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Primeiro-ministro da Itália renuncia após derrota em referendo

05/12/2016 06h00

Roma, 5 dez 2016 (AFP) - O primeiro-ministro italiano Matteo Renzi renunciou ao cargo depois da derrota no domingo em um referido sobre a reforma constitucional, que os italianos rejeitaram de forma "clara", admitiu o próprio líder político, que chegou ao poder com grandes promessas de mudanças.

"Assumo a responsabilidade pela derrota. Minha experiência como chefe de Governo termina aqui", afirmou Renzi, emocionado, em uma entrevista coletiva poucas horas depois do fim da votação.

"O 'não' venceu de forma clara", admitiu.

De acordo com o apuração de quase todas as urnas, em um boletim divulgado às 3H00 (0H00 de Brasília), o 'não' recebeu 59,66% dos votos.

"Amanhã apresentarei minha renúncia", antecipou o líder do Partido Democrático, que deverá entregar sua carta de demissão ao presidente do país, Sergio Mattarella

Com a renúncia de Renzi, de 41 anos, que estava no poder desde 2014, a Itália entra em um período de crise política que pode ter repercussões sobre a economia da União Europeia (UE).

O índice de participação foi elevado, de quase 70% entre os 50 milhões de italianos registrados para votar, em um referendo que Renzi transformou em plebiscito pessoal.

Reforçado pela onda populista que resultou na vitória do Brexit no Reino Unido e de Donald Trump nos Estados Unidos, o líder do partido contrário ao sistema Movimento 5 Estrelas, o comediante Beppe Grillo, um dos grandes vencedores do dia, pediu eleições antecipadas.

"Adeus Renzi, os italianos devem votar o mais rápido possível", escreveu em seu blog.

"É uma lição para para todos: não se pode mentir ao povo sempre e não sofrer as consequências", escreveu no Twitter.

Para este referendo não era necessária uma participação mínima, como acontecera em outras ocasiões o que torna o resultado vinculante.

A proposta de Renzi de mudar a Constituição de 1948 com uma drástica redução dos poderes do Senado, com o objetivo de facilitar a governabilidade e acelerar o processo legislativo, não convenceu a maioria dos italianos.

Renzi queria o fim do atual sistema parlamentar, o chamado "bicameralismo perfeito", que concede o mesmo poder à Câmara dos Deputados e ao Senado, e a redução do número de senadores, de 300 para 100, o que transformaria esta Casa em uma espécie de Câmara territorial.

"Cometeu um erro ao personalizar o referendo", comentou o articulista Peter Gómez, do jornal Fatto Quotidiano, um dos maiores opositores da reforma.

- Renzi contra todos -A maioria da classe política, da extrema-esquerda à extrema-direita, e inclusive críticos da própria formação de Renzi, o Partido Democrático (PD), celebraram a rejeição à reforma que, segundo eles, colocaria muito poder nas mãos do chefe de Governo.

Minutos após a divulgação das primeiras pesquisas, o líder da xenófoba Liga Norte, Matteo Salvini, entre os defensores do "não", assim como representantes de centro-direita da Força Itália, partido de Silvio Berlusconi, pediram eleições antecipadas.

"Foram derrotados os grupos de poder", comentou o porta-voz do Força Itália, Renato Brunetta

A campanha sobre a reforma acirrou os ânimos e dividiu o país.

A reforma de Renzi foi muito criticada por intelectuais de prestígio e especialistas na Constituição, que consideravam as novas medidas um "retrocesso democrático", de tom "autoritário".

Muitos eleitores rejeitaram o método utilizado por Renzi para tentar reformar a Carta Magna, um texto que muitos consideram sagrado, redigido em 1948, após a Segunda Guerra Mundial e os 20 anos de governo fascista, e que teve como objetivo evitar o surgimento de outro ditador como Benito Mussolini.