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Caravana viaja com as cinzas de Fidel e retoma percurso da Revolução Cubana

Conheça a trajetória de Fidel Castro, morto aos 90 anos

AFP

Em Havana

01/12/2016 12h28

A caravana com as cinzas de Fidel Castro chegou à cidade de Santa Clara, onde repousam os restos mortais do comandante Che Guevara, em uma das escalas mais emblemáticas de sua viagem de quatro dias através de Cuba, que percorre de maneira inversa a histórica rota da Revolução cubana.

Coberta pela bandeira cubana, a urna de cedro com as cinzas de Fidel Castro partiu de Havana sobre uma estrutura adornada com flores brancas puxada por um veículo militar e se dirige a Santiago, no leste da ilha, onde seus restos serão enterrados no domingo, após uma viagem por quase mil quilômetros, que percorrerá 13 das 15 províncias de Cuba.

"Eu sou Fidel!", "Somos todos Fidel!" e "Viva Fidel", gritavam os milhares de cubanos que foram às ruas para se despedir do homem que os governou por quase meio século e que faleceu na sexta-feira aos 90 anos de idade.

Operários, estudantes e médicos se emocionaram, muitos aos prantos, durante a passagem das cinzas do pai da Revolução cubana, que instaurou um regime socialista a menos de 200 km dos Estados Unidos.

A "caravana da liberdade" passará a noite em Santa Clara, a cidade onde está enterrado seu companheiro de armas e amigo Ernesto Che Guevara, a quem Castro conheceu em 1955.

"É o encontro para a história de dois comandantes que mudaram a história de Cuba e da humanidade", disse Agnier Sánchez, de 32 anos, técnico de imagenologia médica.

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AFP

O argentino conquistou esta cidade em dezembro de 1958, depois de uma dura batalha. Poucas horas depois, Fulgencio Batista deixava o governo e fugia da ilha. Trinta anos depois de sua morte na Bolívia, em 1967, o icônico "Che" foi enterrado com honras em uma cerimônia em Santa Clara liderada por Fidel Castro.

A relação entre Castro e Guevara foi tão próxima que Castro chegou a admitir que sonhava com ele anos depois de sua morte.

"O tempo passa e às vezes você sonha com o companheiro que morreu, e o vê vivo, e conversa com ele", disse em uma entrevista com Ignacio Ramonet, publicada no livro Cien horas con Fidel.

As cinzas de Castro serão depositadas finalmente no dia 4 de dezembro no cemitério de Santa Ifigenia em Santiago de Cuba, onde descansam os restos do também mítico José Martí, herói da independência cubana.

A última viagem de Fidel Castro é carregada de simbolismo. Em 1959, um enérgico líder guerrilheiro de 32 anos saiu de Santiago de Cuba rumo a Havana, onde proclamou a vitória da Revolução que derrubou o ditador Fulgencio Batista.

Na quarta-feira, seus restos percorreram um longo caminho ao contrário por boa parte do país que Fidel transformou com fórmulas de inspiração soviética e em aberto desafio aos Estados Unidos.

Incerteza

A morte de Fidel reaviva as perguntas sobre o futuro do socialismo em Cuba, e das relações com os Estados Unidos agora que Donald Trump assumirá a Casa Branca.

O modelo da economia planejada fez água com o colapso do bloco comunista, e hoje Raúl Castro executa uma cuidadosa abertura ao trabalho privado e ao investimento estrangeiro, enquanto incentiva uma histórica aproximação com Washington.

O irmão caçula de Fidel assumiu o poder em 2006 a partir de uma doença intestinal que obrigou o máximo dirigente da Revolução a soltar as rédeas do país. A grande pergunta é o que vai acontecer a partir de 2018, quando o presidente Raúl Castro, de 85 anos, deixar o poder, assim como prometeu.

"De muitas maneiras, a morte de Fidel simbolicamente marca o fim de uma era e o início de uma era pós-Castro, uma vez que Raúl também se retire da vida pública. Sem a sombra de seu irmão mais velho, Raúl pode se sentir mais livre para colocar em andamento as modestas reformas que iniciou na última década", comentou à AFP Jorge Duany, diretor do Cuban Research Institute.

Entre elas a aproximação com os Estados Unidos. Mas Trump ameaçou cancelar o processo de aproximação com Cuba, a menos que a ilha aceite negociar um "acordo melhor", ou seja, atender as exigências de maior abertura econômica e em matéria de direitos humanos.