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Le Pen e Macron, dois candidatos opostos que prometem uma França mudada

Os candidatos Marine Le Pen e Emmanuel Macron disputam a Presidência da França - Eric Feferberg/ AFP
Os candidatos Marine Le Pen e Emmanuel Macron disputam a Presidência da França Imagem: Eric Feferberg/ AFP

06/05/2017 07h26

Apesar de ambos disputarem o termo "patriota" e se apresentarem como "o candidato da renovação política" em um país ávido por mudanças, o europeísta Emmanuel Macron e a nacionalista Marine Le Pen propõem aos franceses um futuro diametralmente oposto.

Macron, desconhecido do grande público até poucos anos, criou o movimento "Em Marcha!" para a primeira campanha eleitoral de sua vida. Marine Le Pen, que herdou o partido Frente Nacional de seu pai, personificou seu próprio movimento "Rassemblement Bleu Marine" ("União Azul Marinha") para conquistar o poder.

Em um país que atravessa uma crise de identidade com uma alta taxa de desemprego e uma ameaça terrorista latente como pano de fundo, ambos reivindicam ser "patriotas".

Le Pen, uma advogada de 48 anos, afirma ser a candidata dos "patriotas contra os globalistas".

Macron, um ex-banqueiro de 39 anos, apresenta-se como o "candidato dos patriotas contra os nacionalistas". Seu lema: "Juntos, França!".

Em seus comícios, partidários agitam entusiasticamente a bandeira francesa, enquanto o hino nacional (La Marseillaise) encerra seus discursos.

Ambos os candidatos citam com frequência o general Charles de Gaulle, herói da resistência francesa durante a ocupação nazista, exaltando a história da França, sua cultura e suas glórias.

E os dois pedem o fim da alternância no poder entre as duas grandes famílias políticas, os socialistas e os gaullistas, que dominam a política francesa há mais de meio século.

No primeiro turno da eleição, em 23 de abril, surpreenderam ao eliminar da corrida presidencial a direita (Os Republicanos) e a esquerda (Partido Socialista).

Os dois candidatos alegam ser "antissistema", mas seus adversários os acusam de ser "herdeiros".

Macron é apontado de querer continuar com a política do atual governo socialista, do qual fez parte por dois anos como ministro da Economia, e Le Pen, de perpetuar a obra política de seu pai.

'Davi contra Golias'

A eurodeputada, que assumiu a batuta de seu pai em 2011 na direção da Frente Nacional, está presente na vida política francesa há mais de 15 anos.

Formada nas grandes escolas da elite francesa, Macron deu seus primeiros passos na política em 2012, como conselheiro do presidente socialista François Hollande, de cujo governo tornou-se ministro da Economia (2014-2016).

Enquanto Macron defende uma "Europa que protege", Le Pen quer negociar com Bruxelas a saída do país do espaço Schengen e propõe um referendo sobre a permanência na União Europeia.

Le Pen proibiria o véu islâmico e o "burkini" em espaços públicos, Macron não. A direitista quer abolir uma lei que liberaliza o código de trabalho, Macron não.

Na campanha entre os dois turnos, onde o tom subiu um grau, Marine Le Pen disse ser como "Davi contra Golias", frente a um candidato apoiado por uma "velha frente republicano podre".

Seu rival prometeu que não deixaria "um centímetro de espaço, nem um segundo de descanso, nem um pingo de energia" a Marine Le Pen.

O discurso de Macron, que defende o liberalismo econômico e social, seduz sobretudo os jovens urbanos, as classes médias e os círculos empresariais.

O discurso anti-imigração e anti-europeu de Marine Le Pen atrai as classes populares, a população rural, os esquecidos da globalização e capitaliza os franceses vítimas de um desemprego endêmico.

A atmosfera em seus comícios também é completamente diferente. Ele defende uma "França aberta" à qual quer devolver o "otimismo", enquanto ela promete responder o medo ligado à imigração, ao Islã e à segurança para "defender nossa civilização".

Os partidários de Marine Le Pen falam de "demonstrações de força", vaiam seus adversários e cantam "nós estamos em nossa casa".

Emmanuel Macron, sem perder o sorriso, vê em seus seguidores uma "demonstração de inspiração" e adverte seus militantes: "Meus amigos, aqui não vaiamos ninguém."