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Líder das Farc se diz disposto a retificar acordo de paz após derrota em referendo

Colombianos reagem diante do resultado do referendo sobre o acordo de paz com as Farc, em Bogotá, na Colômbia - Xinhua/COLPRENSA
Colombianos reagem diante do resultado do referendo sobre o acordo de paz com as Farc, em Bogotá, na Colômbia Imagem: Xinhua/COLPRENSA

Em Havana

03/10/2016 12h14

O chefe máximo da guerrilha das Farc, Timoleón Jiménez, cogitou nesta segunda-feira (3) a possibilidade de retificar o acordo de paz que foi rejeitado, em uma votação apertada, no referendo de domingo na Colômbia.

"Estamos analisando com calma os resultados para prosseguir, porque isso não significa que a batalha pela paz tenha sido perdida", declarou Jiménez, também conhecido como Timochenko, à rádio W a partir de Havana, sede por quase quatro anos das negociações de paz.

O líder rebelde declarou que, embora o "Não" tenha vencido nas votações, as Farc "projetarão iniciativas" para levar "este processo adiante".

Este resultado "nos enche de mais entusiasmo, nos compromete muito mais, porque de qualquer forma há diversas leituras e é preciso analisá-las para ver e que é preciso retificar", indicou à emissora colombiana.

Neste sentido, destacou que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e o governo de Juan Manuel Santos seguem comprometidos no "mesmo objetivo" de resolver um conflito de 52 anos que deixa milhões de vítimas entre mortos, desaparecidos e deslocados.

Santos e Timochenko assinaram o acordo de paz há oito dias em Cartagena, norte da Colômbia, e esperavam uma vitória do "Sim" para iniciar a implementação dos convênios, que basicamente definem que os rebeldes deixem as armas e se tornem um partido político.

No entanto, 50,21% dos colombianos votaram contra, enquanto 49,78% defenderam o acordo, em um processo que teve uma abstenção de 62%.

Com o ex-presidente Álvaro Uribe (2002-2010) na liderança, os opositores questionam, entre outros pontos, que os rebeldes não paguem uma pena mínima de prisão por crimes atrozes e que possam ser eleitos para cargos públicos.

O pacto que foi rejeitado nas urnas previa penas alternativas de reclusão para os que confessassem sua responsabilidade, e condenações de até 20 anos de prisão caso não o fizessem e fossem considerados culpados por um tribunal especial.

Após a derrota, Santos anunciou que convocaria "todas as forças políticas, para ouvi-las, abrir espaços de diálogo e determinar o caminho a seguir".

Humberto de la Calle, chefe negociador do governo nos diálogos com as Farc, também colocou nesta segunda-feira seu cargo a disposição do presidente.

"Os erros que cometemos são de responsabilidade exclusivamente minha. Assumo plenamente a responsabilidade política. Consequentemente, vim dizer ao presidente que coloco a sua disposição meu cargo de chefe da delegação, porque não serei obstáculo para o que se seguir", declarou.

Já Timochenko considerou que o referendo foi influenciado por uma "polarização promovida quase de maneira artificial" e que os rebeldes analisarão como incluir, na "batalha pela paz", estes "mais de 60%" de colombianos que não foram às urnas.

Além disso, pediu ao governo um "pacto político na Colômbia de nunca mais" à calúnia, à estigmatização e ao uso das armas na política.

O negociador rebelde, Pablo Catatumbo, disse no Twitter que o referendo "não é a hecatombe". "É apenas um tropeço nesta longa luta de nosso povo para alcançar a paz definitiva", acrescentou.