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Quinze anos após 11 de Setembro ameaça terrorista agora é doméstica

A torre norte do World Trade Center desaba em Nova York após o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 - Ray Stubblebine/ Reuters
A torre norte do World Trade Center desaba em Nova York após o ataque terrorista de 11 de setembro de 2001 Imagem: Ray Stubblebine/ Reuters

Em Washington

09/09/2016 00h21

Quinze anos após os ataques do 11 de Setembro, especialistas americanos em combate ao terrorismo dizem que os Estados Unidos estão fortalecidos contra atentados bem planejados como aquele, mas se encontram mais vulneráveis do que nunca a ataques pequenos e caseiros.

As operações antiterroristas têm agora a missão de descobrir e interromper planos dos partidários do grupo Estado Islâmico (EI) e da Al-Qaeda, que se escondem em células menos centralizadas e nas novas tecnologias, assinalaram os especialistas.

"Nosso trabalho está ficando mais difícil", disse Nick Rasmussen, o poderoso diretor do Centro Nacional contra o Terrorismo, em análise realizada esta semana em Washington.

A expansão dos meios para comunicação entre eles, muitas vezes através de populares aplicativos de smartphones, e a possibilidade de comunicações codificadas "lhes dá uma vantagem" sobre as agências de inteligência.

Os ataques do 11 de Setembro deram sinal verde para os Estados Unidos na guerra contra o terrorismo, com enfoque para a Al-Qaeda e o Talibã, mas 15 anos depois o objetivo são os diferentes grupos como o Estado Islâmico, que conquistou territórios na Síria e no Iraque, e inspirou ataques na Europa e nos Estados Unidos.

Estes atentados são de menor envergadura, mas igualmente mortais e desmoralizantes.

A Al-Qaeda perdeu seu líder, Osama bin Laden, mas opera agora com ramificações e aliados das Filipinas à África ocidental, o que supõe uma ameaça mais complexa.

"A realidade é que houve uma metástase" da região do Iraque e da Síria, disse Frank Cilluffo, diretor do Centro de Segurança Cibernética e Nacional da Universidade George Washington.

"A ameaça persiste e em alguns casos é mais complexa".

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New York Times

Uma série de ataques colocaram os "HVEs" - violentos extremistas locais - no foco das agências de inteligência.

Um exemplo é o americano de origem afegã de 29 anos que tinha simpatia por radicais islâmicos e matou 49 pessoas em uma boate gay de Orlando, Flórida.

Em dezembro passado, um cidadão americano e sua mulher - ambos de origem paquistanesa - mataram 14 pessoas em uma festa de final de ano em San Bernardino, Califórnia.

O programa sobre extremismo da Universidade George Washington registra 102 pessoas acusadas nos Estados Unidos por crimes relacionados ao grupo Estado Islâmico, muitos recrutados pela Internet.

A inteligência americana acompanha mais de mil casos de possíveis extremistas, disse Rasmussen.

Atualmente, os planos se desenvolvem e são executados mais rapidamente, e em pequenas células, o que torna mais difícil a ação dos órgãos antiterroristas.

Os funcionários americanos acreditam que o grupo Estado Islâmico será derrotado cedo ou tarde no Iraque e na Síria, mas isto não excluirá sua ameaça extremista.

A desintegração do EI no Iraque e na Síria deve enviar milhares de seus partidários, de maneira silenciosa, a diferentes partes do mundo, que poderão aguardar durante anos para formar novas células terroristas.

"A ameaça que acredito será a principal nos próximos cinco anos para o FBI será a derrota do califado", do grupo EI, disse James Comey, diretor da Agência Federal de Investigações (FBI).

Isto liberará "milhares de perigosos assassinos" entre a população em geral, muitos dos quais irão se esconder na Europa. "Estamos diante deste obscuro fenômeno no qual não podemos identificar esta gente".

Outro grande desafio é a debilidade da inteligência europeia para identificar as ameaças, o que se explica pela fraca cooperação entre as agências de diferentes países.

Rasmussen diz que há uma década confiava mais na habilidade dos Estados Unidos e de outros países para atuar juntos no combate ao terrorismo.

Agora, "sinto que estamos descendo ladeira abaixo" e a cooperação apenas se mantém forte nas relações bilaterais.

O centro da luta é contra a ideologia, dizem os oficiais, e os Estados Unidos têm tido pouco progresso em combater a propaganda desenhada pelos simpatizantes do EI e da Al-Qaeda.

O verdadeiro progresso exige estratégias de longo prazo que envolvam as redes sociais, disse Michael Leiter, da empresa especializada em defesa Leidos, lamentando que muito pouco é investido nisto.

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AFP