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Incerteza no Reino Unido após decisão da justiça sobre Brexit

Da AFP, em Londres

05/11/2016 11h16Atualizada em 06/11/2016 07h22

A incerteza reinava neste sábado no Reino Unido após a decisão da Alta Corte de conceder ao Parlamento um direito de voto sobre o Brexit, o que gerou revolta e violentos ataques de partidários da saída da União Europeia.

Os três juízes da Corte aplicaram um sério revés ao governo conservador ao considerar na quinta-feira que os deputados deveriam se pronunciar sobre a ativação do processo de saída da UE.

Isso causou a ira de vários "Brexiters", preocupados com os obstáculos que isso pode colocar na separação com a UE, mas também entre a imprensa eurocética: o tabloide Daily Mail não hesitou em apresentar os três magistrados como "inimigos do povo".

Este tipo de retórica "ameaça a independência de nossa justiça", lamentou neste sábado Bob Neill, presidente conservador da Comissão de Justiça da Câmara dos Comuns, no Times.

"Os membros do governo, começando pela primeira-ministra (Theresa May), devem agora indicar claramente que a independência da justiça é fundamental para o funcionamento de nossa democracia", acrescentou, enquanto o próprio jornal Times lamentava, em um editorial, a existência no país de "um cheiro de Berlim dos anos 30".

- 'Não em meu nome' -"Qual mensagem estamos mandando ao resto do mundo? Provavelmente a de uma nação que corre o risco de se extraviar', afirmou a ex-secretária de Estado conservadora Anna Soubry.

"Já é hora de acabar com isso, de dizer 'não em meu nome'", declarou ao Guardian, jornal que também convoca o governo a defender a instituição judicial.

Esta nova reviravolta desde o referendo sobre a UE de 23 de junho representa um novo obstáculo para Theresa May, que deu claramente a entender que ativaria antes do fim de março o artigo 50 do Tratado de Lisboa que lança o procedimento de divórcio com a UE, e isso sem passar pelo Parlamento.

O executivo reagiu imediatamente ao anunciar que apelaria à Suprema Corte, e May também advertiu que conservava "sem mudanças" seu calendário, em conversas telefônicas com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com o presidente francês, François Hollande, entre outros líderes europeus

Mas a decisão da Alta Corte, se for confirmada pela Suprema Corte, pode provocar debates parlamentares intermináveis que atrasariam a aplicação do Brexit e pesariam nas negociações entre Londres e Bruxelas.

- Eleições antecipadas? -Como era esperado, a possibilidade de eleições antecipadas surgiu nas últimas 48 horas, uma hipótese "abertamente discutida" no seio do governo, segundo o Telegraph.

"O problema é que há uma maioria pró-Brexit no país e uma maioria a favor da permanência (na UE) no Parlamento", declarou um membro do governo, citado pelo jornal e que pediu o anonimato.

"Levando-se em conta a sentença da Corte e a possibilidade de que não ganhemos em apelação (...) estou aberto à ideia de eleições antecipadas", acrescentou.

Na oposição, o chefe do partido trabalhista, Jeremy Corbyn, disse neste sábado que esta decisão revela "a necessidade para a primeira-ministra de apresentar sem mais demora" ante o Parlamento sua estratégia para sair da UE.