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Ônibus entram em Aleppo para reiniciar a retirada do último reduto rebelde

18/12/2016 10h51

Aleppo, Síria, 18 dez 2016 (AFP) - Dezenas de ônibus começaram a entrar neste domingo no último reduto rebelde da cidade síria de Aleppo para retomar a retirada de milhares de civis e combatentes insurgentes, que aguardam com fome e medo.

"Os ônibus começaram a entrar nos bairros de Zabdiye, Salaheddin, Al Mashad e Al Ansari no leste de Aleppo sob a supervisão do Crescente Vermelho e do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para retirar os terroristas que restam e suas famílias", informou a agência oficial síria Sana.

O regime utiliza a palavra "terrorista" para fazer referência aos rebeldes.

A retirada de Aleppo foi interrompida na sexta-feira por divergências sobre o número exato de pessoas que deveriam deixar Fua e Kafraya, duas localidades xiitas controladas pelo regime e cercadas pelos rebeldes na província vizinha de Idlib, noroeste da Síria.

Segundo o acordo alcançado entre Turquia, que apoia os rebeldes, e Rússia e Irã, aliados do regime, esta retirada deveria coincidir com a de Aleppo. Mas os rebeldes aceitaram permitir a saída de 1.500 pessoas de Fua e Kafraya, enquanto Teerã reclama a saída de 4.000.

Uma fonte militar confirmou neste domingo à AFP a entrada em vigor de um novo acordo e, segundo a televisão estatal, 100 ônibus participarão no processo de retirada de Aleppo.

- Saída em duas etapas -Uma fonte rebelde confirmou um novo acordo para a saída de civis de Aleppo, Fua e Kefraya em duas etapas.

"Em uma primeira etapa, metade das pessoas cercadas em Aleppo devem sair, paralelamente à retirada de 1.250 pessoas de Fua", explicou.

Em seguida, "outras 1.250 pessoas de Kefraya sairão ao mesmo tempo que os demais habitantes de Aleppo", disse.

E, por último, outros 1.500 indivíduos abandonarão Fua e Kefraya, enquanto o mesmo número de pessoas deve sair de Zabadani e Madaya, duas cidades rebeldes cercadas pelo regime na província de Damasco.

Em Aleppo, milhares de civis passaram a noite entre os destroços dos edifícios, à espera do transporte. Sem água ou comida, esgotados, sobrevivem comendo tâmaras.

No último hospital do setor rebelde, o clima era de apreensão. Enfermos e feridos estavam encostados no chão, não havia água ou comida e o edifício contava com um aquecimento mínimo, apesar da temperatura de seis graus abaixo de zero durante a noite.

O fisioterapeuta Mahmud Zaazaa disse que restavam apenas "três médicos, um farmacêutico e três enfermeiros" na zona.

- ONU preocupada -O Conselho de Segurança da ONU votará neste domingo a proposta francesa de enviar observadores à cidade síria de Aleppo para supervisionar a retirada de civis e informar sobre sua proteção.

O Conselho se reunirá às 11H00 locais (14H00 de Brasília) para examinar o rascunho de resolução apresentado pela França, apesar da oposição da Rússia, aliada do governo sírio e que tem poder de veto no organismo.

O texto divulgado pela França afirma que o Conselho se declara "alarmado" pela crise humanitária nesta cidade e pelo fato de que "dezenas de milhares de habitantes sitiados em Aleppo" precisam de ajuda de emergência e ser retirados da localidade.

Neste domingo, o secretário-geral da Otan defendeu a decisão da organização de não intervir na guerra na Síria.

"Na Síria está acontecendo uma catástrofe humana horrível. Às vezes é oportuno um deslocamento militar, como no Afeganistão", disse Jens Stoltenberg ao jornal alemão Bild am Sonntag.

"Mas às vezes os custos de uma operação militar são maiores que os benefícios. No caso da Síria, os sócios da Otan chegaram à conclusão de que um deslocamento militar teria apenas agravado uma situação terrível, talvez estendendo o conflito a toda região", completou.

Desde o início em 2011, a guerra na Síria deixou mais de 310.000 mortos e provocou o deslocamento de metade da população.

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