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Gorro de lã rosa com orelhas de gato vira símbolo do protesto contra Trump

Angie Paulson mostra o "pussy hat", símbolo dos protestos das mulheres contra Trump, em Saint Paul, Minnesota - Angie Paulson/AP
Angie Paulson mostra o "pussy hat", símbolo dos protestos das mulheres contra Trump, em Saint Paul, Minnesota Imagem: Angie Paulson/AP

Em Nova York

19/01/2017 15h47

A nova-iorquina Wendy Peace deixa rolar uma lágrima enquanto acelera a confecção de um gorro rosa de tricô que, assim como outras milhares de pessoas, vai usar no sábado na Marcha das Mulheres, que será realizada em Washington, DC.

"É muito mais que um símbolo contra Donald Trump, é um símbolo de nossa união e um apelo à ação em defesa de nossas conquistas", explica.

Assim como Peace, milhares de mulheres americanas tecem em todo o país, em uma fraternidade improvisada, que já produziu mais de 60.000 gorros de lã rosa para a grande marcha programada para Washington no dia seguinte à posse do republicano Donald Trump.

Tudo começou quando duas costureiras da Califórnia lançaram um apelo na internet para a confecção de gorros com orelhas de gato para criar "uma identidade visual coletiva e única" na marcha. A resposta foi maciça.

Os gorros ou "pussy hats", como são chamados em inglês, têm orelhas de gato: é um trocadilho, porque a palavra inglesa "pussy" tanto pode significar gatinho quanto a forma pejorativa de se referir ao órgão sexual feminino.

A palavra faz referência direta a um áudio de 2005 vazado durante a campanha eleitoral em que o futuro presidente, conhecido por sua retórica controversa e divisionista, afirma que "quando você é uma estrela, (as mulheres) deixam você fazer o que quiser. Pode agarrá-las pela buceta".

A organização do chamado "PussyHatProject" (www.pussyhatproject.com), liderada por Krista Suh e Jayna Zweiman, declarou ter recebido mais de 60.000 gorros para a passeata, da qual devem participar estrelas como Katy Perry, Julianne Moore, Cher e Scarlett Johansson.

UnidasNa The Knitty City, uma acolhedora loja de produtos de lã em Manhattan, cerca de vinte mulheres já usam o gorro rosa e confeccionam sem parar mais acessórios para outras manifestantes.

Como a maioria dos nova-iorquinos, várias destas mulheres apoiaram nas urnas a adversária de Trump, a democrata Hillary Clinton, que perdeu a oportunidade de se tornar a primeira mulher a presidir os Estados Unidos.

"Eu vim para pegar um gorro. Mas, quando vi a energia neste local, decidi ficar, mesmo não sabendo tecer. Elas estão me ajudando", explica à AFP Peace, uma atriz que não quer revelar sua idade, enquanto mais mulheres - e um homem - não param de entrar na loja para pedir gorros.

"É muito emocionante (...) e é muito importante para mostrar ao próximo governo que estamos unidas", acrescenta.

Aliviar a raiva"Esperamos um mar de gorros rosa" no protesto em Washington e também nas marchas a ser realizadas em muitas outras cidades, incluindo Nova York, afirma Maxine Levinson, professora na The Knitty City há vários anos.

"O trabalho é uma forma de aliviar a ansiedade, a raiva. Te fornece uma conexão com sua comunidade, é muito terapêutico", explica esta mulher de 68 anos e que já teceu 15 gorros.

Para Levinson, o acessório não é um símbolo contra a Trump, mas pretende "dizer ao governo que ele não pode tirar os direitos que já conquistamos".

"E não só queremos o que temos, mas vamos lutar por mais. Não temos igualdade de remuneração, e queremos cobertura de saúde, não queremos que o governo nos diga o que fazer com nossos corpos, nós queremos direitos para os imigrantes, queremos o direito ao sufrágio", lista.

As organizadoras especificam o design do gorro e o tipo de material a ser usado, como uma lã fúcsia da empresa familiar uruguaia Malabrigo, que está esgotada.

Mas a criatividade ultrapassa os limites, como evidenciado nas redes sociais. Muitas têm adaptado o modelo, com gorros em tons que vão do rosa chá ao violeta, misturado às vezes com o preto.

Cecile Helgesen, de 49 anos, tece gorros com a filha Scarlett, de 10 anos. As duas vão participar da grande marcha de Washington.

"Para mim é importante que Scarlett saiba que há muitas mulheres que a apoiam - eu, sua avó -, e que juntas, em grupo, somos muito mais que um homem só", afirma Helgesen.

Tecer "te faz relaxar, te ensina a fazer algo por si mesma, a ter resistência e ser independente. São habilidades que Scarlett precisará nesses quatro anos ou, que Deus nos livre, nos próximos oito", conclui.