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Como a Rússia tentou fragilizar Hillary e ajudar Trump, segundo a inteligência dos EUA

Hillary Clinton e Donald Trump no segundo debate presidencial nos EUA - Jeff Roberson/AP
Hillary Clinton e Donald Trump no segundo debate presidencial nos EUA Imagem: Jeff Roberson/AP

07/01/2017 13h47

O relatório das agências americanas de inteligência divulgados na sexta-feira (6) revela que a Rússia tentou desprestigiar a candidata democrata Hillary Clinton e ajudar Donald Trump a vencer as eleições presidenciais 8 de novembro.

Para o FBI, a CIA e a NSA, as três grandes agências de espionagem dos Estados Unidos, o presidente Vladimir Putin e o governo russo "desenvolveram uma clara preferência pelo presidente eleito Donald Trump", que, durante a campanha, fez comentários favoráveis ao líder russo

O objetivo da Rússia com essa campanha era "minar a confiança no processo democrático americano, denegrir a ex-secretária de Estado Hillary Clinton e danificar sua capacidade de ser eleita e sua potencial presidência", segundo o documento apresentado.

O relatório tornado público, baseado em uma versão mais detalhada apresentada tanto ao presidente Barack Obama como ao presidente eleito Donald Trump, não contém informações novas que apontem para a responsabilidade de Moscou na pirataria contra o Partido Democrata.

Mas apresenta publicamente, pela primeira vez, um argumento claro de que o Kremlin escolheu um lado na contenda eleitoral americana, inclusive mesmo que não pretenda demonstrar que Putin conseguiu influenciar no resultado do que foi uma disputa acirrada.

Acusações-chave

O informe afirma "com grande confiança" (ou seja, com "informação de qualidade de várias fontes") que o próprio Putin "ordenou uma campanha de influência" para denegrir Hillary e impulsionar Trump.

A campanha buscou, segundo o texto, socavar a ordem liberal internacional liderada por Washington e expor a "hipocrisia" dos Estados Unidos ao envergonhar o Kremlin depois do vazamento dos chamados "Panama Papers". Além disso, Putin guardava um rancor pessoal em relação a Hillary, segundo o documento, já que a culpava de fomentar protestas contra de seu governo em 2011, quando era chefe da diplomacia americana.

A campanha foi, segundo o relatório, "multifacetada", incluindo métodos encobertos como pirataria informática e outros abertos como propaganda mediática e "trolls" que receberam dinheiro nas redes sociais.

- Como fizeram -Segundo o texto, desde julho de 2015 e ao menos até julho de 2016, o GRU, o serviço militar russo de inteligência, hackeou contas de e-mails de dirigentes do Partido Democrata.

Essa informação, em parte vergonhosa ou comprometedora para seus autores, foi vazada através dos sites WikiLeaks, Guccifer 2.0, DCLeaks.com e outros intermediários.

Desde 2014, hackers russos revisaram sistemas usados pelas juntas eleitorais dos Estados Unidos, mas o departamento de Segurança Interna afirma que não conseguiram invadir a plataforma de contagem de votos.

O aparato midiático estatal da Rússia, especialmente seus meios de comunicação em inglês - a tv Russia Today e a plataforma web Sputnik - colocaram em andamento uma campanha de propaganda.

O Kremlin também contratou um exército de "trolls" pagos e simpatizantes que inundaram as redes sociais com posts e comentários elaborados para prejudicar Hillary e beneficiar Trump.

Tanto os meios oficiais como os "trolls" difundiram em alguns casos notícias falsas ou manipuladas, e outras histórias negativas para Hillary.

Trump aponta erros 

Trump criticou o relatório, recordando os erros da CIA no passado, como sua errônea afirmação de que Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa.

A versão divulgada pouco revela sobre os métodos de contraespionagem ou as fontes usadas, mas apresenta um quatro claro do desejo de Putin de uma vitória de Trump através de fontes abertas, incluindo funcionários russos e jornalistas.

Por que Putin queria Trump?

O relatório sugere que Putin encontrou em Trump alguém mais propenso a aceitar um acordo militar no Oriente Médio em que as forças russas e americanas pudessem trabalhar juntas contra os radicais do grupo Estado Islâmico.

Historicamente, a Rússia gosta de trabalhar com líderes ocidentais, cujos interesses econômicos tornam provável que se gere uma boa relação, como aconteceu com o italiano Silvio Berlusconi e o alemão Gerhard Schroeder.

E, segundo o relatório, a Rússia procurou manchar o símbolo da democracia dos Estados Unidos por temor de que a expansão dos ideais americanos pudesse socavar controle do Kremlin sobre os cidadãos russos.