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Novos bombardeios deixam mais de 45 mortos na cidade síria de Aleppo

24/09/2016 22h37

Beirute, 25 Set 2016 (AFP) - Ao menos 45 civis morreram neste sábado (24) nos bombardeios aéreos sírios e russos contra o setor rebelde da cidade de Aleppo, após outro fracasso nas negociações entre Washington e Moscou sobre uma trégua renovada - relatou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Entre as vítimas, segundo o OSDH, estão sete pessoas que se encontravam na fila de um mercado no bairro de Bustan Al-Qasr, que se encontra ao longo da linha que divide a zona governamental da cidade, oeste, dos bairros controlados pelos rebeldes, no leste.

"O governo atinge duramente essa zona, porque quer forçar as pessoas a irem para os setores de Aleppo controlados pelo governo e, assim, retomar as zonas rebeldes", explicou o diretor da ONG, Rami Abdel Rahman.

Um correspondente da AFP descreveu um cenário trágico, com partes de corpos espalhados pelo chão e poças de sangue. A situação é crítica nas instituições de Saúde, com novos feridos chegando a todo momento.

Para piorar o sofrimento, os quase dois milhões de habitantes de Aleppo ficaram sem água este sábado, devido aos bombardeios da véspera.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) teme uma catástrofe com o surgimento de doenças causadas pela falta de água potável, em particular entre as crianças.

Antiga capital econômica e segunda maior cidade do país, Aleppo se transformou no principal eixo da guerra na Síria.

Fracasso diplomáticoNa sexta-feira, Estados Unidos e Rússia tentaram chegar a uma nova trégua na Síria, no âmbito da Assembleia Geral da ONU.

O chanceler russo, Serguei Lavrov, disse na ONU que é necessário salvar o acordo para o fim as hostilidades na Síria, enquanto o secretário de Estado americano, John Kerry, mencionou "pequenos progressos" no diálogo.

Kerry e Lavrov se reuniram após o fracasso de uma reunião do Grupo Internacional de Apoio à Síria na véspera. De acordo com o chefe da diplomacia americana, os dois trocaram ideias.

"Eu me encontrei com o chanceler (russo), trocamos algumas ideias e fizemos alguns pequenos avanços. Estamos avaliando algumas ideias mútuas de forma construtiva. Isso é tudo", disse Kerry à imprensa em um hotel de Nova York.

Enquanto isso, na Assembleia Geral da ONU, Lavrov delineou as divergências essenciais com os Estados Unidos sobre os requisitos para restabelecer um cessar-fogo, mas disse que é "essencial" manter os esforços para salvar o acordo.

Pouco depois de seu discurso na Assembleia Geral, Lavrov disse em coletiva de imprensa que os contatos diplomáticos estiveram muito perto de alcançar um entendimento. De acordo com Lavrov, em um momento da negociação, os Estados Unidos pediram à Rússia que consulte a Síria sobre uma trégua de três dias.

O chanceler russo relatou ter consultado o governo sírio e, pouco mais tarde, retornou com uma resposta positiva.

"Mas, nesse momento, os americanos disseram que agora não queriam três dias, mas sete", acrescentou, sem esconder sua frustração.

Desde quarta-feira, os Estados Unidos insistem em uma proposta para manter em terra todos os aviões (russos e sírios) que operam nas zonas específicas, como forma de restituir a "credibilidade" a todo o plano de cessar-fogo.

Ataque intencionalJá o chanceler sírio, falando na ONU, denunciou que o bombardeio aéreo contra tropas sírias realizado pela coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos há uma semana foi intencional, e não um erro, como apontou Washington.

"O governo sírio garante que os Estados Unidos são integralmente responsáveis por essa agressão, porque os fatos mostram que foi um ataque intencional, e não um erro, embora os americanos afirmem o contrário", disse Walid Muallem na Assembleia Geral.

Dezenas de soldados sírios morreram no bombardeio de 17 de setembro na cidade de Deir Ezzor (leste), controlada pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI).

Segundo Muallem, "a agressão, covarde, prova claramente que os Estados Unidos e seus aliados são cúmplices do EI e de outras organizações terroristas armadas".

Os americanos lamentaram as vidas perdidas e argumentaram que a coalizão acreditou que se tratasse de um alvo do EI, prometendo investigar o incidente.

O ministro sírio também atacou Catar e Arábia Saudita, a quem acusou de "enviar à Síria milhares de mercenários equipados com armas mais sofisticadas" para lutar contra o governo de Bashar al-Assad.

"Nós, na Síria, estamos combatendo o terrorismo em nome de todo o mundo", concluiu.

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