitter a militante tunisiana Amira Yahyaoui.

Na França, vive a principal comunidade muçulmana da Europa, com 5 milhões de pessoas, motivo pelo qual o debate público tomou uma ampla dimensão.

A atriz americana Susan Sarandon também compartilhou essas imagens no Twitter e comentou: "a Polícia francesa aplica a proibição do burquíni, ordenando uma mãe de família a tirar sua roupa muçulmana".