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Bombardeios aéreos durante funeral matam mais de 140 no Iêmen, segundo a ONU

08/10/2016 21h36Atualizada em 08/10/2016 21h57

Sana, 9 Out 2016 (AFP) - Mais de 140 pessoas morreram e ao menos 525 ficaram feridas neste sábado (8) em um bombardeio aéreo durante um funeral em Sanaa, no Iêmen, informou a Organização das Nações Unidas (ONU).

"Informes iniciais das autoridades sanitárias de Sanaa falam de mais de 140 mortos e mais de 525 feridos", disse o coordenador de assuntos humanitários da ONU no Iêmen, Jamie McGoldrick, em um comunicado.

"A comunidade humanitária do Iêmen está em choque e escandalizada pelos ataques aéreos de hoje, que tiveram como alvo uma sala pública, onde milhares de pessoas participavam de um funeral", acrescentou, pedindo uma investigação sobre o ocorrido.

"A violência contra os civis deve cessar imediatamente", declarou McGoldrick.

Mais cedo, o porta-voz do ministério da Saúde, Tamim Al Shami, havia mencionado, em declarações à rede de televisão dos rebeldes huthis, Al Masirah, que "mais de 520 feridos e mais de cem mártires" morreram no ataque.

Segundo ele, esta cifra poderia aumentar, uma vez que há "restos humanos carbonizados" e não identificados no local do ataque, assim como "vários desaparecidos".

Em reação à notícia, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Ned Price, anunciou em um comunicado a "revisão imediata" pelos Estados Unidos da coalizão liderada pelos sauditas no Iêmen.

"Estamos profundamente perturbados com as notícias do ataque aéreo de hoje a uma sala funerária no Iêmen, que, se confirmadas, dariam continuidade à perturbadora série de ataques a civis iemenitas", destacou Price no comunicado.

"A cooperação de segurança dos Estados Unidos com a Arábia Saudita não é um cheque em branco. À luz deste e de outros incidentes recentes, demos início a uma revisão imediata do nosso já significativamente reduzido apoio à coalizão liderada pela Arábia Saudita e estamos preparados a ajustar nosso apoio de forma a alinhá-lo da melhor forma com os princípios, valores e interesses americanos, inclusive alcançar o fim imediato e duradouro do trágico conflito no Iêmen", prosseguiu.

Massacre

Os rebeldes xiitas huthis tomaram Sanaa há mais de dois anos e desde março de 2015 são combatidos pela coalizão liderada por Riad, em apoio ao governo reconhecido pela comunidade internacional.

Os rebeldes denominaram o ataque como um "massacre" e responsabilizaram a coalizão pelas mortes. Em um comunicado, a coalizão negou ter realizado operações militares contra o prédio bombardeado e que "outras causas" deviam ser consideradas.

Os bombardeios foram registrados no momento em que Arábia Saudita, que lidera a coalizão contra os huthis, é vigiada de perto por ter sido supostamente responsável pela morte de civis com seus bombardeios.

O alvo foi um prédio da capital, controlado pelos rebeldes, onde aparentemente um grupo de pessoas se reuniu no meio da tarde para apresentar seus pêsames pela morte do pai do ministro do Interior rebelde, Jalal Al Ruishen, acrescentou a sabanews.net.

Segundo a emissora Al Masirah, o prefeito de Sanaa, Abdel Qader Hilal, está entre os mortos.

Os rebeldes não informaram se Ruishen ou outras autoridades huthis, além de Hilal, estavam no prédio no momento do ataque.

Uma fonte de segurança, citada pela mesma página, revelou que um enorme incêndio teve início no local.

Equipes de resgate retiravam corpos queimados e tentavam alcançar outros presos entre os escombros, informou um fotógrafo da AFP.

Alguns feridos perderam as pernas e eram tratados ali mesmo por voluntários, acrescentou.

As ambulâncias evacuavam as vítimas e os hospitais lançaram um apelo para que as pessoas doem sangue, segundo os moradores.

"Um avião lançou um míssil e minutos depois outro avião atacou" o edifício, disse uma testemunha à AFP.

Outra testemunha, que pediu para ter sua identidade preservada, descreveu o ataque como um "crime de guerra".

"Era o funeral de um homem em Sanaa e agora se tornou o funeral de dezenas de iemenitas", afirmou.

Ameaça dos rebeldesOs huthis se apoderaram de Sanaa há mais de dois anos e controlam também outras regiões do país. O governo iemenita, que precisou fugir do país, tenta recuperar o terreno perdido com o apoio da coalizão árabe liderada pela vizinha Arábia Saudita.

O ataque "não ficará impune", advertiu o Conselho Político Supremo, estabelecido recentemente pelos huthis e seus aliados, partidários do ex-presidente Ali Abdalá Saleh, e exortou seus simpatizantes a "usar todos os meios para responder a este crime".

Além disso, o Conselho pediu aos iemenitas que participem de uma manifestação no domingo pela manhã em frente ao escritório da ONU em Sanaa para protestar contra os "crimes de guerra" da coalizão.

Organizações de defesa dos direitos humanos acusam a coalizão, que intervém no Iêmen desde março de 2015, de cometer erros depois que setores civis foram atingidos por seus bombardeios.

No amanhecer deste sábado, quatro civis, membros de uma mesma família, foram mortos em um bombardeio aéreo da coalizão contra uma casa perto de Bajil, na província de Hodeida (oeste), informou à AFP uma autoridade da província.

Em 15 de março deste ano, bombardeios aéreos contra um mercado na província de Haja (noroeste de Sanaa) deixaram pelo menos 119 mortos, segundo o Unicef. Um líder tribal ligado aos rebeldes acusou a coalizão pelo ataque.

Um relatório da ONU publicado em agosto apontou que bombardeios da coalizão árabe podem ter provocado cerca da metade das mortes de civis no Iêmen.

O documento pedia a criação de um organismo independente que investigue as violações cometidas supostamente pelos dois grupos, depois que 4.000 civis perderam a vida.

A coalizão informou à AFP que utiliza um laser muito preciso e armas guiadas por GPS e que comprova os alvos muitas vezes para evitar a morte de civis.

Segundo as Nações Unidas, o conflito no Iêmen já causou mais de 6.700 mortos.

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BBC Brasil