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Companhias aéreas impedem embarque de cidadãos de sete países aos EUA

Muçulmana aguarda família desembarcar no aeroporto JFK, em Nova York - Andrew Kelly/Reuters
Muçulmana aguarda família desembarcar no aeroporto JFK, em Nova York Imagem: Andrew Kelly/Reuters

28/01/2017 20h56

As companhias aéreas começaram a recusar, neste sábado, o embarque de cidadãos de sete países para os Estados Unidos, horas depois de o presidente americano, Donald Trump, proibir a entrada de viajantes procedentes de Irã, Iraque, Líbia, Síria, Somália, Sudão e Iêmen.

Na primeira reação enérgica contra a medida da Casa Branca, o governo iraniano a qualificou de "insultante" e neste sábado, anunciou medidas de reciprocidade e a proibição de entrada de cidadãos americanos em seu território.

O decreto americano foi assinado por Trump sob o pretexto de combater os "terroristas islâmicos radicais".

A companhia Qatar Airways informou a seus passageiros que os cidadãos dos sete países afetados pela decisão de Washington só poderão embarcar se forem residentes permanentes nos Estados Unidos.

Em Teerã, veículos de comunicação reportaram muitos casos de iranianos, cujo embarque para os Estados Unidos foi rejeitado. Em Viena, pelo menos três iranianos não puderam embarcar para o país, segundo um porta-voz da Austrian Airlines.

Encarregados de duas agências de viagem disseram ainda ter recebido instruções das companhias Emirates, Etihad e Turkish Airlines de recusar a venda de passagens inclusive para cidadãos iranianos com visto de entrada nos Estados Unidos.

Uma jovem iraniana que estuda administração na Califórnia disse à AFP sob a condição de ter a identidade preservada que sua "passagem (de volta para os EUA) na Turkish com data para 4 de fevereiro foi cancelada".

Teerã e Washington romperam relações diplomáticas há 37 anos, mas segundo estimativas iranianas, um milhão de jovens deste país estudam nos Estados Unidos. Além disso, muitos iranianos viajam regularmente para visitar familiares que emigraram.

No Cairo, um casal de iraquianos e seus dois filhos, todos com vistos para os Estados Unidos, foram barrados em um voo da EgyptAir, com o argumento das novas normas migratórias, indicaram à AFP fontes aeroportuárias.

Fuad Sharef, que trabalha na indústria farmacêutica, teve que voltar a Erbil, no Curdistão iraquiano. "Vendi a minha casa, meu carro, meus móveis. Minha mulher e eu deixamos nossos empregos", contou à AFP. O casal tinha planejado se instalar no Tennessee, no sul dos Estados Unidos, após ter recebido visto.

"Donald Trump arruinou a minha vida", disse, afirmando que, em certo momento, pôs "sua vida em risco por trabalhar com os americanos".

Primeiras ações judiciaisVárias associações de defesa dos direitos civis acionaram neste sábado, em território americano, o decreto de Trump, após a detenção de dois iraquianos no aeroporto de Nova York.

Mohamed Eljareh, um pesquisador líbio que trabalha para o centro de análises Atlantic Council, teme que o texto assinado por Trump afete pessoas que viajam regularmente aos Estados Unidos para fins de trabalho ou estudo.

"É provável que esta disposição impacte os estudantes líbios nos Estados Unidos e seus familiares, e também os pesquisadores com vínculos com universidades americanas", disse.

O decreto só exclui cidadãos com visto diplomático ou os que trabalham com estatutos similares, como por exemplo funcionários de organizações multilaterais como o Banco Mundial.

O decreto assinado por Trump também proíbe a entrada de mais refugiados sírios nos Estados Unidos. Este país recebeu 18.000 refugiados desta origem desde 2011.

"Somos refugiados. Qual é o problema de entrarmos legalmente nos Estados Unidos? O que fizemos?", lamentou Ibtissam Youssef al-Faraj, uma mãe de família síria de 41 anos em um campo de refugiados de Bekaa, no Líbano.

O ministério das Relações Exteriores sudanês "lamentou" a decisão e condenou que tenha sido tomada dias após a suspensão "histórica" de sanções econômicas ao país africano.

Em 13 de janeiro, o então presidente americano, Barack Obama, tinha anunciado a suspensão parcial das sanções ao constatar "progressos" da parte de Cartum, acusada no passado de apoiar grupos islâmicos armados.